A revisão
do regulamento dos níveis diferenciados de negociação na BM&FBovespa (Novo
Mercado e Nível 2), agora em sua segunda etapa de audiência pública, tem sido
apoiada pelos fundos de pensão por meio de reuniões e acompanhamento no âmbito
da Abrapp, já que essa iniciativa de melhor governança das companhias investidas
é fundamental para o fortalecimento do mercado de capitais. A análise é
do diretor executivo da Abrapp e responsável pela Comissão Técnica Nacional de
Investimentos, Guilherme Velloso Leão. Para ele, a revisão das regras ganhará
importância especial se houver a perspectiva de que os fundos de pensão voltem
a diversificar seus investimentos. Esse movimento, entretanto, admite
Velloso, dependerá de uma conjuntura econômica que permita a redução dos
juros reais na economia. “Nesse momento, a melhor governança das companhias
será fundamental para que as Entidades Fechadas de Previdência Complementar
possam voltar a investir no mercado acionário”.
Como
acionistas minoritários, os fundos de pensão precisam contar com um modelo de
governança corporativa que dê maior segurança às suas decisões de investir
nesse mercado, pontua o dirigente, o que depende em grande parte do equilíbrio
entre os direitos dos acionistas majoritários e dos minoritários. “Atualmente,
nos casos de fechamento de capital das empresas investidas, há uma diferença
muito grande entre o valor das ações dos controladores e dos demais, o que gera
insegurança para as futuras decisões de investimento das entidades”. Essas
decisões devem ser sempre fundamentadas em critérios técnicos mas podem ser afetadas
pelos problemas de governança que prejudicam o tratamento igualitário dos
acionistas.
As regras
atuais do Novo Mercado não acompanharam a velocidade da “criatividade” de
alguns para burlar o regulamento, observa o especialista em investimentos da
PPS Portfolio, Everaldo França. “Nesse ambiente, a proteção ao minoritário –
tag along – é o item mais importante a ser aprimorado; o segundo aspecto é
garantir que haja punição sempre que as coisas acontecerem de forma diferente
do que está na legislação”, afirma França. Ele lembra que as questões
sócio-ambientais, no tripé ASG (Ambiental, Social e Governança) evoluíram muito
no mercado internacional e o Novo Mercado também precisa incorporar a
relevância desses critérios nas companhias. “Um compliance mais rigoroso e a
introdução de critérios ASG também de forma mais alinhada aos avanços
internacionais serão essenciais nessa revisão do regulamento”.
Efeito
disseminador - A preocupação com a governança corporativa
que permeia a discussão sobre os níveis diferenciados de negociação não é
comum apenas ao conjunto dos investidores – institucionais ou não - mas também
às boas empresas, pondera o presidente da Amec (Associação de Investidores no
Mercado de Capitais), Mauro Cunha. “Do outro lado desse “cabo de guerra” da
governança estão apenas as más companhias, porque tanto nós, investidores, como
as empresas com boa governança, queremos um ambiente em que o acionista tenha
1% das ações e também 1% de seu valor”, assegura Cunha.
Infelizmente,
num mercado em que muitos players trabalham contra esse ambiente seguro, tanto
empresas quanto investidores passam boa parte de seu tempo apagando incêndios
diários e fica difícil avaliar um processo de reforma das regras no longo
prazo. Para o presidente da Amec, o adiamento do processo de revisão do
regulamento promovido pela Bolsa foi positivo para ampliar o alcance dos
debates.
“É muito importante elevar
o nível dos Conselhos de Administração das companhias e os fundos de pensão
precisam participar desse processo como um todo, para compreender as variáveis
que estão em jogo, porque elas não são binárias”. A partir dessa compreensão,
as EFPCs poderão se tornar disseminadoras de uma nova mentalidade no mercado,
aposta Cunha. Afinal, as empresas precisam ouvir dos fundos de pensão, como
importantes investidores que são, que eles querem um Novo Mercado cada vez mais
relevante, seja nas relações entre companhias e entidades seja por meio
dos gestores terceirizados.
Diário dos Fundos de Pensão