Por Sean Speer*
O
ministro da Fazenda, Bill Morneau, realizou consultas públicas recentes a
respeito do orçamento para o próximo ano fiscal. De fato, o que não lhe falta é
conselho: burocratas, políticos, “think tanks”, acadêmicos e o público em geral
estão sempre dispostos a compartilhar suas ideias.
À medida que vai definido prioridades, há um especialista
cujos conhecimentos ele não deve dispensar, particularmente quando o assunto é poupança
de aposentadoria: ele mesmo. Morneau tem escrito exaustivamente sobre o sistema
previdenciário do Canadá, dando a entender que as preocupações a seu respeito
são exageradas.
O
novo governo chegou ao poder com o compromisso de expandir o Canada Pension Plan (CPP) com base na
percepção de que os canadenses não estão poupando o suficiente para a
aposentadoria e que somente algum tipo de poupança compulsória poderia resolver
o problema. Morneau é agora o responsável pela condução desse trabalho.
Garantir níveis adequados de poupança de aposentadoria aos canadenses é um item
crucial, e o governo está certíssimo em priorizá-lo. No entanto, a expansão do
CPP baseia-se numa leitura equivocada do problema, gerando, portanto, uma
solução inadequada. Como Morneau e Fred Vettese relataram no livro de sua
autoria publicado em 2013 intitulado “The Real Retirement”, as preocupações acerca
de uma suposta crise previdenciária têm como base três percepções equivocadas bastante
disseminadas.
O
primeira delas é que grande parte dos idosos canadenses passa por sérias
dificuldades financeiras. A realidade, porém, é que temos uma das mais baixas
taxas de pobreza entre idosos do mundo industrializado. Então, conforme
escreveram Morneau e Vettese, “devemos esquecer, de uma vez por todas, a ideia
de que a pobreza entre os idosos é um problema significativo no Canadá do século
XXI”.
O
segundo equívoco é a tendência em se calcular o quanto precisamos na
aposentadoria com base na renda da ativa ao invés de considerarmos o consumo
futuro. Essa é uma distinção importante. Precisamos de uma renda menor porque
os padrões de consumo mudam à medida que envelhecemos. Nós já não poupamos mais
para a aposentadoria, arcamos com a educação dos filhos ou pagamos prestações
da casa própria; além disso, os impostos tendem a diminuir porque deixamos de
pagar IR e tiramos proveito de isenções fiscais para a terceira idade. Tentar
alcançar uma taxa de reposição de 100% da renda na ativa faz pouco sentido. A
taxa-alvo para fazer frente ao consumo, em geral, varia conforme as circunstâncias
e preferências individuais, mas a pesquisa de Morneau sugere algo entre 40% e
60%.
O
terceiro equívoco é achar que as únicas fontes de renda na aposentadoria disponíveis
aos canadenses são os programas estatais Old
Age Security e Guaranteed Income
Supplement (GIS), o CPP e demais planos de pensão. Não podemos ignorar
outras formas de poupança ou bens, como imóveis ou negócio próprios, chamados
muitas vezes de ativos do 4º pilar. Trata-se de importantes fontes de renda na
medida em que os aposentados se mudam para uma residência menor, beneficiam-se
da receita de aluguéis, desfazem-se de um pequeno negócio ou lucram com o
mercado acionário. Como Morneau corretamente observou, “no Canadá, os ativos do
4º pilar superam todos os ativos de que dispomos nos três outros pilares
combinados”.
A
qual conclusão chegamos? Nas próprias palavras do ministro: “Os canadenses
estão em situação bem mais confortável do que eles mesmos acreditam - e julgam
os especialistas - em se tratando de planejamento para a aposentadoria”.
Isso
não significa que algumas reformas não poderiam ser feitas para melhorar o
sistema. Um benefício complementar ao GIS para idosos solteiros, por exemplo, seria
de grande ajuda para esse segmento mais vulnerável. Há ainda a intenção da
província de Quebec de aprimorar as regras dos “Pooled Registered Pension
Plans” com o objetivo de mais bem atender aos canadenses que não dispõem de
planos de pensão ofertados pelo empregador. Mas quanto a estarmos diante de uma
crise previdenciária ao ponto de tomarmos uma decisão radical como a ampliação
do Canada Pension Plan, bem, o ministro
deveria ignorar as inúmeras opiniões que tem ouvido e agir conforme suas
próprias crenças.
*Speer é parceiro sênior do Instituto Macdonald-Laurier
e autor de diversos livros sobre aposentadoria e finanças pessoais.
The Globe and Mail