Os CEOs de alguns dos maiores
fundos de pensão da Europa pediram aos bancos centrais que abandonem ou reduzam
as metas de inflação que, segundo eles, estão colocando em risco a situação
financeira de milhões de pensionistas.
Richard Grottheim, CEO do fundo de
pensão sueco AP7 e ex-funcionário do banco central do país, disse que as metas
de inflação têm empurrado as taxas de juros tão para baixo que os fundos de pensão
estão lutando “para gerar qualquer tipo de retorno” para os seus participantes.
O
CEO do ATP, o maior fundo de pensão da Dinamarca (US$ 120 bilhões sob gestão),
por sua vez, diz estar “profundamente preocupado” com a política monetária.
Nos
últimos meses, o Banco do Japão, o Banco Central Europeu e quatro outros bancos
centrais ao redor do mundo introduziram taxas de juros baixas ou negativas na
tentativa de impulsionar o crescimento econômico e combater a ameaça de
deflação.
Larry
Fink, presidente-executivo da BlackRock,
maior gestora de recursos do mundo, alega que não está sendo dada a devida
atenção ao impacto das taxas negativas sobre os hábitos individuais de
poupança.
“Os
governos, que estão em déficit, têm tido dificuldade para estimular a economia.
Sem estímulo fiscal, o peso de uma meta de 2% recai muito fortemente sobre a
política monetária e os bancos centrais”, diz Grottheim.
Johan
Magnusson, diretor de investimentos da AP4, um dos maiores fundos de pensão
suecos, acrescenta que as metas inflacionárias de dígito único devem ser
substituídas por uma estrutura “mais flexível”. Segundo Magnusson, as metas
geram “questões associadas ao risco moral”, deixando de lado problemas mais
graves.
Grottheim,
que chefiou o departamento de Política Monetária do Riksbank quando as metas de inflação foram introduzidas pela
primeira vez na Suécia, na década de 90, disse que 2% é um objetivo demasiadamente
ambicioso para um período em que se observa “o crescimento letárgico dos
salários”.
“Ambientes
de baixa inflação são bons para o crescimento... mas há, atualmente, um
problema em se alcançar as metas inflacionárias propostas.”
Nos
últimos anos, Dinamarca, Suíça e Suécia têm buscado atingir taxas abaixo de
zero, gerando preocupações sobre uma possível crise de financiamento nos planos
de pensão, que dependem de taxas mais elevadas para reduzir os preços de
títulos e ações.
Na
Suécia, a taxa de recompra utilizada pelos bancos para empréstimos no momento é
de -0,5%. A taxa se tornou negativa pela primeira vez em fevereiro do ano
passado.
Em
abril, Philippe Desfossés, CEO do ERAFP, fundo de pensão do funcionalismo
público francês (€ 24 bilhões sob gestão), havia dito ao Financial Times que acreditava que “muitos fundos de pensão da
Europa iriam implodir nos próximos dois a três anos” se as políticas de baixas
taxas de juros do banco central tivessem continuidade.
Ele
afirmou que a política monetária pouco convencional do BCE está “surtindo um
forte efeito sobre a indústria de fundos de pensão”. Em sua opinião, esse aspecto
tem sido ignorado pelos reguladores na medida em que eles se ocupam com outros
desafios enfrentados por bancos e seguradoras, “ainda que os riscos enfrentados
pelos fundos de pensão continuem crescendo”.
Em
agosto, o primeiro corte na taxa de juros realizado pelo Banco da Inglaterra desde
a crise financeira gerou pedidos por uma consulta pública acerca dos impactos
da política de afrouxamento monetário sobre os fundos de pensão corporativos do
país.
Financial Times