No
momento em que se discute a reforma da Previdência Social (pública) para manter
sua sustentabilidade, a previdência privada torna-se o principal financiador do
Tesouro, emprestando ao governo no presente, para receber benefícios no futuro.
Em outras
palavras, as 20 milhões de pessoas que aportam recursos na previdência privada
– sendo 13 milhões de contas na modalidade aberta e sete milhões de
beneficiários na complementar fechada – superaram os bancos como credores da
dívida pública federal doméstica.
Dados
preliminares do mercado sobre o fechamento dos dados de dezembro do Tesouro
Nacional mostram que a participação da previdência privada saltou de 17% (R$
372 bilhões) em 2014, para cerca de 25% (R$ 735 bilhões) em 2016, enquanto o
percentual das tesourarias de instituições financeiras encolheu de 30% (R$ 650
bilhões), para 23% (R$ 700 bilhões).
Desse
patrimônio investido pela previdência privada (aberta e fechada), 42,9% estavam
em papéis com vencimento superior a cinco anos, segundo o boletim do Tesouro
relativo a novembro de 2016, seguido por 39,2% de títulos com prazo entre três
a cinco anos; 12,6% entre um a três anos, e 5,3% com resgate em até um ano.
Quanto ao
perfil, 54,4% da carteira estava posicionada em títulos públicos que pagam
juros reais mais a inflação (Tesouro IPCA), 21,9% em prefixados e 23,7% em taxa
flutuante pós-fixada (Tesouro Selic).
Papéis
públicos de inflação com vencimento em 2024 e 2026 prometem a esses
investidores juros reais de 5,60% e 5,64% ao ano com juros semestrais,
respectivamente, dentro das metas atuariais dos planos.
Na visão
do professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e
Financeiras (Fipecafi), Valdir Domeneghetti, os juros reais acima de 5,5% ao
ano em títulos públicos de longo prazo estão elevados neste momento, mas a
tendência, com o provável efeito da PEC dos gastos do governo é que o Tesouro
passe a resgatar títulos nos próximos anos. “Em algum momento [no futuro], os
juros vão baixar”, aponta o professor.
“O
governo é um grande devedor e o aporte em previdência privada bate recordes.
Fundações conservadoras investem até 90% em títulos públicos se beneficiando
com juros altos da ineficiência do governo”, diz.
O boletim
da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais
(Anbima) mostrava uma captação líquida (entradas superiores aos resgates) de R$
9,98 bilhões em dezembro acumulando R$ 48,2 bilhões em 2016 via fundos de
previdência, principalmente concentrada pelos gestores em títulos públicos
federais.
A maior
parte dessa captação expressiva, de acordo com dados da Federação Nacional de
Previdência Privada e Vida (Fenaprevi) é originada de 12,927 milhões de
clientes do modelo aberto, que adquirem Planos Geradores de Benefícios Livres
(PGBLs) e Vida Gerador de Benefícios Livres (VGBLs). O sistema aberto está em
fase de capitalização quando considerado o número menor de pessoas recebendo
benefícios.
Em
novembro de 2016, o sistema de previdência aberta contabilizava 81,55 mil
pessoas, incluindo menores de 21 anos, recebendo benefícios sob a forma de
rendas programadas mensais ou de pagamento único.
Sistema
fechado maduro
Segundo o
último Consolidado Estatístico da Associação Brasileira das Entidades Fechadas
de Previdência Complementar (Abrapp), a posição direta em títulos públicos
havia saltado de R$ 83,35 bilhões em dezembro de 2014, para R$ 123,86 bilhões
em setembro de 2016.
De forma
indireta, a posição da previdência fechada em fundos de renda fixa, que possuem
mais de 90% de sua composição em papéis públicos também havia crescido de R$
320,53 bilhões para R$ 387,66 bilhões, em igual período de comparação. Em
termos percentuais, os fundos de pensão aumentaram sua participação na renda
fixa de 64,2% em 2014 para 71,5% em setembro de 2016.
Sobre
essa exposição relevante em papéis do governo, o presidente da Abrapp e da
OAB-Prev São Paulo, Luis Carlos Martins, respondeu que os fundos de pensão
investiram em títulos que atendiam suas metas atuariais. “Em 2016 tivemos um
respiro, mantendo o conservadorismo e a preferência na aplicação em títulos
públicos. Mas com um incremento de retorno com a renda variável (ações) na
Bolsa de Valores”, diz.
“Para
2017 há instabilidade com o Trump, com os mercados na Europa, crise política e
econômica aqui no Brasil com alto índice de desemprego. Isso causa desconforto,
e em razão isso, os fundos de pensão não farão grandes alocações”, justifica.
Martins
confirma que a carteira desses fundos está em títulos públicos de longo prazo.
” Só quando a taxa de juros baixar ainda mais, aí sim, no médio prazo (dois
anos), os fundos vão precisar correr mais riscos para bater as metas atuariais
[de rentabilidade]”, apontou.
Ele diz
que a discussão sobre a reforma da Previdência Social já está incentivando
novas adesões. “Só na OABPrev-SP, temos uma média de 600 adesões por mês. As
pessoas estão sensíveis às questões como o aumento da longevidade e da
qualidade de vida que elas pretendem ter na aposentadoria”, afirmou.
Segundo Martins, o sistema fechado é sólido e paga R$
34 bilhões em benefícios por ano, mais de R$ 4 mil mensais por beneficiário.
“Mas esse sistema patrocinado está estagnado e não cresce. O crescimento está
nos fundos instituídos por classe (associativos) e nos fundos para servidores
públicos”, diz.
Revista JRS