Indubitavelmente, a Austrália
possui um generoso sistema previdenciário. Como rede de proteção para a aposentadoria,
ele é essencial para a defesa da justiça intergeracional, característica marcante
dos australianos. É justamente por esse motivo que costuma haver muita
resistência quando o governo indica a pretensão de limitar o acesso às pensões
por idade ou reduzir reajustes futuros no valor dos benefícios.
De certo
modo, isso é compreensível. Uma nação com a riqueza da Austrália deve garantir
que os cidadãos que trabalharam e pagaram impostos ao longo de suas vidas terão
o tratamento que merecem por parte do governo na idade avançada. Essa
abordagem, contudo, gera vários questionamentos: O mesmo tratamento deve ser
dispensado a todos os aposentados? E quanto àqueles que, por si só, já possuem
uma boa situação financeira? Quão longe deve ir tamanha generosidade?
O Governo
Abbott tem analisado essas questões. Com base na proposta do Conselho
Australiano de Serviço Social (Australian
Council of Social Service) de reduzir o limite de ativos para o acesso ao
sistema previdenciário, o Ministro de Serviços Sociais, Scott Morrison, disse
estar analisando as mudanças com a devida seriedade.
De acordo
com as regras atuais, um casal aposentado pode possuir até $1,1 milhão em
ativos, excluindo-se aí a casa própria, e ainda receber um valor parcial de
benefício. Tal benefício pode ser apenas de alguns poucos dólares quinzenais -
e por isso ser considerado “insignificante” - mas os benefícios adicionais que
o acompanham, como descontos em medicamentos e outras tarifas públicas, custeados majoritariamente pelos
contribuintes, envolvem montantes mais significativos.
Dois
fatores são fundamentais para o sistema previdenciário australiano: o beneficio
deve prover uma rede de segurança realista para aqueles que não possuem uma
poupança própria adequada; e a sua sustentabilidade. Os contribuintes devem
financiar as pensões, devendo, portanto, haver um limite em relação a quanto
eles podem contribuir do seu próprio bolso, sobretudo levando-se em
consideração que a proporção de contribuintes em relação aos aposentados deverá
aumentar consideravelmente nos próximos 40 anos.
A
disposição de Morrison em debater os critérios de elegibilidade mostra o seu
interesse em ajustar o Orçamento levando em conta a questão da equidade.
Trata-se de uma abordagem mais adequada em comparação à última tentativa do
governo. No Orçamento Federal do ano passado, o tesoureiro Joe Hockey lidou com
o assunto de maneira equivocada. Ele procurou indexar as pensões ao IPC ao
invés de tomar como base o crescimento (mais elevado) dos rendimentos médios
semanais. Na ocasião, o Partido Trabalhista argumentou que a medida faria com
que as pensões perdessem, em valor, 80 dólares semanais no período de 10 anos.
É
essencial que a análise do sistema previdenciário considere uma visão mais
ampla da situação. As mudanças não devem ser vistas de forma dissociada dos
sistemas tributário e de fundos superannuation.
O foco deve ser o de encorajar as pessoas a se prepararem para a aposentadoria
por meio do acúmulo de poupança em fundos de pensão privados. Os benefícios
previdenciários estatais devem ser vistos como um plano B para aqueles que
realmente necessitam deles.
O líder
da oposição, Bill Shorten, poderá ver, nessa situação, uma oportunidade para lançar
uma campanha alarmista. Contudo, ele precisa reconhecer que o ritmo de
crescimento atual das pensões por idade não é sustentável em longo prazo. O
Partido Trabalhista deveria participar desse debate ao invés de fechar os olhos
para esse problema iminente.
The West Australian