O democrata liberal Kozo
Yamamoto, que chefia a missão responsável pela reforma do fundo de pensão do
governo do Japão (US$ 1,275 trilhões
sob gestão), conversou com o Wall Street Journal sobre a necessidade de
mudanças, as perspectivas para o mercado acionário e a forma como pretende que
o fundo compre ações de forma direta.
WSJ: Para inicio de conversa, porque reformar o Government Pension Investment Fund (GPIF)?
Yamamoto: A reforma do GPIF não se resume às ações.
Trata-se de angariar esforços para que as reservas previdenciárias não diminuam
no futuro. O mercado acionário nada tem a ver com isso.
WSJ: As pessoas esperam que o GPIF aumente a alocação em
renda variável?
Yamamoto: Se não fizermos isso, não será possível dar
segurança às reservas previdenciárias. Se dependermos exclusivamente dos
títulos públicos japoneses, as reservas irão se exaurir, o que não deve acontecer
caso aumentemos a alocação em ações e títulos estrangeiros.
WSJ: De acordo com a legislação, o GPIF está
impossibilitado de comprar ações diretamente. Devemos esperar por mudanças na
lei?
Yamamoto: O GPIF não possui o nível adequado de expertise no momento, mas devemos nos
aprimorar nesse quesito enquanto continuamos contando com o auxílio de gestores
de ativos. Dessa forma, no futuro, teremos condições de fazer compras diretas.
No exterior, todos os fundos já o fazem. É insano pagar as taxas cobradas pela gestão
terceirizada de ativos. Vemos os fundos dependerem dos gestores terceirizados
por um tempo limitado até que aprendam o suficiente para gerir os ativos
sozinhos posteriormente.
WSJ: Por que as ações não estão subindo?
Yamamoto: Há diversos riscos geopolíticos no momento:
tensões na Ucrânia, no Mar do Sul da China e na própria China e, antes disso,
preocupações com a economia chinesa. As pessoas estão tirando dinheiro desses
lugares. E para onde esse dinheiro está indo? Para notas do Tesouro
estadunidense, fazendo as taxas de juros cair. As pessoas também estão
comprando títulos de dívida de curto prazo do governo japonês, causando a
redução dos retornos e o fortalecimento do iene. Enquanto o iene se fortalece,
o preço das ações não sobe. Quando esses riscos geopolíticos diminuírem, o iene
ficará mais fraco e as ações subirão. Agora é o momento ideal para comprar.
WSJ: Como será a estrutura do novo Government Pension Investment Fund?
Yamamoto: Haverá uma diretoria executiva que terá total
responsabilidade. Abaixo desse colegiado haverá comitês de investimento, gestão
de riscos e governança. A diretoria devera ser composta por seis ou sete
membros. Se houver seis, por exemplo, duas pessoas ficariam responsáveis pelos
investimentos, duas pela gestão de riscos e duas pela governança, de forma a
termos um sistema de controle eficaz. Os comitês tomarão decisões fundamentais
para os rumos do fundo e a organização abaixo deles ficará incumbida da
execução.
WSJ: Quem será o responsável por dar explicações caso
haja alguma perda nos investimentos?
Yamamoto: O ministro da saúde irá fiscalizar o fundo,
embora a responsabilidade direta sobre a performance
dos investimentos seja da diretoria executiva.
WSJ: Quem poderá ser selecionado como diretor do
fundo?
Yamamoto: Haverá um representante da área de negócios, um
representante dos trabalhadores e um representante dos interesses das
províncias, além de outros especialistas.
WSJ: Quando e como serão feitas as mudanças na
legislação?
Yamamoto: Seria melhor ter um projeto de lei elaborado pelo
executivo, uma vez que não podemos depender exclusivamente do letárgico
ministério da saúde. Entretanto, também estamos nos preparando para submeter um
projeto de lei elaborado por juristas, caso isso seja necessário. Eu gostaria
de submeter o projeto ao parlamento ainda neste semestre (que termina em 22 de
junho), mas não há razão para forçar a votação. Por isso, ela só deve acontecer
no outono (do hemisfério norte).
Wall Street Journal