A
perspectiva de aprovação das reformas necessárias ao ajuste fiscal, incluindo
aí a reforma da previdência, e o início de um novo ciclo de redução dos juros
deverão ser os direcionadores de eventuais mudanças nas políticas de
investimento dos fundos de pensão neste final de ano. Há entretanto a
consciência de que os fatores de incerteza nos fronts político e macroeconômico
continuam presentes, dizem os especialistas em investimentos. “Os sinais
políticos são favoráveis ao governo para que essas reformas aconteçam logo, não
há mais motivos para prorrogar sua votação, então o timing será apropriado para
facilitar a discussão dos fundos de pensão sobre suas políticas de investimento
para 2017”, acredita o sócio-diretor da NetQuant, Marcelo Nazareth.
A possibilidade
de melhoria nas contas públicas poderá trazer de volta o apetite ao risco,
ainda que gradual, e ampliar a diversificação de investimentos em renda
variável e outras classes de ativos, avalia Nazareth. O eventual retorno dos
investidores institucionais brasileiros ao mercado de renda variável deverá
acontecer ainda que em doses muito cautelosas, para aproveitar eventuais
oportunidades.
A
calibragem precisa das estratégias em renda variável é fundamental. “Se mesmo
num cenário de desempenho negativo do Ibovespa, que registrou queda de 55,11%
em dólar entre janeiro de 2010 e julho de 2016, foi possível aos investidores
obterem retornos positivos, fica evidente a importância de se adotar
estratégias e rebalanceamentos entre gestão ativa e passiva que permitam
capturar as oportunidades em cenários turbulentos”. A conclusão é do
gestor da Lacan Investimentos, Luiz Augusto Candiota, para quem os
mercados não são eficientes e costumam fazer movimentos que refletem euforia ou
pessimismo exagerados. É nesses momentos de estresse que
surgem as oportunidades de aproveitar os picos de recuperação pós-crise.
Oportunidades
e riscos – É fundamental manter as decisões tanto nos momentos bons
quanto ruins, o que requer disciplina e paciência uma vez que a diferença entre
valor e preço dos ativos deve ser o direcionador dos retornos de cada
estratégia de renda variável. O segredo, ressalta o gestor, está em investir na
empresa quando o preço e o valor estiverem o mais distante possível, mas ele
reconhece que ir contra o consenso pode ser muitas vezes uma decisão
estressante.
“No
Brasil, o juro ainda segue alto, o grau de investimento deve
demorar a ser recuperado e há uma lista importante de incertezas que, no campo
político, envolvem por exemplo dúvidas sobre a aprovação das reformas pelo
Congresso às repercussões da operação lava-jato”, reforça Candiota. Do
ponto de vista econômico, há como fatores de risco o desemprego elevado, o alto
grau de endividamento das famílias e as restrições ao crédito e, no cenário
global, a estagflação nos EUA. Do lado positivo para aquecer os investimentos
em bolsa no Brasil ele destaca o grande pote de dinheiro que gira lá fora em
ambiente de juros negativos, cerca de US$ 11,7 trilhões, e o potencial desses
recursos que podem querer entrar no Brasil.
Recuperação
lenta - A recuperação econômica brasileira será lenta mas a
tendência é de que a situação comece a melhorar, com menor pressão dos juros
sobre a dívida pública e menor inflação, desde que sejam retirados da frente os
obstáculos políticos ao ajuste, sublinha Marcelo Nazareth: “Se essas
dificuldades forem equacionadas no Congresso, o timing do processo será rápido
e isso deverá facilitar a tomada de decisão de investimento pelas fundações”.
Outro
aspecto importante é o potencial representado pelos investidores institucionais
que deixaram a bolsa desde 2010. A fatia dos institucionais, que representava
33% do volume negociado na BM&FBovespa em 2010, caiu para 25% em julho
deste ano. No caso específico das EFPCs, sua alocação no mercado de ações era
de 33,3% em 2009, percentual que caiu para 18% no final de 2015 segundo dados
da Bloomberg citados por Candiota. “Se as EFPCs voltassem a alocar em ações o
mesmo percentual que mantinham em 2009, o fluxo para a bolsa seria de R$ 107
bilhões”, destaca o gestor.
“O PIB brasileiro ainda não
está em trajetória de recuperação firme e a condição atual é de estresse, mas
há uma perspectiva de melhoria cíclica”, pondera Candiota No caso das empresas,
essa melhoria viria com a utilização de sua capacidade ociosa e alavancagem
operacional. A escolha adequada dessas companhias é essencial,
sublinha o gestor. Entre os requisitos fundamentais para a escolha de
empresas nas quais investir ele cita aquelas cujos ativos estejam
subavaliados (com potencial de geração de caixa); tenham boa gestão e
administração com foco na eficiência e lucratividade e capacidade de antecipar
ciclos econômicos; serem empresas líderes, capazes de gerar economia de escala
e poder de barganha e capacidade de absorver crises.
Diário dos Fundos de Pensão