Professores, funcionários públicos e
militares aposentados estão revoltados com os planos do governo de reformar a
previdência. A ideia é cortar os generosos benefícios que, segundo analistas,
estão se tornando um enorme fardo para a economia do país.
Em Taiwan, militares, professores e
funcionários públicos aposentados recebem benefícios equivalentes a 90% a 100%
do último salário da ativa.
Para
os altos funcionários do governo, o benefício médio é de US$ 3.400, quase
quatro vezes o salário inicial de muitos profissionais com diploma
universitário.
Globalmente,
a taxa de reposição almejada pelos sistemas previdenciários é de cerca de 70%.
Em Cingapura, tomando-se como base somente no Central Provident Fund, essa proporção é de aproximadamente 60% a 70%.
As
elevadas pensões pagas pelo sistema de Taiwan eram viáveis na década de 90, quando
a economia crescia, em média, 7,6% ao ano, assim como ocorreu no início dos
anos 2000, período em que a taxa de crescimento chegou a 4,5%. A população,
relativamente jovem, registrava forte participação no mercado de trabalho.
Contudo,
o envelhecimento acelerado e a baixa taxa de fertilidade - 12,5% dos cidadãos têm
mais de 65 anos - associados à desaceleração da economia, cujo crescimento deve
ficar em apenas 0,77% neste ano, fez com que os generosos benefícios se
tornassem um fardo muito pesado.
De
fato, o fundo de pensão do serviço público, dedicado a professores,
funcionários públicos e militares, registra déficit desde o ano passado.
Em
seu discurso de posse, a presidente Tsai Ing-wen disse que a reforma do sistema
previdenciário seria prioridade. Ela afirmou que medidas imediatas eram
necessárias e que se nada fosse feito, “a população do país se arrependeria amargamente”.
Tsai
Ing-wen criou uma comissão composta por 37 integrantes incumbida de elaborar propostas
no prazo de um ano. Essa é a terceira tentativa de chefes de Estado de reformar
o sistema do país.
Taiwan
possui vários planos de pensão, cada um com sua própria idade de aposentadoria
e fórmula de cálculo para saques e contribuições. A presidente informou que a
comissão irá analisar todas as possibilidades de reforma dos diferentes regimes.
O
chefe do comitê, ministro Lin Wan-i (ainda sem pasta definida), disse que os
itens mais importantes da reforma são o aumento das contribuições e a redução
das taxas de reposição, ou seja, a renda de aposentadoria em relação ao último salário
da ativa do segurado.
O
ministro, que também esteve envolvido nos esforços reformadores de 2007, quer
aumentar a idade de aposentadoria face ao aumento da expectativa de vida.
Em
entrevista ao The Straits Times, o
ministro declarou: “Com menos pessoas entrando no mercado de trabalho e mais segurados
recebendo pensões, nós simplesmente não podemos nos dar ao luxo de permitir que
os cidadãos recebam benefícios por períodos tão longos”.
De acordo com o Ministério da
Fazenda, Taiwan gasta NT$ 301 bilhões anualmente com o pagamento de pensões, o
equivalente a 16,95% do orçamento federal de NT$ 1,77 trilhão.
Os
reformadores, porém, terão um caminho difícil pela frente, já que pretendem
reduzir o fardo previdenciário sobre as gerações mais jovens e, ao mesmo tempo,
implementar mudanças aceitáveis aos olhos dos atuais pensionistas.
Professores,
funcionários públicos e militares já demonstram descontentamento. “Fizemos
sacrifícios para servir Taiwan, mas a primeira coisa que o governo quer fazer é
cortar as nossas pensões sem nós consultar”, disse o presidente da Associação
Nacional de Servidores Públicos, Harry Lee Lai-hsi, um dos maiores críticos do
comitê reformador. “Qual é a justificativa para os cortes e por que devemos ser
os primeiros a sofrer as consequências?”
Por
outro lado, jovens como o atendente de loja Max Su, de 32 anos, cujo salário é NT$
30 mil por mês, são a favor da reforma e de um sistema mais justo. “Nós também trabalhamos
duro, mas quase não temos o suficiente para sobreviver, enquanto esses
funcionários aposentados recebem pensões gordas. Isso é justo?”
As
tensões tendem a se acirrar em 03 de setembro, quando professores, militares e
funcionários públicos aposentados pretendem tomar as ruas em protesto contra os
cortes nos benefícios previdenciários.
Ainda
assim, o professor de Sociologia da Universidade Nacional de Taiwan, que
liderou os fracassados esforços de reforma previdenciária em 2013, acha que o
governo atual tem boas chances de sucesso.
“As
pessoas se queixam de pagar mais e receber menos. A vantagem de Tsai é que o
PDP (Partido Democrático Progressista) detém maioria no congresso, o que tende
a facilitar as coisas.”
The Strait Times