A decisão do Calpers de acabar com seus investimentos em hedge funds não acabará com a indústria,
embora demande uma mudança em seu estilo de vida.
Frequentemente, quando o indivíduo
envelhece, uma doença aparentemente boba pode revelar-se como um mal maior.
Esse é justamente o caso da decisão do Calpers de retirar os hedge funds de seu portfolio, que hoje
soma US$ 300 bilhões. A medida não deve arruinar, de imediato, a indústria que
possui várias décadas de existência. Mas várias mudanças são esperadas no
futuro.
Na segunda-feira, o maior
fundo de pensão do país anunciou que deixaria de investir nos fundos de
cobertura (que combinam ações, títulos e moeda e cuja volatilidade é grande
devido ao uso de produtos complicados, como os derivativos). Os gestores da
entidade afirmaram que tais investimentos simplesmente tornaram-se complexos e
caros demais, e que o Calpers não estaria conseguindo ganhar escala suficiente
para fazer com que valessem a pena. A decisão faz com que os gestores de hedge funds tenham que reconhecer duas
coisas.
Em primeiro lugar, a indústria
parece ter perdido a noção de seu propósito original. Os hedge funds foram criados como uma proteção contra o risco. Isso
significa que não se destinam a aumentar os retornos das carteiras, como muitos
esperam. Ao invés disso, por meio deles, os gestores devem ter condições de
mitigar os riscos associados a flutuações do mercado, podendo elevar os
retornos do portfólio quando o mercado acionário estiver em alta. Se a alocação
no segmento for muito pequena, os hedge
funds têm condições de cumprir seu papel sem prejudicar muito a
rentabilidade.
Essa constatação nos leva ao
segundo problema. Os hedge funds
prometem retornos elevados por cobrarem taxas extraordinariamente altas.
Diferente dos fundos mútuos, que costumam praticar taxas de gestão de 1,25% ou
menos, os fundos de cobertura ficam com 2% de taxa administrativa mais 20%
sobre os lucros. As taxas elevadas têm atraído consultores de investimento
medíocres. Agora, há muitos gestores ruins pegando carona com os poucos
competentes que restam e, para justificar as altas taxas, eles fazem promessas
que não têm condições (e nem deveriam) cumprir.
Toda uma subcultura veio à tona para ajudar. “Fundos de fundos’
e outros serviços de assessoria tentam ajudar os gestores de ativos como o
Calpers a encontrar os melhores fundos disponíveis. O problema é que eles
cobram mais por isso, ajudando a elevar o volume de taxas e a piorar o
problema. Dado o papel reduzido a que os hedge
funds se destinam, não surpreende o fato do Calpers ter decidido ‘jogar a
toalha’.
Na verdade, qualquer decisão de investimento deve ser simples.
Se o investidor não ver valor naquela aplicação, ele retira o seu dinheiro. Isso
não significa que os hedge funds não possuem
valor. A questão é que os investidores simplesmente estão pagando demais por
eles. A indústria dos fundos de cobertura precisa mudar de estilo de vida.
Ignorar o problema pode fazer com que ela assine seu atestado de óbito.
Fortune