Fundos soberanos e fundos de pensão
estão livres, pelo menos temporariamente, de um maior escrutínio por parte dos
órgãos de fiscalização, já que as agências de supervisão decidiram excluí-los
de um estudo detalhado que visa mitigar riscos sistêmicos trazidos por
instituições que não sejam bancos ou seguradoras.
Os gestores de ativos aguardam
ansiosamente os resultados - a serem divulgados na próxima semana - do estudo
conduzido pelo Conselho de Estabilidade Financeira (Financial Stability Board - FSB). O conselho baseado em Bruxelas
que reúne bancos centrais e reguladores europeus deverá esboçar um novo
conjunto de políticas baseado nos resultados do referido estudo.
Inicialmente,
o FSB, que é presidido por Mark Carney, presidente do Banco da Inglaterra,
havia previsto a inclusão de fundos soberanos e fundos de pensão na pesquisa,
mas os investidores institucionais acabaram sendo excluídos do levantamento
devido a problemas relacionados à coleta de dados.
O
FSB deixou em aberto a possibilidade de voltar a examinar os fundos; no
entanto, representantes do conselho já advertiram que a decisão não implica em
dizer o quão arriscados esses investidores podem ser.
Os
fundos soberanos, que têm crescido em número e tamanho na última década devido
ao forte aumento dos preços das commodities
- têm cerca de US$ 7 trilhões em ativos sob gestão de acordo com o Sovereign Wealth Fund Institute. Já os
fundos de pensão gerenciam cerca de US$ 35 trilhões em ativos em todo o mundo.
Os
fundos soberanos vêm sendo acusados de contribuir para o aumento da volatilidade
do mercado, tendo retirado um volume recorde de US$ 46,5 bilhões das mãos de
gestoras de ativos no ano passado após a queda acentuada no preço do petróleo.
O
Fundo Monetário Internacional advertiu, no ano passado, que os fundos de pensão
poderiam representar um risco sistémico para o sistema financeiro dos EUA caso
tentassem obter retornos por meio de investimentos excessivamente arriscados.
Os
líderes das principais economias do G-20 pediram que o FSB olhe além de bancos
e seguradoras, passando a examinar outros atores do sistema financeiro que possam
vir a trazer problemas.
Entre
os políticos, há um consenso de que as reformas dedicadas a bancos e
seguradoras iniciadas após a crise financeira já estão devidamente encaminhadas
e que o momento requer o direcionamento de esforços para outras áreas.
As
gestoras de fundos, por sua vez, têm desempenhado um papel cada vez maior nos
mercados de negociação de títulos e outros papéis agora que os bancos reduziram
a sua participação como intermediários entre compradores e vendedores. Os
reguladores temem que os cotistas de fundos de investimento possam desencadear uma
crise de liquidez caso todos decidam retirar suas aplicações ao mesmo tempo.
O
fato é que o projeto do FSB já começou mal. Inicialmente, o grupo procurou classificar
gestoras de ativos como BlackRock e Fidelity como instituições importantes
sob o ponto de vista sistêmico, mas os planos foram por água abaixo após
pressões da indústria e a intervenção das comissões de valores mobiliários de EUA
e Reino Unido.
A
resistência da indústria foi grande porque ser rotulado como uma instituição
sistemicamente importante nos EUA implica em estar sujeito à supervisão
automática da Receita Federal. Os bancos assim classificados são obrigados a
ter reservas de capital mais elevadas além de se submeterem a um processo
fiscalizatório mais criterioso.
Os
gestores de ativos argumentam que eles não oferecem os mesmos riscos ao sistema
que os bancos dado que não recebem depósitos ou oferecem garantias sobre os
retornos dos investimentos.
O FSB não quis comentar o assunto.
Financial Times