Doze
grandes consultorias de investimentos uniram forças para aumentar a pressão
sobre os fundos de pensão que não levam em consideração fatores ambientais,
sociais e de governança (ESG) em suas decisões de investimento.
O grupo de empresas de consultoria, que
inclui as três maiores do mercado, isto é, Willis Towers Watson, Mercer e Aon
Hewitt, presta serviços a entidades - entre fundos de pensão e seguradoras -
responsáveis pela gestão de cerca de £1,6 trilhão em ativos somente no Reino
Unido, exercendo enorme influência sobre as suas decisões de investimento.
As consultorias assinaram uma carta em
que concordam em elaborar briefings,
realizar treinamentos e assessorar fundos de pensão a respeito de investimentos
responsáveis após o órgão regulador britânico ter emitido um alerta neste
ano.
De acordo com a autoridade regulatória,
os participantes enfrentam riscos financeiros de longo prazo porque os conselheiros
previdenciários não estão dando a devida consideração às mudanças climáticas, a
práticas empresariais responsáveis e à governança corporativa ao realizar
investimentos.
Sem a interferência dos consultores,
que já tiveram sua influência sobre os investidores avaliada pela Autoridade de
Conduta Financeira (Financial Conduct
Authority - FCA), a preocupação é que os conselheiros não tomem ciência das
preocupações do regulador.
“As consultorias de investimento exercem
enorme influência sobre as decisões de seus clientes, seja sob o ponto de vista
do risco de fundeamento, do patrocinador ou da seleção de gestores de ativos”, diz
Faith Ward, diretor de investimentos e riscos do Fundo de Pensão da Agência do
Meio Ambiente (Environment Agency Pension
Fund), que administra £3,5 bilhões de ativos. “Este passo é fundamental
para que as empresas façam o que se espera delas no século 21.”
A expectativa é que a mudança na postura
dos consultores acabe exercendo maior pressão sobre os gestores de ativos para que
elevem os padrões nas empresas listadas.
Os fundos de pensão podem pedir às gestoras
de investimento que suas opiniões sejam validadas por meio de votos nas assembleias
anuais de acionistas. No entanto, de acordo com as asset managers, esse pode vir a ser um desafio logístico caso os
recursos do plano estejam investidos nos chamados “fundos compartilhados”.
Agora os consultores poderão preparar
os fundos de pensão para a chamada “votação red-line”, ou seja, quando vários planos
adotam postura parecida em relação a questões ESG, tornando mais fácil a tarefa
dos gestores de carteiras de reunir os pontos de vista num único voto.
Em 2014, uma comissão do parlamento
afirmou que os fundos de pensão tinham como dever fiduciário o estabelecimento
de padrões mais elevados para questões ESG.
No entanto, uma pesquisa realizada em
março pela Associação de Conselheiros Nomeados pelos Participantes (Association of Member Nominated Trustees
- AMNT), organização que congrega cerca de 700 conselheiros responsáveis por
aproximadamente £650 bilhões em ativos, apurou que mais de um terço de seus
membros não havia recebido informações sobre questões ESG das consultorias de
investimento.
“Veja o que aconteceu com a Volkswagen
[após o escândalo das emissões]. Não acredito que todos os consultores tenham
levado esse assunto aos seus clientes”, disse Simon Howard,
presidente-executivo da Associação de Investimento e Finanças Sustentáveis do
Reino Unido (Sustainable Investment and
Finance Association), responsável pela iniciativa junto com a AMNT.
“O fato de os consultores terem
aceitado a responsabilidade de tratar esse tipo de assunto com seus clientes é
novo e muito bem-vindo.”
Entre os signatários da
carta-compromisso estão as consultorias AllenBridge, Boston, Cardano, Hymans
Robertson, JLT Employee Benefits,
Lane Clark & Peacock, Redington, Barnett Waddingham e Quantum Advisory.
Howard acrescenta que fundos de pensão importantes,
como o plano dos parlamentares britânicos, deveriam dar o exemplo ao elevar os
níveis de transparência. “Ter uma estratégia de investimento responsável é o
primeiro passo. Contudo, ainda falta transparência sobre como o fundo de pensão
é investido.”
No ano passado, os políticos britânicos
se envolveram em uma batalha acalorada com seu plano de pensão em face de sua recusa
em divulgar a parcela dos 600 milhões de libras do fundo investida em empresas
de combustíveis fósseis. Em março, o fundo cedeu à pressão e divulgou dados
sobre as suas maiores participações nessas empresas.
Financial Times