A base de ativos dos fundos que investem
conforme os princípios da lei islâmica (Sharia) caiu mais de 10% no ano
passado. Tais
fundos, que não podem investir em empresas que lucram com a comercialização de
álcool, carne de porco, pornografia ou jogos de azar, perderam cerca de US$ 10
bilhões em recursos no período, informou a Eurekahedge,
a maior firma de pesquisa de ativos alternativos do mundo.
Trata-se
de uma mudança significativa em relação aos anos anteriores. Em 2012, foi registrada a entrada de US$ 7
bilhões em recursos, movimento considerado por muitos como um sinal de que a indústria
de fundos islâmicos começara a decolar.
Mohammed
Hassan, analista da Eurekahedge, afirma
que a popularidade dos fundos começou a diminuir após o Banco Central americano
ter anunciado medidas de aperto da política monetária no ano passado.
As
políticas contribuíram para aumentar a volatilidade nos mercados emergentes,
aos quais muitos fundos islâmicos encontram-se fortemente expostos. “Vivenciamos
fugas significativas de recursos por esse motivo”, observa Hassan,
acrescentando que os gestores dos fundos islâmicos “têm tido dificuldade para
obter os retornos prometidos aos clientes”.
Contudo,
Hassan observa que a indústria financeira islâmica deve dobrar de tamanho nos
próximos anos, contabilizando US$1,6 trilhões de ativos até 2018, conforme previsto
pela consultoria Ernst & Young, embora os fundos islâmicos representem
apenas 5% desse total, já que eles se tornaram pouco atrativos para os investidores.
Sayd
Farook, líder global dos mercados de capitais islâmicos da Thomson Reuters,
explica: “Apesar dos fundos mútuos islâmicos terem registrados um enorme número
de lançamentos e um volume muito baixo de liquidações no ano passado, seus
ativos reduziram de tamanho. A falta de escala, o aumento da regulação e a
estagnação dos mercados cobraram o seu preço.”
Muitos
acionistas continuam céticos em relação aos fundos ‘Sharia’, que são mais caros
devido aos estudos adicionais que se fazem necessários para avaliar o seu universo
de investimento, incluindo-se aí a contratação de especialistas islâmicos, por
exemplo. No entanto, acredita-se que muitos desses custos poderiam ser mitigados
caso fossem desenvolvidas diretrizes acerca dos investimentos que são ou não
permitidos.
As
duas principais sedes da indústria - a da região do Golfo e a do pacifico
asiático - também precisariam trabalhar melhor em conjunto a fim de promover
suas ofertas, advoga Hassan. “As duas (sedes) praticamente competem entre si,
mas os muçulmanos estão ansiosos para que ambas cheguem a um consenso”,
acrescenta o especialista. “Tal situação faz com que muitos muçulmanos
permaneçam céticos com relação aos produtos ofertados, preferindo manter seu
dinheiro em contas bancárias ou fundos mútuos comuns.”
Tom
Brown, líder global de gestão de investimentos da consultoria KPMG, concorda
que diminuir os custos dos investimentos que obedecem aos princípios Sharia é
crucial para o setor. “Creio que a demanda existe, mas a indústria precisa reduzir
os custos.”
De
acordo com Brown, o rápido crescimento da classe média em países com grande
população muçulmana, como a Indonésia, pode ajudar a canalizar investimentos para
os fundos islâmicos.
Hassan,
por sua vez, argumenta que o desenvolvimento de sistemas de previdência privada
e bem-estar social em países como Iraque e Arábia Saudita podem abrir novos
canais de investimento institucional.
Financial Times