Os poupadores prestes a se aposentar que não tenham interesse na compra de uma
anuidade - preferindo viver da renda gerada pelos investimentos dos ativos
previdenciários - receberam dicas de uma fonte pouco provável no mês passado:
Warren Buffett, o investidor mais bem sucedido do mundo.
Em carta anual distribuída aos acionistas de sua empresa, a Berkshire Hathaway,
Buffet deu instruções de como deseja que seus procuradores invistam o dinheiro
que ele deixará para a mulher quando morrer. Ao fazê-lo, ele respondeu a um
questionamento que todo aposentado se faz ao recusar a aquisição de uma
anuidade: como investir o dinheiro de forma a obter uma renda decente e
protegida contra a inflação? Em outras palavras, Warren Buffet descreveu o seu
plano de saques periódicos (‘income drawdown’) de renda da
aposentadoria.
“Income drawdown” é o mecanismo à disposição dos aposentados que não
desejam comprar uma anuidade. No ato da aposentadoria, aproximadamente um
quarto do saldo de conta pode ser sacado, com isenção tributária, na forma de
pecúlio, e os recursos remanescentes são depositados num fundo em que os saques
são permitidos mediante o cumprimento de certos critérios. Frequentemente, os
investidores ficam sem saber onde investir, embora tenham diante de si um leque
de opções que abarca investimentos em moeda, ações, títulos, fundos e até
imóveis.
Buffet foi bastante direto em seu direcionamento: “Meu conselho não poderia ser
mais simples: coloque 10% do dinheiro em títulos públicos de curto prazo e 90%
num índice de ações S&P 500 de baixo custo. Eu sugiro o índice da
Vanguard”.
As dicas de investimento de
Warren Buffett
As cartas anuais de Warren Buffett aos acionistas costumam ser minuciosamente
analisadas por investidores em busca de dicas ou mensagens valiosas. A
linguagem dessas cartas costuma ser simples e direta, ou seja, bastante
diferente daquela utilizada no dia a dia do mercado financeiro. A carta deste
ano não decepcionou. Num determinado trecho, intitulado “alguns pensamentos
sobre investimentos”, Buffet comentou dois investimentos que lhe trouxeram
sólidos retornos: uma fazenda e um prédio comercial em Nova York.
Vários são os destaques dessa história. Primeiramente, Buffet admite não ser um
especialista nessas áreas. Em segundo lugar, ele afirma ter estado na fazenda
apenas duas vezes; no prédio em NY, ele sequer colocou os pés. Em terceiro
lugar, ele indica estar disposto a investir em ativos com pouca liquidez.
Em ambos os casos, Buffet calculou que as propriedades estariam gerando cerca
de 10% de retorno na época em que foram adquiridas, embora houvesse espaço para
maior rentabilidade graças ao aumento da produtividade e elevação dos preços
dos grãos e alugueis.
A seguir estão algumas lições que, segundo Buffet, os investidores podem
aprender com os investimentos citados:
•
Não é preciso ser um especialista para
ter retornos satisfatórios.
Se você não é um especialista, reconheça suas limitações e siga um caminho que
provavelmente levará a um destino seguro. Mantenha a simplicidade. Quando lhe
prometerem retornos rápidos, seja igualmente rápido em recusar a oferta.
•
Considere a produtividade futura dos
ativos em que pretende investir.
Caso não se sinta confortável para fazer estimativas acerca dos futuros ganhos
dos ativos, pule essa etapa e mantenha-se no percurso. Ninguém tem a capacidade
de avaliar todas as possibilidades inerentes a cada investimento. Não é preciso
saber tudo, basta compreender os passos que estão sendo dados.
•
Se você estiver considerando eventuais
mudanças no preço de um determinado ativo, tenha em mente que isso é
especulação.
“Não há nada de errado em especular, mas como sei que não tenho condições de
especular de maneira bem sucedida, costumo duvidar daqueles que afirmam poder
fazê-lo. O fato de um ativo ter valorizado no passado recente não é motivo
suficiente para que eu deseje comprá-lo. Quando decidi investir na fazenda e no
prédio em NY, pensei apenas no que as propriedades poderiam produzir, deixando
de lado as suas avaliações diárias. Partidas são ganhas por jogadores que se
concentram no jogo, não por aqueles cujos olhos estão fixos no tabuleiro.”
•
Opiniões sobre a macroeconomia ou
previsões de mercado são um desperdício de tempo.
“De fato, esses são aspectos perigosos que podem desviar a atenção do que é
realmente importante. Sendo assim, ignore o burburinho, mantenha os custos em
patamares mínimos e invista em ações como você investiria numa fazenda. Nos 54
anos em que trabalhamos juntos, nós (Buffett e Charlie Munger, seu sócio) nunca
deixamos de realizar uma compra interessante por causa do ambiente político ou
opiniões alheias.
Na
verdade, esses assuntos sequer são mencionados quando tomamos uma decisão.
Porém, é imprescindível que reconheçamos o perímetro do nosso ‘circulo de
competência’ e nos mantenhamos dentro dele. Mesmo assim, ainda cometemos erros,
mas eles não são aqueles equívocos desastrosos que ocorrem, por exemplo, quando
o mercado, em alta por longos períodos, induz a compras baseadas em estimativas
para o comportamento dos preços ou ao desejo de estar onde todos estão.”
The Telegraph