No
início deste mês, o governo russo tomou posse das contribuições previdenciárias
de seus cidadãos. Normalmente, 6% da renda mensal do trabalhador são investidos
no mercado de capitais a fim de garantir-lhe um benefício de aposentadoria mas,
em 2014, a situação foi diferente. Ao invés disso, os recursos serão utilizados
para cobrir despesas do governo.
A
Rússia não é o primeiro país a confiscar ativos previdenciários para pagar suas
contas e provavelmente não será o último. Argentina, Hungria, Polônia, Portugal
e Bulgária fizeram o mesmo nos últimos seis anos.
A
medida não consiste apenas num prejuízo para as contas individuais dos cidadãos
russos; ela prejudica o mercado financeiro do país, que conta com um fluxo
estável de ativos previdenciários a cada ano. Logo, a expectativa é que a decisão
enfraqueça ainda mais a já frágil economia russa. O ex-ministro da Fazenda Alexei
Kudrin se mostrou contrário à decisão, e afirmou: “O governo acaba de anunciar uma
política que reduzirá o crescimento, fazendo encolher a economia e aumentar as
incertezas.”
O
‘roubo’ de ativos previdenciários é pratica relativamente nova que no passado mostrava-se
desnecessária, uma vez que os governos já tinham domínio sobre os recursos. As
economias desenvolvidas financiavam a aposentadoria da maioria de seus cidadãos
via planos de Benefício Definido cujo regime era o de repartição simples, a
exemplo do que acontece no sistema de Previdência Social dos Estados Unidos.
Mas
à medida que as pessoas foram vivendo mais e as populações envelheceram, a total
dependência de promessas previdenciárias não fundeadas pareceu insustentável.
Por isso, a partir da década de 80, a complementação ou até a substituição dos
sistemas estatais por contas individuais de poupança tornaram-se uma prática
popular. Países latino-americanos, notadamente o Chile, tomaram a dianteira desse
processo nos anos 90 e 2000. O leste europeu foi a próxima região do globo à
aderir à tendência. Países mais ricos como Austrália, Reino Unido, Holanda e
Estados Unidos acabaram adotando, posteriormente, variáveis das contas
previdenciárias individuais.
Entretanto,
para os governos que enfrentam pressões financeiras, parece difícil resistir a
bilhões de dólares em ativos previdenciários. Em 2008, a Argentina
‘nacionalizou’ aproximadamente US$ 30 bi em ativos de fundos de pensão. Desde a
crise da dívida europeia, Hungria, Polônia, Portugal e Bulgária, em graus
variados, fizeram o mesmo.
Os
que criticam as contas individuais argumentam que as pessoas, em geral, não
conseguem lidar com os riscos de investir no mercado financeiro. Mas se você
vive num país administrado por autoridades extravagantes e norteado por uma
definição pouco precisa sobre direitos de propriedade, perder os seus recursos
para o governo pode vir a ser um grande risco em potencial.
Na
maioria dos países, é muito pouco provável que o governo venha a tomar posse dos
recursos previdenciários individuais. Nos Estados Unidos, é praticamente
impossível alterar os benefícios providos pela Previdência Social tampouco o
programa público de saúde, e a ideia de o governo americano vir a confiscar as
contas 401(k) é algo inimaginável para a maioria, a não ser para os adeptos de
teorias conspiratórias.
Entretanto, não é irreal
pensar que o governo americano pode vir a dar uma mordida maior nas contas
401(k) por meio de impostos mais elevados: o imposto de renda encontra-se em
baixa histórica e, caso o governo precise aumentar a receita no futuro, as
taxas sobre os saques das contas 401(k) podem aumentar (assim como outros
impostos). Mas pelo menos os ativos das contas de aposentadoria ainda
pertencerão aos seus donos legítimos.
Bloomberg/Businessweek