Os
fundos de pensão norte-americanos enfrentam um dilema, digamos assim, bastante
‘agradável’: precisam decidir o que fazer com o enorme volume de recursos
proveniente dos investimentos em private
equity (PE).
A boa
fase do mercado tem permitido que as firmas de private equity que receberam recursos das entidades realizem a
venda de companhias, gerando dividendos para os investidores. De acordo com a Cambridge Associates LLC, no ano
passado, esses fundos renderam US$ 134,6 bilhões para os fundos de pensão e
outros investidores, superando o recorde de US$ 115 bilhões registrado em 2012.
O alto
volume de recursos providos pelo PE tem afetado negativamente o equilíbrio dos
investimentos, aspecto que se faz necessário para que as entidades
previdenciárias possam obter retornos estáveis ao longo de décadas e, assim, pagar
benefícios a milhares de aposentados.
Algumas
entidades optaram por dobrar os aportes na classe de ativos, que até então tem
sido bastante lucrativa, ao invés de correrem o risco de não atingir a meta
atuarial. Entretanto, especialistas se preocupam com o que pode vir a acontecer
caso o mercado sofra um revés.
A
preocupação é fruto da péssima experiência vivida durante a crise financeira,
quando muitos fundos de pensão viram o valor de seus investimentos em ações
públicas cair e, com isso, a proporção da carteira alocada em private equity atingir patamares
estratosféricos. Foi justamente isso que aconteceu com a Los Angeles County Employees Retirement Association, que excedeu a
meta de tal forma que teve que suspender seus compromissos com as firmas de PE
entre junho de 2008 e maio de 2010. Gestores do fundo, conhecido como Lacera,
disseram que a suspensão surtiu impacto negativo sobre os retornos totais da
carteira.
Para
piorar a situação, as firmas de private
equity ‘descansam’ sobre uma montanha de dinheiro a ser investido. Alguns
fundos de pensão temem que mais investimentos em PE possam acarretar em gastos
exagerados e desnecessários. Em relatório recente, a Bain & Co. apontou que os recursos não utilizados pelas firmas
de PE chegavam a mais de US$ 1 trilhão no final de 2013.
“A
maior preocupação é estarmos no início de um filme de terror. Os bons tempos
estão aí, mas eventualmente poderemos nos deparar com perseguições e amputação
de membros”, afirma David Fann, presidente e CEO da TorreyCove Capital Partners LLC, consultoria dedicada ao
assessoramento de fundos de pensão.
Ainda
assim, alguns fundos optaram por aumentar a alocação em PE nos últimos anos. No
Oregon State Investment Council, que
administra US$ 87,5 bilhões em ativos previdenciários, tal patamar subiu de 16%
para 20%. A nova meta corresponde a pelo menos $2,6 bilhões anuais, contra US$1,76
bi em 2013 e US$ 2,2 bi em 2012. Entretanto, o fundo disse que não utilizará
todo o limite, adotando, pelo menos por enquanto, uma postura cautelosa no segmento,
informou James Sinks, diretor de Comunicação do Tesouro do estado do Oregon.
A Public Employees Retirement Association of
New Mexico, entidade estatal com US$14,3 bilhões sob gestão, também decidiu
aumentar a alocação em private equity
de 5% para 7%, enquanto o Alaska
Retirement Management Board, cujo patrimônio é de US$ 25,8 bilhões, propôs
o aumento do limite de 9% para 10%.
Alguns
investidores enxergam os altos retornos providos pelo private equity como um sinal de alerta. O California Public Employees' Retirement System (US$ 290 bi sob
gestão) propôs, no mês passado, reduzir a alocação em PE para 10% da carteira.
Essa foi a segunda redução desde fevereiro, quando o fundo diminuiu a proporção
desses investimentos de 14% para 12% do portfólio. Em 2007, o CalPERS possuía pouco
mais de 3% da carteira investidos em private
equity.
De
acordo com material publicado pelo fundo, o private
equity é “a classe de ativos cujas condições de mercado são as mais
preocupantes” devido ao enorme volume de capital não investido, ao fluxo contínuo
de recursos para as firmas responsáveis e aos empréstimos volumosos
direcionados aos buyouts. Caso seja
aprovado em votação que deve ocorrer ainda neste mês, a redução do PE para 10%
da carteira do fundo californiano deverá ser gradualmente revertida a cada ano
até chegar a 12% em 2016.
O Washington State Investment Board também
decidiu diminuir a alocação em private
equity de 25% para 23% a fim de “manter a qualidade do programa de
investimentos à medida que seu valor absoluto continua a crescer”.
Michael
Forestner, sócio da Mercer Investment
Management, afirmou que os fundos de pensão devem evitar colocar muito
dinheiro no segmento de PE. “As distribuições elevadas de recursos são, de
certa forma, uma maneira do mercado dizer: ‘tire um pouco do dinheiro da mesa
de negociação”.
The Wall Street Journal