Ao longo da batalha - que já dura seis meses - em torno das
condições de concessão de mais um empréstimo à Grécia, o tema mais controverso
é certamente o das aposentadorias.
Para a Alemanha
e outros países da Zona do Euro, o sistema previdenciário grego é uma grande
trapalhada burocrática que paga benefícios demasiadamente generosos a
indivíduos que se aposentam logo após completarem 50 anos. Para o governo
grego, as aposentadorias funcionam como um programa antipobreza de fundamental importância,
evitando que milhões de famílias passem necessidade.
É bem verdade
que ambos os lados possuem bons argumentos. Antes da crise grega ter início, em
2010, os trabalhadores do país podiam se aposentar mais cedo e com benefícios
mais elevados do que a maioria dos países do continente. No entanto, diversos ciclos
de medidas de austeridade já foram responsáveis por cortes de 27%, em média, nas
aposentadorias.
Embora o mais
recente acordo entre o governo grego e seus credores não ofereça muito
detalhamento sobre como a assunto será tratado daqui para frente, não há
dúvidas de que as reformas implicarão em maiores cortes nos benefícios.
“Última
rede de proteção social”
Em recentes
propostas, os membros da Zona do Euro defenderam que determinadas
características do sistema fossem alteradas. As penalidades aplicadas àqueles
que solicitassem o benefício precocemente, por exemplo, deveriam ser aumentadas.
A idade de aposentadoria deveria passar para 67 anos (ou 40 anos de
contribuição) e as contribuições para o seguro saúde reajustadas de 4% para 6%.
A proposta mais
controversa envolve a eliminação gradual dos benefícios suplementares pagos aos
pensionistas mais pobres. Uma proposta feita no final de junho - e
posteriormente reprovada em referendo - sugeria o fim dos pagamentos até o
final de 2019.
Muitos
integrantes da coligação de esquerda Syriza acham a proposta inviável. “As
pensões tornaram-se a última rede de proteção social, responsáveis por evitar
que a sociedade grega entre em colapso”, afirmou o Primeiro Ministro adjunto Yannis
Dragasakis.
Equilibrando as contas
O acordo
desenhado na última segunda-feira, após dezessete longas horas de negociações,
incluiu uma cláusula de “déficit zero” a ser implantada até outubro. A referida
cláusula proíbe o governo de gastar mais do que arrecada em contribuições previdenciárias
anualmente. Isso significa que cortes ainda maiores deverão ser feitos ao
sistema, que atualmente sofre com um enorme rombo e a total ausência de
sustentabilidade em longo prazo. Somente no primeiro trimestre deste ano, o
sistema havia registrado um déficit de 350 milhões de euros.
O déficit
aumentou ainda mais em decorrência da associação entre a elevada taxa de
desemprego (25%) e uma onda de pedidos precoces de aposentadoria nos últimos
cinco anos, o que ajudou a exaurir o fluxo de caixa. Em novembro de 2013, por
exemplo, cerca de 2,2 bilhões de euros haviam sido recebidos em contribuições.
Doze meses mais tarde, havia apenas 435 milhões nos cofres do sistema, uma
redução de 80% nos recursos.
Ao invés de
anunciar cortes nos benefícios para aliviar o crescente déficit, o Syriza havia
dito que pretendia reestabelecer o pagamento de 13º beneficio aos aposentados,
o que aumentaria ainda os já acentuados desequilíbrios.
15 mil empregados
O credores
gregos também estão de olho na administração do sistema previdenciário.
Dividido em dezenas de pequenos fundos, a previdência estatal emprega cerca de
15 mil funcionários apenas para fazer o pagamento dos benefícios.
O governo grego
já havia demonstrado disposição em dar início a reformas estruturais na
administração do sistema, mas à medida que se apressa para votar reformas a fim de garantir mais uma ajuda
financeira, ainda não está claro quais são os ajustes que estará disposto a implantar.
International Economic Times