Michel Temer
participa de cerimônia de lançamento do documento nacional de identificação, em
Brasília - Ueslei Marcelino/Reuters
Os mais antigos não vão precisar de descrição. Ele dava nó em pingo
d'água com o que tivesse à mão. Bastavam quatro palitos de fósforo, um graveto
e duas marias-moles e ele era capaz de montar um fuzil para dizimar os
inimigos. Mesmo que não tenha nenhum palito, graveto ou maria-mole à mão, se
Michel Temer conseguir aprovar a reforma da Previdência pode mudar o nome
para MacGyver.
Praticamente nenhum político em Brasília leva a sério, hoje, a hipótese
de a Câmara dos Deputados dar aval ao pacote na volta do Carnaval.
É preciso ter pelo menos 60% dos votos, um caminhão de 308 cabeças
dispostas a se colocarem na guilhotina a oito meses das eleições. O próprio
governo diz ter um deficit de apoio na casa dos 60 votos.
Isso sem falar que, depois dos deputados, seria preciso enfrentar o
imponderável no Senado.
Falando sério: a reforma da Previdência teve sua última chance de ser
aprovada no ano passado, após Temer barrar as denúncias contra ele e ganhar uma
injeção de ânimo.
Não foi possível. Em vez de promoverem as exéquias naquela época mesmo,
resolveram manter os tubos no paciente até agora, sabe-se lá por que
exatamente. Medo da reação do mercado, crença em Papai Noel, não é possível
precisar.
Temer quer, em suas palavras, entrar para a história como o presidente
reformista. Quer também promover ampla campanha de marketing para reduzir sua
rejeição a apenas 60% —hoje está em 70%. Como bem lembra o chavão, política é
como nuvem, muda a todo momento.
Mas se conseguir
dar o pretendido "tapa" na imagem e aprovar as antipáticas alterações
na Previdência a poucos meses da eleição, às vésperas de deixar o poder e com
aprovação de 6%, pode mandar fazer a placa: Temer, o presidente MacGyver.