A
Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal
(Fenae) vai propor à diretoria da Funcef, o fundo de pensão da Caixa, que faça
um plebiscito entre os participantes do fundo para decidir sobre a venda da
fatia na Vale. A possibilidade foi informada ontem em reportagem do
"Estado".
Depois de
20 anos da privatização da empresa e do investimento feito pela Funcef, o fundo
terá a opção de deixar a mineradora durante 2017, em função da renegociação do
acordo de acionistas da Valepar, que controla a Vale.
O
presidente da Fenae, Jair Pedro Ferreira, diz que a discussão deve chegar aos
participantes porque esse é um dos ativos mais importantes da Funcef e
representa cerca de 9% do patrimônio total do fundo. A venda do ativo, que em
2015 era contabilizado por R$ 4,5 bilhões, seria uma forma de reduzir os
déficits da fundação durante os últimos cinco anos, que devem levar o rombo da
Funcef para R$ 18 bilhões.
A questão
em torno da venda da Vale é que, mesmo com os déficits gerados pela companhia
durante 2014 e 2015, a rentabilidade líquida desde 1997 ficou 81,3% acima das
metas de rentabilidade da Funcef. O investimento inicial na empresa, segundo a
Fenae, foi de R$ 250 milhões.
Isso
significa que a Vale foi um investimento altamente superavitário. "A Vale
passou por momentos de baixa, mas já chegou a valer R$ 9 bilhões e os
participantes receberam os benefícios dos anos de superávit", diz
Ferreira.
Boa parte
do déficit da Funcef vem do fato de não render dentro de suas metas
estabelecidas. Quando isso acontece, os participantes precisam ratear a
diferença. Foi o que aconteceu no ano passado, quando ficou definido que todos
deveriam pagar em média 2,78% a mais em suas mensalidades para recompor a
capacidade do fundo de honrar as aposentadorias no futuro. Em anos
superavitários, o mesmo acontece, ou seja, os participantes pagam a menos,
dividindo assim o lucro.
Momento.
Outro ponto levantado pela Federação na proposta que vai encaminhar à
Funcef é que será preciso analisar se deve vender o ativo agora. No ano
passado, as ações da Vale valorizaram 127% na Bolsa de Valores. Mas não
necessariamente essa valorização será registrada pelo fundo, já que sua
participação não é direta e a empresa contrata firmas de avaliação que apuram o
valor do investimento a cada ano.
A Funcef
é sócia da Litel, junto com os fundos de pensão da Petrobrás e do Banco do
Brasil. A Litel, por sua vez, detém 49% da Valepar, que controla a Vale com
32,7% do capital. Na Vale-par, além de Litel, os sócios são Bradespar, Mitsui e
BNDESPar.
Os dirigentes da Fenae também vão pedir ao fundo que
esclareça como os quatro diferentes planos administrados pela Funcef serão
afetados pela venda da Vale. Segundo a federação, dos quase 140 mil
participantes, cerca de 90 mil fazem parte de planos que não possuem
investimentos na Vale. Se o objetivo da venda do ativo for para equacionar o
déficit dos últimos cinco anos, boa parte dos participantes não terá alívio.
O Estado de S. Paulo