Para os fundos de pensão, empresas familiares e fundos de private equity, as fazendas da África
subsaariana são sinônimo de bonança. A oferta é limitada devido à
infraestrutura precária e à baixa cobertura da rede de transportes, mas, para
os mais corajosos, os retornos de longo prazo podem valer a pena.
Grandes investidores já colocaram dinheiro em países como
Zâmbia, Tanzânia e Quênia, onde é possível obter rentabilidade de 15% a 20% em
cinco a sete anos.
Na Inglaterra, as terras cultiváveis já atraíram muito interesse
na década de 70. Em seguida, foi a vez da Dinamarca e Irlanda. Contudo, as
terras inglesas tornaram-se demasiadamente onerosas, chegando a custar $25.575
por hectare, um aumento de 27% em dez anos. Em contrapartida, na Zâmbia, o valor
do hectare é de apenas $1.800.
O continente africano possui a maior proporção de terras
cultiváveis do mundo - 1,2 milhões de hectares e 94,5 mil fazendas, embora
apenas uma parcela desse total seja passível de investimento.
“A África subsaariana é a última fronteira de desenvolvimento do
mercado comercial”, explica James Cairns, agente internacional da imobiliária Savills.
“A região permite aos investidores adquirir terras por um preço reduzido,
tornando-os pioneiros na criação de novas áreas cultiváveis e desenvolvendo
operações de larga escala praticamente a partir do zero.” Tanto a rentabilidade
quanto o crescimento do capital subjacente, resultado da melhoria das
infraestrutura das fazendas, bem como o aumento de longo prazo no valor das
terras, são pontos de interesse para o investidor.
A região sudeste da África possui extensões de terras
disponíveis suficientes para atender ao aumento do apetite global por carne,
seja no ambiente doméstico ou internacional, argumenta Cairns. “Os fundos
mudaram a forma de enxergar suas carteiras, abandonando estruturas complexas de
investimento em prol de ativos reais e tangíveis”, acrescenta o especialista.
A Zâmbia é o mercado mais desenvolvido a atrair o interesse do
investidor no momento, uma vez que goza de relativa estabilidade política e
espaço para a criação de fazendas destinadas à agricultura e à pecuária de até 20
mil hectares. O valor do hectare em países como a Zâmbia encontra-se fortemente
associado à infraestrutura, incluindo-se aí os projetos de irrigação, por
exemplo. Outros fatores que ajudam a valorizar as propriedades são os canais de
escoamento e fontes de energia disponíveis, assim como a sua proximidade a
mercados de recursos naturais.
Um subproduto da indústria de mineração da região é o
desenvolvimento da indústria hoteleira. O provável surgimento de atividades turísticas
como excursões e safaris deverão agregar valor às terras à medida em que houver
potencial para a construção de hotéis e/ou a criação de reservas naturais.
A compra direta com fazendeiros locais e comunidades tribais é a
opção mais barata, mas os riscos são altos. Segundo o assessor-chefe de
informações da gestora Duxton, Des Sheehy, o mercado africano possui três níveis:
os agricultores de subsistência, os pequenos fazendeiros comerciais e grandes
propriedades de escala industrial.
A Duxton investe no nível intermediário em países como Tanzânia,
Zâmbia e Quênia, e Sheehy fala dos negócios de forma bastante direta: “Não
estamos investindo dinheiro para produzir alimentos ou ajudar as pessoas na
África. Investimos para gerar retornos aos nossos clientes. Entretanto, dentre
as consequências de nossas aplicações estão a produção de alimentos e o aumento
da segurança alimentar e, ao mesmo tempo, a transferência de expertise ao mercado local.” Benefícios
similares são proporcionados pelas cervejarias Miller e Diageo que, ao
produzirem bebidas em larga escala em países como a Nigéria, ajudam a estimular
o comércio local, desenvolver a infraestrutura e gerar empregos no continente.
A responsabilidade
social é, de fato, um dos principais obstáculos aos investimentos por parte de instituições
financeiras na África. “Tais investimentos colocam essas instituições sob os
holofotes; assim, muitas preferem abrir mão de oportunidades no continente,
abstendo-se da produção de alimentos para a população local, sob pena de serem
criticadas por não atenderem às expectativas da sociedade. Para muitos
investidores, o risco moral de investir na África é alto demais”, conclui
Sheehy.
The Telegraph