O Government Pension Investment Fund (GPIF) do Japão - US$ 1,3
trilhões sob gestão - deverá a anunciar, no dia 29 de julho, o seu pior
resultado desde a crise financeira mundial. A consultoria SMBC Nikko Securities Inc. estima que as perdas no ano fiscal encerrado
em março cheguem a 6 trilhões de ienes (US$ 54 bilhões).
O maior fundo de pensão
do mundo foi prejudicado pelo pacote de medidas de combate à deflação - conhecido
como “Abenomics” - do primeiro-ministro Shinzo Abe. O premier é um grande
defensor da revisão da estratégia de investimento do GPIF, mudança que levou o
fundo a colocar metade dos seus ativos em renda variável. Abe tem sido
criticado por parlamentares da oposição por expor recursos públicos a riscos.
A gestão do GPIF é uma preocupação para os eleitores mais
velhos, que constituem o núcleo do eleitorado e estão mais propensos a
comparecer às urnas em comparação aos mais jovens. De acordo com o comentarista
político independente Harumi Arima, o atraso na divulgação dos resultados vai
ao encontro da estratégia eleitoral de Abe.
“O governo está adotando medidas positivas antes das
eleições e deixando as coisas ruins para depois”, diz Arima, citando políticas
como a distribuição de bônus a idosos de baixa renda e esforços para lidar com
a falta de vagas nas creches do país.
A eleição “não tem absolutamente nada a ver com isso”,
disse, por telefone, o porta-voz do GPIF Shinichirou Mori. Segundo ele, o fundo
está revisando os resultados dos últimos dez anos, por isso precisa de mais
tempo para compor o relatório.
Títulos, ações
Em 2014, o GPIF anunciou a mudança dos investimentos de
títulos para ações - ativos que tendem a ter um desempenho melhor em ambiente
inflacionário - numa tentativa de obter retornos mais elevados diante de uma
população em acelerado processo de envelhecimento. A medida funcionou bem em
princípio, com o fundo obtendo retornos de 12% no ano encerrado em março de
2015.
Desde então, os gestores de ativos têm tido dificuldades em
meio à queda global dos preços das ações. O índice Topix do Japão caiu 24% após
alta registrada em agosto. O relatório trimestral do GPIF demonstra que o fundo
perdeu 511 bilhões de ienes nos nove meses anteriores a dezembro. A consultoria
SMBC Nikko estima que a entidade tenha tido um prejuízo de 5 trilhões de ienes
nos três meses anteriores a março, período em que o Topix caiu 13% e o iene saiu
fortalecido.
Nas pesquisas de intenções de voto, a maioria dos
eleitores indica não ter se beneficiado do pacote “Abenomics”. A popularidade
de Abe apresenta altos e baixos, mas os partidos de oposição registram um
desempenho ruim; logo, tudo indica que ele será o primeiro ministro com mais
tempo no cargo desde os anos 70. Abe e seus assessores têm sido rápidos em
apagar quaisquer indícios de insatisfação popular e o governo já anunciou
planos de elevar os gastos a fim de estimular a economia.
Data da eleição
Ainda não foi fixada a data para as eleições da chamada “câmara
superior” (upper house) do parlamento,
mas a mídia local afirma que o dia mais provável é 10 de julho. Também há
rumores de que Abe pode até vir a antecipar as eleições para os membros da
chamada “câmara baixa” (lower house),
mais poderosa, realizando ambas no mesmo dia.
Desde 2008, o prazo máximo de
divulgação dos resultados do fundo de pensão não passou de 10 de julho.
O novo CEO do
fundo, Norihiro Takahashi, diz ser inevitável que os ganhos do GPIF sejam
afetados, no curto prazo, pela situação econômica, e que retornos consideráveis
poderão ser alcançados no longo prazo.
Bloomberg