De acordo com Jonathan
Portes, chefe do National Institute for
Economic & Social Research (NIESR), um estudo abrangente dos últimos 30
anos conta uma história bastante diferente do que parece ser um truísmo
moderno: a transferência de riqueza e renda para os boomers e sua recusa em compartilhar fortuna.
Um relatório publicado na semana passada pelo International
Longevity Centre (ILC),
instituição britânica dedicada ao estudo de temas associados à aposentadoria, indica
que a maioria da população idosa passa por dificuldades financeiras, não
podendo, portanto, ser considerada ‘afluente’. As descobertas “apresentam um
contraponto ao que normalmente é alardeado pela mídia a respeito do poder de
compra das gerações pós-guerra”, salienta o relatório. Em outras palavras,
quando se fala em desigualdade, o foco deve ser os ricos e pobres ao invés dos
jovens e idosos.
O
relatório, juntamente com um artigo publicado pelo comentarista chefe da área
econômica do Daily Telegraph, Jeremy
Warner, se propõe a analisar seriamente um debate que há anos envolve opiniões
diversas e bastante calorosas. Entretanto, especialistas levantam dúvidas quanto
às suas principais conclusões.
Angus
Hanton, fundador da Intergenerational
Foundation, por exemplo, acredita que “embora as desigualdades econômicas e
sociais se façam presentes entre diferentes gerações e prejudiquem a mobilidade
social, há argumentos irrefutáveis de que o envelhecimento e as transferências
intergeracionais contribuem, e muito, para a absorção de riquezas, seja via os altos
preços dos imóveis, a elevada demanda por aluguéis, pacotes generosos de
remuneração, promessas previdenciárias baseadas no salário final, benefícios
estatais garantidos e isenções tributárias baseadas exclusivamente em idade”.
Outros estudos demonstram claramente que as políticas governamentais ‘tiram’
dos jovens menos abonados para ‘dar’ aos idosos mais ricos. Vale ressaltar ainda
que o número de idosos mais ricos aumentou em anos recentes, crescimento que
passa despercebido pelos cálculos econômicos tradicionais.
Mas
após examinar a renda e a riqueza de trabalhadores e pensionistas ao longo das
últimas décadas, Jonathan Portes apurou, com base em dados a partir do final da
década de 70, que ‘somente’ 20% dos indivíduos com 65 anos ou mais possuem
renda superior a £25 mil, que é a média dos domicílios compostos por indivíduos
ativos. O pesquisador também avaliou os efeitos das medidas de austeridade,
concluindo que embora os pensionistas tenham sido protegidos pelo partido
Trabalhista com aumentos acima da inflação para a pensão estatal, os casais sem
filhos também escaparam de cortes, beneficiando-se de forma distinta.
Ao
focar a riqueza daqueles com mais de 65 anos, Portes examinou as contas
integeracionais criadas por Martin Weale, seu antecessor no National Institute for Economic & Social
Research (NIESR). Weale, que é membro do Comitê de Política Monetária do
Banco Central britânico, acredita que as gerações mais antigas tomaram posse de
grande fatia da riqueza imobiliária e hoje impõem uma espécie de ‘sobretaxa’ às
novas gerações, sujeitas a imóveis de valor mais elevado. Os mais velhos também
seriam privilegiados no que tange ao tratamento tributário.
Portes
reconhece que as contas, elaboradas em 2011, demonstram que aqueles com idade
superior a 65 anos receberão £220 mil a mais do que pagaram em impostos ao
longo de suas vidas. No entanto, ele questiona os pressupostos por trás dos cálculos,
os quais ele considera arbitrários. Portes argumenta que os grupos mais jovens
pagarão mais impostos porque receberão maiores salários e consumirão mais. Sobre
os preços dos imóveis, ele ressalta que os mais jovens serão futuros herdeiros,
e embora essa distribuição aconteça de forma desigual, trata-se de um fluxo em
que a riqueza é repassada de uma geração para outra.
Sendo
assim, a discussão deve ter como enfoque as diferenças entre ricos e pobres e não
entre jovens e idosos. Contudo, esses cálculos deixam de considerar um ponto
essencial a respeito dos baby boomers:
a maioria deles ainda não se aposentou.
Os
boomers mais novos estão completando
50 anos e os mais velhos se aproximam dos 70. Muitos deles acumularam bons
níveis de poupança previdenciária em fundos privados, excluídos da análise. De
fato, são os planos de pensão corporativos e os programas BD baseados no
salário final, em especial, os responsáveis pela proteção dos aposentados contra
as crises econômicas e os cortes orçamentários.
Em
seu relatório, o International Longevity
Centre (ILC) faz questão de salientar que não se deve tratar os baby boomers como um grupo homogêneo. Muitos
desses indivíduos estão mergulhados em dívidas; outros, embora em melhor situação
financeira aparente, devem quantias elevadas em financiamento da casa própria e
outros imóveis, ficando vulneráveis às oscilações do mercado imobiliário.
Segundo
análise do Institute for Fiscal Studies,
a renda dos aposentados aumentou em 50% em termos reais desde 1994/95, o que pode
significar que esses indivíduos estejam acumulando mais dinheiro porque viverão
por mais tempo. De acordo com o ILC, a renda média dos domicílios compostos por
indivíduos acima de 50 anos é de £541 mil, incluindo-se aí os planos de pensão
individuais e corporativos, propriedades, ativos financeiros e outros tipos de
poupança. Porém, essa riqueza já terá caído pela metade quando os integrantes
desses domicílios tiverem atingido 80 anos.
O
ILC defende que os baby boomers
apenas agem racionalmente ao poupar o suficiente para ter uma aposentadoria
tranquila, mas alguns especialistas se preocupam com a origem desse dinheiro.
Ninguém deseja ver idosos assolados pela pobreza, mas é preciso reconhecer que manter
as pessoas com mais de 65 anos na classe média custa muito mais do que esse
grupo foi capaz de acumular ao longo da vida.
The Guardian