Os
altos níveis de dívida do Quênia poderão ser tratados sem prejudicar a execução
de projetos de infraestrutura caso o governo recorra aos bilionários fundos de
pensão do país.
Essa
foi a conclusão de um encontro que reuniu líderes da indústria em Nairobi, na
semana passada, sob a tutela do think-tank
do Banco Africano de Desenvolvimento, o Making
Finance Work for Africa (MFW4A).
Segundo as lideranças presentes no
encontro, os governos africanos deveriam repensar as suas fontes de financiamento,
optando por aquelas que possam mais bem servir aos interesses dos países em
longo prazo.
“Ao manter um fluxo consistente de
recursos externos para fins de 'desenvolvimento', estamos empobrecendo a África
porque esses fundos atraem altas taxas de juros, estando propensos às
oscilações de moedas estrangeiras, além de virem atrelados a condições
rigorosas”, disse o coordenador do MFW4A, David Ashiagbor.
Ashiagbor afirmou que os investidores
locais têm melhores condições de compreender os riscos envolvidos e, portanto,
oferecer coberturas de risco mais acessíveis e favoráveis.
“Pense sobre o dinheiro da telefonia
móvel no Quênia e o que ele tem feito pelos quenianos. Trata-se de bilhões em
lucros, isso sem falar na inclusão financeira. Será que teríamos tido tanto sucesso
se os estrangeiros estivessem por trás desses investimentos?”, questionou.
Ashiagbor observa que o governo
queniano poderia, por exemplo, disponibilizar títulos de infraestrutura a fim
de canalizar os bilhões sob gestão nos fundos de pensão para o desenvolvimento
nacional via os mercados de capitais.
“Um projeto rodoviário que custe
entre 3 e 10 bilhões de shillings poderia muito bem ser financiado por fundos
de pensão desde que eles tenham a garantia de retornos atrativos. Precisamos que
os governos se reúnam com especialistas financeiros a fim de criar produtos de
renda fixa em infraestrutura que estimulem os fundos de pensão a investir
localmente”, disse ele.
O MFW4A, que existe há três anos, coleta
e analisa dados sobre investimentos antes de compartilhá-los com os governos
africanos. O think-tank também tem
como enfoque projetos que promovam a inclusão financeira e gerem produtos
sustentáveis para a concessão de crédito a pequenas e médias empresas.
O CEO substituto da Retirement Benefits Authority (RBA), Nzomo
Mutuku, afirmou que o país teve suas leis alteradas para permitir o lançamento
de um título piloto de infraestrutura que possibilite que os fundos de pensão
locais financiem a construção da autoestrada Nairobi-Nakuru-Mau.
Mutuku declarou que os planos de
pensão receberam positivamente a lei que introduz os canais alternativos de
investimento.
Ashiagbor disse ainda que projetos internacionais
envolvendo água, energia e estradas também devem ser considerados, já que
muitos fundos de pensão são pequenos demais para pagar bilhões de dólares em investimentos
de longo prazo por conta própria.
“Nenhum fundo estrangeiro jamais
desenvolveu um país. Mas os fundos domésticos garantirão que todos os lucros permaneçam
aqui e aqui sejam reinvestidos”, disse o coordenador do MFW4A.
Business Daily