Os fundos de pensão de Israel estão sendo chamados a investir
mais no próspero setor de tecnologia do país. Há queixas de que os israelenses
estariam perdendo boas oportunidades enquanto os investidores estrangeiros
colhem os frutos do boom tecnológico.
Prejudicados
pelo “estouro” da bolha tecnológica em 2000, que resultou numa série de
restrições regulatórias, os fundos de pensão israelenses evitaram o setor na
última década, período em que bilhões foram gerados via aquisições e aberturas
de capital.
Registrando
retornos entre 2% e 3,6% em 2015, banqueiros, investidores de “venture capital”
e empresários argumentam que os fundos de pensão deveriam colocar mais recursos
na indústria com melhor desempenho do país.
“Os frutos do
sucesso da indústria de alta tecnologia de Israel estão sendo colhidos sobretudo
por investidores da Califórnia”, diz Yaron Bloch, CEO do braço de investimento do
Banco Leumi, o Leumi Partners.
As fusões, aquisições
e ofertas públicas de ações de empresas de tecnologia israelenses aumentaram 16%
em 2015, atingindo um volume de negócios de US$ 9,02 bilhões de acordo com o Israel Venture Capital Research Centre (IVC)
e o escritório de advocacia Meitar.
Ao mesmo tempo,
as empresas de venture capital do
país levantaram US$ 1,02 bilhão em recursos originários dos Estados Unidos e
Ásia (cuja participação vem aumentando). Os investidores institucionais israelenses,
em geral, são avessos a riscos.
No entanto, a
expectativa é que sucessos recentes, como a compra, pelo Google, do aplicativo Waze, e a grande oferta pública inicial
de ações do assistente de navegação Mobileye,
ambos israelenses, ajudem a
aumentar gradualmente o interesse dos investidores institucionais pelo segmento.
Contraste
com os EUA
Fundos americanos,
como o California Public Employees
Retirement System (CalPERS) e o California
State Teachers Retirement System (CalSTRS), já investiram bilhões em
empresas do Vale do Silício e de venture
capital israelenses como Pitango, Carmel e Giza.
O Fundo New York State Common Retirement, o
terceiro maior dos Estados Unidos com US$ 185 bilhões sob gestão, investiu mais
de US$ 140 milhões em empresas de venture
capital israelenses, além de US$ 22 milhões em dois fundos de private equity do setor de tecnologia de
Israel.
Investidores
institucionais israelenses já começam a fazer pequenas alocações em venture capital nacional -
principalmente em fundos de crescimento em estágio avançado cujo alvo são
empresas com vendas acima de US$ 10 milhões. Contudo, especialistas argumentam que
isso não é suficiente para gerar retornos significativos para os fundos de
pensão.
“O governo
deveria prover incentivos aos investidores de longo prazo para que comecem a
investir na indústria de alta tecnologia. Isso precisa acontecer”, afirma Eldad
Tamir, CEO da gestora Tamir Fishman e sócio do fundo Eucalyptus Growth Capital.
Os fundos de
pensão, seguradoras e fundos mútuos israelenses gerenciam 1,6 trilhões de shekels
(US$ 407 bilhões) em ativos. Diferente dos Estados Unidos, onde os fundos de
pensão alocam 50% dos recursos em renda variável, em Israel tal parcela é inferior
a 10% - a oitava mais baixa entre os 31 países da OCDE.
A instituições
israelenses investem cerca de 40% dos ativos no exterior, sendo que parte dessa
quantia é destinada a gestoras que aplicam em fundos de investimento e private equity. Ironicamente, uma parcela
desses recursos é alocada em fundos de private
equity e venture capital que têm
como enfoque tecnologia israelense, explica Koby Simana, CEO do IVC.
Sinais
de mudança
Um fundo que
levantou recursos junto aos investidores institucionais do país é o Israel Growth Partners (IGP), que mira empresas
tecnológicas de pequeno porte, mas em franco crescimento. O fundo recebeu US$
250 milhões de cinco instituições, incluindo a Leumi Partners.
“As coisas
estão mudando”, diz Haim Shani, sócio da IGP. “Os investidores institucionais têm
preferido investir na fase de crescimento, que tem uma curva de risco e retorno
diferente.”
Assaf Shoham, CIO
da Migdal Insurance, maior seguradora
de Israel com US$ 50 bilhões sob gestão, disse estar considerando investir num
fundo de fundos dedicado a private equity
e venture capital.
Para os
investidores institucionais, um dos problemas é o tempo que essas empresas levam
para gerar lucro. “Não se vê resultados por sete ou oito anos”, ressalta Ilan
Artzi, diretor da gestora Halman Aldubi. Ele acrescenta que os fundos podem inclusive
registrar perdas contábeis logo no início do investimento.
Especialistas
argumentam que o governo poderia ajudar não só através de incentivos fiscais
para os fundos de pensão, mas via a flexibilização das restrições sobre os
valores pagos pelas entidades a gestores externos. Nos Estados Unidos não há qualquer
restrição nesse sentido.
Um porta-voz do
Ministério da Fazenda disse que a regulação visa garantir que as instituições financeiras
não cobrem taxas de administração muito elevadas, permitindo, assim, que os
investidores institucionais alcancem retornos maiores.
“A regulação que
protege o investidor foi elaborada com boas intenções. No entanto, ela foi
concebida sem que houvesse um conhecimento apropriado de como o venture capital funciona”, opina Dan
Sangar, sócio do escritório de advocacia Meitar, que representa a maioria das
grandes empresas de venture capital
de Israel.
Bloomberg