FUNDOS SUÍÇOS ENTRAM NO MERCADO DE HIPOTECAS
Os fundos de pensão suíços estão adentrando o mercado de hipotecas numa tentativa de lidar com o súbito fortalecimento do franco e retornos negativos dos títulos públicos.

Metade dos 35 fundos abrangidos por pesquisa da Universidade de Ciências Aplicadas de Zurique diz estar avaliando a possibilidade de oferecer hipotecas aos participantes dos planos pela primeira vez, informa Regina Anhorn, pesquisadora da instituição.

Segundo Anhorn, onze planos, que juntos gerenciam US$ 214 bilhões em ativos, já oferecem hipotecas aos filiados.

Na busca por rentabilidade, alguns desses fundos começaram a vender hipotecas também para o público em geral. Com isso, a exposição média das carteiras passou de 2% para 7%.

Reto Hintermann, especialista da consultoria Gam, declarou: “Os fundos têm procurado substituir as alocações em títulos por hipotecas, mas trata-se de um movimento difícil e oneroso. As hipotecas oferecem retorno baixos de 0,2% a 0,4%; ainda assim, tais retornos não deixam de ser positivos, superando os resultados da renda fixa.”

Recorrer às hipotecas foi a solução encontrada por muitos fundos para lidar com a inesperada decisão do Banco Nacional Suíço de remover, em janeiro, o teto de $1,20 para o franco em relação ao euro.

A intervenção causou um fortalecimento repentino do franco em comparação  à moeda europeia, gerando problemas nas carteiras estrangeiras dos fundos locais que não contavam com hedge cambial.

Ao mesmo tempo, o Banco Central reduziu ainda mais as taxas de juros sobre depósitos (-0,75%), encarecendo significativamente a detenção de moeda pelas entidades suíças.

Hintermann informou que o fundo de pensão de sua empresa está elevando a fatia de hipotecas de 1,3% para 5% da carteira em função dos recentes acontecimentos.

Os retornos dos  títulos do governo suíço com maturidade de dez anos atingiram uma baixa recorde na semana passada (-0,375), dificultando ainda mais a vida dos fundos de pensão do país. O retorno de títulos federais com maturidade de cinco anos é de -0,93%.

Jerome Cosandey, economista do think tank Avenir Suisse, disse que a inexperiência dos fundos de pensão em relação às hipotecas pode gerar dificuldades para que os negócios sejam analisados adequadamente. “As hipotecas são diferentes, muitos bancos já tiveram problemas nesse mercado. O Banco Central inclusive já fez um alerta sobre possíveis bolhas imobiliárias em regiões mais procuradas, como Genebra e Zurique.”

Hintermann, por sua vez, diz que não vê a possibilidade de um superaquecimento do mercado imobiliário. “O mercado é altamente valorizado, mas não diria que é de alto risco.”

Na tentativa de mitigar o risco de default no pagamento das hipotecas, alguns planos têm exigido depósitos de 30%. Outros oferecem hipotecas somente em mercados já bastante conhecidos, algo que segundo Cosandey pode gerar “concentração de risco imobiliário”.



Financial times
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