Três
especialistas estrangeiros foram convidados a dar sua opinião sobre um assunto
bastante delicado: o uso de recursos dos fundos CPF (Central Provident Funds) para a compra de imóveis. Eles
recomendaram ao governo que diminua os valores permitidos para esse propósito.
Os
cidadãos de Cingapura têm colocado todas as suas fichas numa única aposta, que
é pouco líquida, arriscada em termos de timing
de mercado e difícil de transformar em renda de aposentadoria, advogaram os
especialistas.
Para
a geração mais jovem, a utilização de valores elevados do CPF para a compra de apartamentos
pode trazer problemas no futuro, adverte Donald Lew, vice-reitor da Escola de
Políticas Públicas Lee Kuan Yew School, juntamente com o especialista imobiliário
Lum Sau Kim, da Universidade Nacional de Cingapura (NUS), e o professor Joseph
Cherian, da NUS Business School.
A
questão é que pode ser difícil vender um imóvel quando necessário. Além disso,
o preço de venda depende muito das condições de mercado numa determinada época,
gerando volatilidade. Isso pode vir a ser um problema se muitos decidirem
vender suas propriedades ao mesmo tempo, o que pode acontecer devido ao ritmo
de envelhecimento da população de Cingapura.
O
economista Augustine Tan afirma: “A valorização de ativos será um problema numa
população em processo de envelhecimento. Quem se interessará em comprar os
imóveis?”. Já o Professor Lum argumenta: “As pessoas passam 30, 40 anos acumulando
esses ativos, transforma-os em propriedade e depois se perguntam como extrair
dinheiro desse investimento.” Ademais, se as pessoas gastarem uma proporção
muito elevada dos fundos CPF na compra de imóveis, acabarão ficando com um
saldo muito baixo na conta posteriormente.
Em
Cingapura, quase 20% dos salários dos mais jovens vão para as CPF Ordinary Accounts, cujos recursos
podem ser utilizados na compra de apartamentos. Após os 51 anos, a proporção
muda drasticamente, com a maior parte das economias sendo direcionadas para planos
de saúde e aposentadoria.
Os
idosos de hoje têm diante de si uma mina de ouro em imóveis e quase nada para suas
necessidades diárias. Muitos deles ainda relutam em vender as propriedades
devido a ligações emocionais ou ao desejo de deixá-las para os filhos e netos,
mesmo com as hipotecas chegando a 99 anos de duração.
Entretanto,
as opções de renda dos imóveis não costumam atrair muito interesse. O Lease Buyback Scheme (LBS) permite ao
idoso arrendar parte do seu apartamento
para o Conselho Estatal e continuar vivendo na propriedade pelos próximos 30
anos. “Não é para a vida inteira,” adverte o Professor Lum, “mesmo que o
governo garanta que cuidará do idoso após esse período, eu sugiro fazer um
acordo por escrito contendo uma cláusula vitalícia”.
As
autoridades também manifestaram a intenção de reintroduzir a hipoteca reversa, ideia
que foi descartada em 2008 em função da baixa adesão. Nesse tipo de contrato,
os donos de apartamento usam a propriedade como um seguro para um empréstimo
que é quitado com o passar do tempo. Entretanto, o Professor Cherian observa
que o governo deve definir os preços da hipoteca reversa com cuidado, dado o
receio das pessoas de não conseguir pagar o empréstimo no futuro.
“Se
não formos cuidadosos ao criar opções de monetarização, muitos imóveis podem ficar
sem uma boa saída no mercado”, afirma Lum Sau Kim. “Se não quisermos que as futuras
gerações tenham que lidar com esse risco, talvez não devêssemos ter um percentual
tão alto dos fundos CPF voltados para a compra de apartamentos.”
Asiaone