Os fundos de pensão suíços deverão
decretar falência em até dez anos a menos que o governo do país passe a contar
com o apoio da população para realizar uma mudança radical no sistema
previdenciário, alegam especialistas.
A pressão sobre a previdência
privada suíça (US$ 840 bilhões sob gestão) se intensificou em 2015 devido às
novas taxas aplicadas às contas correntes e aos retornos cada vez menores providos
pelos títulos públicos.
Martin Eling, professor de Economia
da Universidade de St. Gallen, estima que os fundos de pensão baseados no vínculo
empregatício terão que lidar com um déficit da ordem de 55 bilhões de francos
suíços até 2030 caso o governo não reforme o sistema previdenciário.
Os fundos de pensão são obrigados
por lei a pagar anuidades equivalentes a 6,8% da poupança previdenciária
individual anualmente. Essa taxa de conversão é considerada insustentável por
ter sido estipulada em 2003, quando a expectativa de vida era menor e as
projeções de retorno maiores.
“Não é uma situação sustentável. Se
continuarmos assim por mais dez anos, os fundos de pensão irão à falência e as
empresas patrocinadoras serão obrigadas a fazer aportes volumosos para
salvá-los”, observa Eling.
Jerome Cosandey, economista do think-tank suíço Avenir Suisse, afirma que a decisão do Banco Nacional Suíço de
reduzir as taxas sobre os depósitos para -0,75%, somada aos retornos negativos
dos títulos públicos e à crescente volatilidade do mercado, só tende a piorar a
situação.
A fim de evitar as taxas negativas
sobre as contas em moeda, alguns fundos de pensão têm considerado alternativas
extremas, como depositar notas bancárias em cofres, alerta Peter Zanella, chefe
da área de Soluções Previdenciárias da consultoria Towers Watson, em Zurique.
Marcel Staub, sócio da consultoria
suíça Novarca, diz ter conhecimento de um fundo de pensão que trabalha com a
possibilidade de venda de hipotecas para aposentados uma vez que “a venda de
hipotecas baratas para aposentados renderia mais do que apenas dinheiro”. Outro
fundo de pensão para trabalhadores da área de saúde estuda conceder empréstimos
para a realização de cirurgias como fonte de retornos.
“Há discussões bastante estranhas acontecendo
no momento. O maior medo dos gestores previdenciários é que as coisas piorem
ainda mais. Nós nunca havíamos lidado com problemas desse tipo. Tudo é muito
novo e as pessoas estão assustadas”, afirma Zanella.
Ele acrescenta que muitos fundos de
pensão consideram vender títulos públicos para investir em classes de ativos
mais arriscadas, como infraestrutura e imóveis, a fim de aumentar os retornos.
Em sua opinião, trata-se de uma estratégia “duvidosa”.
“Se a proporção entre ativos e
passivos cair para menos de 100%, será necessário financiamento adicional a ser
arcado, em grande parte, pelo empregador”, alerta Cosandey.
Algumas empresas já enfrentam
dificuldades. O CFO do Credit Suisse,
David Mathers, afirmou, em fevereiro, que o banco poderia estar diante de “um
golpe de capital de cerca de 500 milhões de francos suíços acarretado pelo
impacto das baixas taxas de juros sobre o fundo de pensão”.
O governo suíço discute a diminuição
da taxa de conversão para 6%, bem como o aumento das contribuições sociais por
parte dos empregados. No entanto, na visão de Eling, as propostas não são
suficientemente abrangentes. Além disso, a expectativa é de forte resistência
da população, que já havia rejeitado proposta similar por meio de um referendo
realizado em 2010.
Financial Times