Os fundos de pensão vivem hoje um grande dilema. Desvincular a imagem da indústria como um todo dos fundos ligados às empresas estatais, que além de serem investigadas pelo Ministério Público (MP) e pela Polícia Federal (PF) por suspeita de desvio de verba, são questionados sobre a qualidade e vulnerabilidade na gestão de seus recursos.
São fundos com alta exposição à renda variável, investimentos estruturados e em imóveis. Alguns compraram ativos de empresas que quebraram ou não têm sido lucrativas e carregam déficits bilionários em carteira. Casos da Petros (funcionários da Petrobras), Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa Econômica Federal) e Postalis (Correios). Juntos, representam quase 40% de toda a indústria que tem mais de 260 entidades.
Em meio a uma enxurrada de críticas, a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Privada (Abrapp) reagiu e lançou em setembro um código de autorregulação em governança de investimentos, uma semana após a PF ter deflagrado a Operação Greenfield, que investiga desvios de até R$ 8 bilhões em investimentos feitos pelos quatro fundos estatais. Foi uma resposta aos acontecimentos que arranham a imagem da indústria. Os desvios são uma exceção na indústria, diz José Ribeiro Pena Neto, presidente da entidade, que representa um total de ativos de R$ 763 bilhões em junho, crescimento de 6,2% no ano. Neste período, o déficit das entidades também cresceu de R$ 77 bilhões para R$ 84 bilhões. Quanto às perdas, Neto pondera que no longo prazo o desempenho do conjunto da indústria bate os principais indicadores de renda fixa e variável.
Nos últimos meses, três dos quatro grandes fundos estatais trocaram seus gestores em resposta à Operação Greenfield. Walter Mendes, que era do conselho de administração da Petrobras, assumiu em agosto a presidência da Petros. A entidade administra R$ 67,67 bilhões entre os dois fundos que possui e fechou 2015 com um déficit de R$ 23 bilhões. Mendes notou muitos pontos frágeis, além de falhas na estrutura de governança e de controle de risco. Todos os processos estão sendo remodelados, passando pelas áreas de risco, governança, investimentos, auditoria e ouvidoria. "É preciso que haja política de stop loss, que determina o limite de perda e risco para cada ativo". A exposição à renda variável de seu fundo mais antigo e maduro, com R$ 53 bilhões, deve diminuir gradativamente. Hoje 27,88% da carteira está em ações. Eram 30,54% ao final de 2015 e de 37,53% em 2014. A Petros também irá revisitar as operações estruturadas, onde tem exposição de R$ 4,7 bilhões, e a qualidade das debêntures e dos investimentos em imóveis.
Já o Funcef teve há pouco mais de um mês a presidência e duas diretorias trocadas - a de investimentos e de participação societária e de imóveis. Agora caberá a Carlos Antônio Vieira Fernandes e à nova equipe administrar um patrimônio líquido R$ 57,35 bilhões e reverter o déficit de R$ 8,1 bilhões. "Criamos uma nova política de investimento para reduzir a exposição a risco, mitigar a questão futura do equacionamento e criar planejamento estratégico e transparência nos resultados", afirma Fernandes. O executivo explica que houve um desequilíbrio atuarial. Desde que Vieira assumiu, a Funcef passou a trabalhar de forma colegiada com apoio do conselho deliberativo. Ajustes regimentais estão sendo feitos e a objetivo é que haja incremento de 1% na meta atuarial para o ano que vem. (Valor )
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