Os
últimos números do Sistema de Aposentadoria dos Funcionários Públicos da
Califórnia (CalPERS) mostram que o fundo não conseguiu ganhar dinheiro
suficiente para cumprir com as suas obrigações no último exercício. O CalPERS
registra agora cerca de US$ 100 bilhões a menos do que precisaria para fazer
frente às obrigações previdenciárias dos funcionários públicos aposentados
apesar do aumento maciço dos aportes dos governos estaduais e locais.
Para entender melhor a crise atual,
devemos voltar 17 anos na história, quando o pavio foi inicialmente aceso. Em
1999, o legislativo aprovou a Lei nº 400 do senado, que concedeu aumentos
retroativos às pensões dos funcionários do estado. Naquela época, o CalPERS era
superavitário e, por isso, foi fácil convencer os legisladores de que os custos
associados ao reajuste dos benefícios não aumentariam, na década seguinte, em
função da boa rentabilidade nos investimentos. O CalPERS afirmou que a medida poderia
ser implantada sem que “isso custasse um centavo a mais do dinheiro do
contribuinte”.
Obviamente que as previsões acabaram
revelando-se equivocadas. Temos arcado com um preço elevado, e a conta só fica
mais cara.
A situação do Sistema de
Aposentadoria dos Professores do Estado da Califórnia (CalSTRS) é igualmente
ruim. Em 30 de junho de 2015, o déficit era de US$ 76 bilhões. Desde então, a
situação piorou um pouco mais, embora o fundo ainda não tenha relevado o
quanto.
Aqueles que se opõem às reformas
continuam afirmando que não há motivo para preocupação porque os planos terão
rentabilidade de 7,5% ao ano. Esse é o discurso que vem sendo utilizado para
ludibriar os legisladores e a população desde 1999.
Criamos um sistema que subfinancia
as suas obrigações de forma maciça e sistemática. Com poucas exceções, como Fresno,
outros planos de pensão da Califórnia sofrem com problemas semelhantes. A
dívida acumulada pelo plano de saúde dos funcionários públicos aposentados é
quase tão grande quanto a dívida previdenciária. A nossa recusa em reconhecer que
há um problema resultou numa dívida enorme que recairá não somente sobre os
atuais contribuintes, mas sobre as gerações futuras.
Os dirigentes de sindicatos que
congregam funcionários públicos dizem que a solução é aumentar os impostos e cortar
serviços. É isso que temos feito há anos e, sem dúvida alguma, teremos que
continuar fazendo. No entanto, tais medidas não parecem mais suficientes.
Uma reforma previdenciária abrangente
é necessária para que o nosso sistema se torne sustentável. Em primeiro lugar,
todos os trabalhadores merecem uma aposentadoria segura. Em segundo lugar, os
benefícios devem ser justos, sustentáveis e previsíveis para os atuais e
futuros funcionários públicos. Finalmente, as pensões devem ser integralmente financiadas à medida
que os direitos vão sendo acumulados; além disso, devem ser eliminados
quaisquer incentivos que possam vir a gerar déficit. Tais princípios nos
permitirão alcançar um sistema previdenciário sustentável.
Após 17 anos de fracasso, é hora de
todas as partes interessadas se empenharem na busca por soluções, a exemplo do
que outros estados, como o Arizona, já fizeram.
A nossa omissão fará com que mais
cidades entrem em processo de falência uma vez esgotada a capacidade de
aumentar impostos ou cortar serviços para pagar benefícios. Ao fazermos uma
reforma real e significativa, poderemos garantir os serviços vitais à população
e assegurar a solvência de longo prazo dos sistemas de aposentadoria dos
funcionários públicos, colocando-os no caminho para um futuro sustentável.
Chuck
Reed, ex-prefeito de San Jose, é presidente da Retirement Security
Initiative, um grupo de defesa nacional à reforma previdenciária
Sacramento Bee