A
Polônia revelou como será a sua maior reforma previdenciária desde 1999, embora
o governo não deva assumir uma fatia tão grande da indústria como alguns
analistas suspeitavam.
Na
segunda-feira, o governo traçou planos para desmantelar seu sistema de
previdência privada, classificando-o como ineficaz. A indústria de US$ 35
bilhões em ativos será transformada em contas individuais de aposentadoria, com
pelo menos um quarto desse volume sendo gerido por uma entidade estatal. Aos
poloneses serão oferecidos incentivos para que optem por investimentos de longo
prazo numa tentativa de aumentar os níveis de poupança. Os detalhes serão
finalizados ao longo do próximo ano.
“Não é um cenário tão ruim quanto
imaginávamos e a reforma não implicará na venda imediata dos ativos”, avalia Marcin
Gatarz, chefe de pesquisa de renda variável da corretora Pekao, de Varsóvia. “Embora
a reforma não preveja uma tomada considerável de ativos pelo Estado, incertezas
permanecem, já que os planos podem mudar. Isso deve contribuir para manter o
preço das ações polonesas em baixa.”
A reforma agrava a preocupação sobre
a interferência do Estado na economia após o partido da Lei & Justiça, que
se comprometeu a estimular o crescimento e promover a distribuição mais
uniforme de riquezas, ter vencido as eleições há oito meses. O impasse com a
União Europeia a respeito de questões democráticas resultou, pela primeira vez,
no rebaixamento da classificação de crédito do país, assustando os
investidores. Os proprietários estrangeiros dos fundos de pensão na mira das autoridades
incluem a Allianz SE, MetLife Inc. e Nationale-Nederlanden NV.
Recuperação
das ações
Tendo caído até 2,7%, o índice WIG20 fechou em -1,2%,
acumulando uma baixa de 25% nos últimos 12 meses à medida que bancos como o PKO
SA tiveram desempenho ruim. A moeda local zloty enfraqueceu 0,5% perante o euro,
o pior desempenho entre as 24 moedas de mercados emergentes monitoradas pela
Bloomberg.
Embora o plano não possa ser classificado
como uma espécie de nacionalização, ele envolve a aquisição parcial da
indústria pelo governo, um movimento semelhante àquele observado em países como
Hungria e Cazaquistão. As propostas devem entrar em vigor em 2018, com a
transferência da gestão dos ativos para o Estado ajudando a reduzir a dívida
pública em cerca de dois pontos percentuais e dando um suporte maior aos
projetos apoiados pelo governo.
“O plano é entregar os ativos dos
fundos de pensão aos poloneses e acumular capital”, disse o vice-primeiro-ministro
Mateusz Morawiecki. “Os fundos de pensão privados não funcionaram como esperado,
o sistema não está servindo a ninguém, não garantiu benefícios mais elevados, nem
ajudou a estimular o crescimento.”
Recuperação
em 2014
Os fundos de pensão de gestão
privada da Polônia, criados em 1999 para prover financiamento de longo prazo
para as empresas e transformar Varsóvia num polo financeiro, possuem um quinto
das ações negociadas na Bolsa de Valores de Varsóvia. Eles perderam 51% de seus
ativos em 2014, quando o governo anterior buscou reduzir a dívida do país. No ano
passado, respondiam por 51,3% do PIB polonês.
Na segunda-feira, as perdas no
mercado acionário foram em grande parte atribuídas à falta de detalhes sobre as
propostas do governo. Kamil Sobolewski, chefe de renda fixa do Nationale Nederlanden PTE SA, o maior
fundo de pensão da Polônia, disse por e-mail que atrair dinheiro para o novo sistema
previdenciário irá exigir medidas para aumentar os níveis de poupança de
aposentadoria e estimular os mercados de capitais locais.
“As coisas parecem muito melhor do
que se pensava”, observa Jaroslaw Lis, diretor de renda variável da gestora BPH
TFI SA, sediada em Varsóvia. “Parece que parte da poupança será poupada e há
grandes chances de que os níveis de capital venham a aumentar com a ajuda de
novos incentivos.”
Bloomberg