A maioria das pessoas planeja o quanto vai gastar na aposentadoria com base em sua idade cronológica. Mas em um futuro não muito distante, elas poderão utilizar como parâmetro algo completamente diferente: a idade biológica. Por quê?
“A verdadeira idade de uma pessoa
não depende do calendário” diz Moshe Milevskya, professor da Universidade de
York e coautor da recém-publicada pesquisa “Retirement
Spending and Biological Age”. “A idade biológica aumenta segundo uma variável
estocástica não-linear à idade cronológica, algo comparável a um relógio que
ocasionalmente retrocede no tempo.”
Inspirado
por uma corrente médica que ganha força e que identificou biomarcadores de
envelhecimento, os quais oferecem melhores estimativas sobre o quão velho o individuo
realmente é, Milevsky e seus colegas procuraram determinar o quanto os
aposentados podem gastar na aposentadoria dada a sua idade biológica e não
cronológica.
“Não
é descabido argumentar que, num futuro tecnológico não muito distante, a idade individual
será mais estreitamente associada ao tempo biológico do que ao calendário ou ao
tempo.”
O que mais Milevsky tem a dizer
sobre o estudo e suas implicações? Fizemos uma pequena entrevista com o autor:
Na
pesquisa, você argumenta que a idade biológica não é suficiente para tomar
decisões econômicas, e que são necessárias informações tanto sobre a idade
biológica quanto cronológica para que possamos decidir racionalmente. Por que?
Colocando
de maneira simples, se você tiver 85 anos e o seu médico disser que você
“parece ter 70 anos”, ele estará lhe dando uma ótima notícia. Mas se você tiver
50, a opinião do médico será péssima. Em outras palavras, você precisa saber
quantos anos tem biológica e cronologicamente a fim de ter uma real ideia da sua
situação - e poder tomar decisões adequadas sobre os seus gastos.
Você
sugere que se os aposentados tivessem acesso a um dispositivo com sua idade
biológica em tempo real, seria possível saber como consumir os ativos previdenciários
de forma mais consistente com um modelo de ciclo de vida racional. O que isso
significa?
Todo
mundo conhece a regra dos 4%, que consiste numa sugestão ou recomendação sobre
quanto gastar na aposentadoria. Essa regra tem que ser atualizada dependendo da
idade que você tem - obviamente - já que quanto mais tarde você se aposentar,
na ausência de algum evento extraordinário, mais dinheiro você terá para
gastar. O que estamos dizendo é que esta regra deve e pode ser modificada com
base na idade biológica ao invés da idade cronológica. Muito em breve você
estará usando um adesivo, telefone ou camisa que lhe dirá quão velho seu corpo
é realmente e nós queremos estar preparados para, quando esse tempo chegar, nos
tenhamos algoritmos que (também) nos digam o quanto economizar, gastar e
investir baseado na idade verdadeira de cada um.
O
que os aposentados e pré-aposentados devem ou não fazer com sua poupança de
aposentadoria já que eles não têm acesso a um dispositivo que lhes diga a sua
idade biológica em tempo real? Os aposentados devem gastar, consumir, sacar
seus ativos com base em sua expectativa de vida?
Nossa
pesquisa é voltada para o futuro e talvez até tenha um caráter aparentemente especulativo
neste momento, mas acho que os consultores financeiros devem ter ao menos uma
ideia da idade verdadeira, ou biológica, de seus clientes antes de darem
qualquer aconselhamento. Nesta era do “dever fiduciário” em que vivemos, parte
do processo é estimar a idade corretamente. Embora os dispositivo sobre os
quais falei ainda não estejam disponíveis, os profissionais podem fazer uso de exames
de sangue ou mesmo questionários médicos. Mas esse futuro chegará mais rápido
do que você imagina.
Que outros conselhos você teria
para os pré-aposentados e aposentados, dadas as conclusões do estudo?
De
maneira geral, defendemos uma abordagem mais econômica para os saques e gastos
de aposentadoria. Uma abordagem que não dependa tanto da maximização de
probabilidades, mas do trade off
entre gastar mais cedo (mais) ou mais tarde (menos) na aposentadoria. Se houver
apenas 5% de chance de você viver a ponto de se tornar um centenário, quanto do
seu dinheiro quer reservar caso isso aconteça? Isso é algo que qualquer pessoa
que se aposente deve se perguntar mais cedo ou mais tarde.
USA Today