NO REINO UNIDO, PROJETOS DE INFRAESTRUTURA AINDA TÊM DIFICULDADE PARA ATRAIR FUNDOS DE PENSÃO


Nos EUA, embora exista um consenso de que cerca de US$ 1 trilhão devam ser gastos na melhoria da infraestrutura do país, não parece haver muito acordo a respeito de quem deva pagar a conta.

Os democratas são a favor de que esses gastos sejam do governo federal, os quais seriam financiados pelo aumento dos impostos corporativos. No entanto, o presidente Donald Trump espera atrair recursos de investidores privados. Pode parecer uma ótima ideia, mas as tentativas do governo britânico de fazer uso de financiamento privado para melhorar ou atualizar a sua infraestrutura mostram que é mais fácil falar do que fazer.

Seis anos após o então chanceler do Reino Unido, George Osborne, ter anunciado um projeto emblemático para persuadir os fundos de pensão a investir bilhões de libras em centenas de novos projetos nas áreas de transporte e energia, o que se vê é pouquíssima ação. Na época, Osborne afirmara que o governo havia negociado um acordo com a indústria para “liberar” 20 bilhões de libras para tais projetos. “Precisamos colocar em movimento os muitos bilhões que os britânicos economizam em fundos de pensão, investindo essa poupança em projetos no país”, disse Osborne. “Podemos chamar a iniciativa de ‘poupança britânica para empregos britânicos.”

Mas o empreendimento resultante, batizado de Pensions Infrastructure Platform (PIP), levantou apenas £1 bilhão. A iniciativa, criada sob a tutela da Pensions and Lifetime Savings Association, investiu sobretudo em projetos secundários ao invés de novos projetos ferroviários, rodoviários ou energéticos, conforme previsto por Osborne.

Embora o apetite por projetos de infraestrutura permaneça forte, a maioria dos investidores prefere não investir na fase de construção.

Os investidores institucionais - que incluem fundos soberanos, fundos de pensão, companhias de seguros e gestoras de ativos - preferem ativos já construídos, como aeroportos e estradas com pedágio, que proporcionam fluxos de renda estáveis. Esses investidores costumam ser avessos aos riscos inerentes à fase de construção, já que os custos tendem a ser maiores do que os inicialmente previstos e os atrasos podem reduzir ou até mesmo anular os retornos do investimento.

Os fundos de pensão, em particular, buscam retornos constantes de ativos já “testados” porque são responsáveis ​​pelo provimento de renda de aposentadoria, em alguns casos, de centenas de milhares de participantes.

Mike Weston, CEO do PIP, afirma: “A maioria dos fundos de pensão acredita que suas obrigações são mais bem ‘casadas’ com ativos que já oferecem um fluxo de caixa previsível. Isso significa projetos que já possuem um histórico operacional ou ao menos fluxos de pagamento previsíveis”. 

Richard Threlfall, diretor de infraestrutura da KPMG, concorda que os fundos de pensão costumam fugir de projetos em fase de construção. “Os fundos de pensão do Reino Unido que investem em projetos de infraestrutura no país há anos são apregoados como grandes vencedores, mas as transações reais são quase inexistentes”, diz ele.

“Os investidores institucionais do Reino Unido têm dificuldades porque investir em infraestrutura na fase de construção não é uma transação financeira simples”, acrescenta. “É necessária uma equipe experiente, capaz de analisar e precificar corretamente o risco que está sendo tomado.”

Ainda assim, há exceções. O PIP investiu no novo “super esgoto” de £4,2 bilhões que está sendo construído sob o rio Tâmisa, em Londres, por meio de um fundo administrado pela Dalmore Capital. O projeto tem uma estrutura de financiamento incomum que atraiu os investidores ao dar-lhes um retorno durante o período de construção. Para tal, foi necessária a elaboração de uma legislação nova específica.

Cerca de um terço será pago pelos clientes da Thames Water através do aumento das contas que chegam às residências. O governo está atuando como garantidor do consórcio, subscrevendo os riscos financeiros e de construção.

Há outras iniciativas envolvendo investimentos de fundos de pensão. É cada vez mais comum ver planos de pensão de governos municipais se juntarem a fim de aumentarem a sua capacidade de investir em infraestrutura. Um desses exemplos é o caso de cinco dos maiores planos de pensão de governos municipais da Grã-Bretanha - Lancashire, Merseyside, West Yorkshire, Londres e Greater Manchester - que fizeram um pool de ativos de £ 1,3 bilhão.

Embora esse pool - chamado GLIL - tenha como propósito a concentração em ativos que já estejam em funcionamento, ele assumirá alguns riscos de construção de curto prazo - de até seis meses de duração, por exemplo. Já foram investidos cerca de 250 milhões de libras esterlinas em fábricas de transformação de resíduos, em um parque eólico e na franquia ferroviária East Anglia.

Mesmo com os ativos reunidos, o patrimônio dos planos de pensão dos governos municipais ainda é relativamente pequeno em comparação ao de grandes investidores internacionais de infraestrutura, diz Chris Heathcote, CEO do Global Infrastructure Hub, uma iniciativa do G20 que fornece um banco de dados de projetos governamentais.

Heathcote diz que os fundos de pensão têm tido dificuldade para investir porque muitos não têm acesso a equipes especializadas e caras, necessárias para analisar cada projeto. Ele acredita que os benchmarks criados pelo Global Infrastructure Hub permitirão que os fundos de pensão ao menos encontrem oportunidades de negócios e participem de “debt financing”. “Isso deverá deixar  esses projetos tão complexos mais ao alcance dos fundos de pensão de menor porte”, diz ele.



Financial Times
Tel: 11 5044-4774/11 5531-2118 | suporte@suporteconsult.com.br