A Grécia planeja dizer aos seus credores que
não poderá realizar as reformas trabalhistas exigidas pelo Fundo Monetário Internacional,
uma condição imposta ao terceiro resgate financeiro ao país, declarou à Reuters
o ministro do Trabalho grego durante entrevista nesta quarta-feira.
O
governo de esquerda considera a demanda do FMI uma afronta aos direitos dos
trabalhadores de negociar, coletivamente, salários e condições laborais. Um
embate com o FMI nesse quesito poderia
comprometer a ajuda financeira do fundo no valor de 86 bilhões de euros,
prejudicando a confiança mundial no acordo.
Horas
antes de uma reunião com a missão da União Europeia e do FMI para discutir
questões trabalhistas, o ministro do Trabalho, George Katrougalos, disse que o
governo iria lutar para manter as negociações coletivas e descreveu o FMI como um
“player” extremo.
“Queremos
restabelecer as negociações coletivas por se tratar do cerne do modelo social
europeu”, disse Katrougalos. Tais negociações foram enfraquecidas em função das
tratativas que levaram a resgates anteriores.
Tanto
o FMI quanto a UE dizem que a falta de flexibilidade da força de trabalho tem tornado
o país pouco competitivo, algo que contribui
para as suas dificuldades econômicas.
Katrougalos
também afirmou que o salário mínimo na Grécia, agora em 586 euros, deve ser
definido pelos parceiros sociais - trabalhadores e empregadores - e não pelo
Estado, conforme exigido pelos credores.
Outras
questões que os credores da Grécia colocaram na mesa de negociação incluem a
flexibilização das leis que regem as demissões em massa, o que permitiria que
os empregadores encerrassem seus negócios, deixando os empregados desamparados,
informa o ministro.
“Os
empregadores gregos já rejeitaram tais medidas”, declarou Katrougalos. “Chegamos
a um ponto em que não podemos mais permitir a deterioração dos direitos dos
trabalhadores.”
Ele
afirmou ainda que não haveria espaço para melhorias na legislação trabalhista,
embora também não haja a “necessidade por mudanças radicais”.
“Não
pretendo discutir outras questões, ao contrário do FMI. Se precisarmos adotar
medidas adicionais no futuro, vamos discuti-las com os nossos parceiros
europeus”, disse ele.
As
reformas trabalhistas são um assunto sensível para o primeiro-ministro Alexis
Tsipras, que governa um país cuja taxa de desemprego é de 23,4%, há altos
níveis informalidade e os fundos de pensão passam por dificuldades financeiras.
Tsipras
chegou ao poder em janeiro de 2015 com a promessa de aumentar o salário mínimo
e as pensões. Reeleito há um ano depois de se candidatar ao terceiro resgate
financeiro, ele se comprometeu a proteger empregos e renda.
Um
relatório sobre reformas trabalhistas a ser elaborado por um comitê composto
por membros do governo grego e seus credores até o final de setembro será peça-chave
nas próximas negociações, disse Katrougalos.
“Nossa
postura e a postura do FMI são tão caoticamente diferentes que uma negociação
sem base em um texto elaborado por especialistas seria impossível”, disse o primeiro ministro.
Ele
afirma que buscará garantias de que as conclusões da comissão serão
respeitadas. O governo pretende apresentar, ainda, uma declaração formal dos empregadores
que o apoiam - uma atitude que foi respeitada pela UE em outros países.
“Eu
insisto que o FMI é um player extremo
porque a sua posição não reflete a cultura europeia”, observou, referindo-se à
legislação e a decisões judiciais que formam o corpo do direito da União
Europeia.
“Aqueles
que desejam salvar a Europa já não podem mais permitir a implantação de determinadas
práticas.”
Um
porta-voz do FMI em Washington disse que o Fundo não pode comentar as
declarações enquanto a sua equipe estiver avaliando formalmente o país.
Os
chefes da missão do FMI chegaram à Atenas nesta semana para avaliar o progresso
das reformas, a primeira revisão do fundo antes da liberação de 2,8 bilhões de
euros em ajuda financeira.
O
governo de Atenas espera que a segunda avaliação tenha um resultado positivo, o
que deverá ajudar o país a ter suas dívidas aliviadas, reconquistar a confiança
dos investidores e voltar ao mercado de títulos.
Apesar
das dificuldades, Katrougalos diz que a expectativa é que a segunda revisão seja
concluída no início de novembro.
“Vai
ser uma negociação difícil, mas estou otimista”, disse ele. “Quem na UE iria
querer outra crise agora, justamente num período de recuperação econômica?”
Reuters