Fundos
de pensão estão unindo forças para promover a revitalização do famoso distrito
da luz vermelha - conhecido como red-light
district - de Amsterdã, livrando-o de alguns de seus elementos mais
indesejados.
Nesta
quinta-feira, dois fundos de pensão holandeses afirmaram estar investindo €60
milhões em um fundo destinado a regenerar a área central da capital turística
do país, permeada de ruelas e canais. Nas últimas quatro décadas, a região tem
sido dominada pela prostituição e lojas que vendem maconha.
Os fundos de pensão dos Trabalhadores
Agrícolas e do Rabobank adquiriram 35%
de participação numa carteira composta por 133 edifícios tradicionais
holandeses em que funcionam tais “negócios”. De acordo com a Syntrus Achmea Real Estate & Finance,
empresa que prestou consultoria aos fundos de pensão, a expectativa é que o
portfólio “registre forte expansão nos próximos anos”.
A participação de investidores
privados é um divisor de águas nos esforços da cidade para tornar o famoso
distrito e áreas afins mais atrativas para turistas, moradores e empresas.
Em 2007, a cidade começou a investir
na revitalização após as autoridades ressaltarem que a área havia se tornado
uma espécie de imã para organizações
criminosos da Europa oriental envolvidas com drogas e tráfico de pessoas.
O alerta foi visto como um
reconhecimento de que a lei aprovada pelo governo holandês em 2000 que legalizara
os bordéis não teve o resultado desejado: uma indústria de sexo mais
transparente e segura.
O governo municipal e corporações
envolvidas na construção de moradias sociais já compraram dezenas de bordéis e
outras propriedades nos últimos anos num esforço para transformá-los em cafés e
lojas. O objetivo é reduzir o número de vitrines de prostitutas para cerca de
320 nos próximos dois anos, contra aproximadamente as 470 existentes em 2007. O
número de cafés autorizados a vender maconha, conhecidos como “coffee shops”, será reduzido de 74 para
31.
Até agora, a transformação tem sido
em grande parte financiada com o dinheiro do contribuinte. Há tempos os investidores
privados relutam em investir na área devido à sua má reputação e à longa
recessão que afetava o mercado imobiliário de Amsterdã desde a crise financeira
global.
“Os riscos de investir aqui eram
considerados demasiadamente elevados”, observa Jasper Karman, um porta-voz da
cidade. “Mas Amsterdam está se recuperando.”
O investimento no fundo 1012 Inc. - cujo nome se deve ao CEP
local - foi feito em colaboração com o governo municipal e a construtora de
moradias sociais Stadgenoot. O fundo tem
como meta uma receita de dividendos anual de 4%.
O investimento inicial dos fundos de
pensão, no valor de €60 milhões, levará ao “aumento do número de cafeterias
verdadeiras, se é que você entende o que eu quero dizer”, ressalta Jaap van der
Bijl, chefe de relações com investidores da Syntrus.
Um exemplo de cafeteria “real” pode
ser visto na Oudekerksplein, uma
praça medieval no coração do distrito da luz vermelha. O café Quartier Putain, batizado com o termo em
francês para prostituta, abriu as portas em 2013 e diz vender “café expresso
pornô”.
Há muita controvérsia em torno da
revitalização do distrito da luz vermelha, gerando discussões acerca dos direitos
dos trabalhadores da indústria do sexo e gentrificação.
É preciso buscar o equilíbrio na
remodelagem das propriedades, disse van der Bijl. Livrar a área de criminosos é
importante, mas “não devemos acabar com a cultura local”.
Amsterdã atravessa um boom imobiliário alimentado pela
escassez de imóveis, recuperação econômica e as baixíssimas taxas de juros. Num
determinado período de pico no primeiro trimestre, os preços dos imóveis chegaram
a ultrapassar os patamares pré-crise de 2008, de acordo com o escritório
nacional de estatísticas. Corretores imobiliários afirmam que o mercado está
começando a superaquecer.
Os fundos de pensão concordaram em
investir no fundo 1012 Inc. sob a
condição de que lhes seria dado o direito de adquirir terrenos para a
construção de quatro complexos residenciais fora do centro da cidade.
O distrito da luz vermelha permanece
como uma anomalia no mercado imobiliário da cidade. Muitas propriedades que eram
utilizadas como bordéis, e que foram compradas pelo município, perderam valor
imediatamente após terem os alvarás de prostituição cassados.
Isso significa que o município pode
perder com as aquisições, disse Karman. “Edifícios com alvará de prostituição simplesmente
valem mais” do que os edifícios destinados a lojas e cafés, explicou.
The Wall Street Journal