Prisão de Temer e Moreira Franco - queda na Bolsa e pressiona dólar


Para analistas, punição de representantes da velha política dificulta ainda mais toma lá da cá pela reforma da Previdência

A manhã foi tensa para a Bolsa brasileira. O mercado, que abriu azedo com a proposta de reforma na aposentadoria dos militares apresentada pelo governo, desandou com a prisão do ex-presidente Michel Temer e do ex-ministro Moreira Franco, por volta de 11h, de ontem.

Na avaliação dos analistas, as prisões tendem a repercutir negativamente num ambiente político já fragilizado, dificultando o andamento da reforma da Previdência. Ficaria mais complicado para o governo de Jair Bolsonaro (PSL) aceitar a chamada velha política, representada por Temer e Moreira Franco.

Paulo Gama, analista político da XP Investimentos, diz que as prisões desta quinta não ajudam na expectativa de que o governo adote um tom menos de campanha e mais pragmático em relação ao Congresso e aos políticos em busca da aprovação da reforma da Previdência.

"O que o Congresso esperava para ter esse avanço era que o governo conseguisse se descolar do discurso de campanha crítico à política tradicional e caminhasse para uma prática mais pragmática. Quando é preso um dos símbolos dessa política tradicional, fica mais custoso para o presidente Jair Bolsonaro fazer esse movimento", afirma.

O fato de o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, ter laços de parentesco com Moreira Franco, que também foi preso, entra na cota do que "não ajuda", segundo Gama. Maia é casado com a enteada de Moreira Franco. No convívio social, eles são vistos como genro e sogro.

A Bolsa também reagiu negativamente à proposta do governo para a reforma na aposentadoria dos militares, apresentada na véspera.

"Uma das avaliações feitas é de que a economia de R$ 10 bilhões em 10 anos é muito pequena em relação à da PEC da Nova Previdência (R$ 1 trilhão). Outra é a sinalização negativa do comprometimento do governo devido às concessões estabelecidas para o grupo", disse a XP em relatório.

"O mercado viu como negativo o plano para os militares, uma vez que ele trouxe uma série de benesses para uma categoria do serviço público [...] O governo tem se apoiado na estratégia de comunicação de que a previdência gera e perpetua desigualdades esdrúxulas no país, e que por isso a mesma precisa ser reformada. Porém, com esse projeto para os militares, o governo instalou um gigantesco telhado de vidro em cima da sua principal linha retórica".



FOLHA DE SÃO PAULO
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