"Temos receio que
inocentes sejam acusados e culpados sejam poupados", diz presidente da
Abrapp
A Operação Greenfield,
deflagrada pela Polícia Federal na última segunda-feira, 5 de setembro,
resultou no cumprimento de cinco mandados de prisão temporária, 106 de busca e
apreensão e 28 de condução coercitiva, pode ser negativa para o sistema caso
situações isoladas sejam generalizadas. Essa é a opinião do diretor-presidente
da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar
(Abrapp), José Ribeiro Pena Neto. Para o executivo, casos de desvio de conduta
sempre devem ser punidos, contudo, a generalização em relação ao sistema
prejudica a imagem dos fundos de pensão.
Para Pena Neto, uma das
preocupações do sistema em relação a essa ação da Polícia Federal é que alguém
que cometeu algum desvio passe ileso e um inocente seja condenado. “Sem querer
citar entidades específicas, mas temos receio de que pessoas inocentes estejam
sendo misturadas e, ao mesmo tempo, pessoas estejam sendo poupadas”, destaca o
executivo. “As quatro fundações investigadas viraram exemplo de má gestão, e
temos exemplo de boa gestão nelas”. A ação da Polícia Federal teve como foco
Previ, Funcef, Petros e Postalis.
“O sistema é honesto e tem
pago os benefícios. Quando se fala em desvio, rombo, gera um desconforto aos
fundos de pensão, que cumprem seu dever fiduciário”, destaca Pena Neto.
“Esperamos, contudo, que as investigações sejam levadas até o final e que seja
dado o direito de defesa. Apurados os casos, onde houver conduta criminosa e
temerária, que sejam punidas”, salienta.
Surpresa com tamanho da
operação – O representante se diz, ainda, surpreso com o tamanho da operação.
“Uma ação grande e conjunta da forma como foi feita me surpreendeu. Tínhamos
expectativa de que o relatório da CPI tivesse continuidade nas esferas
competentes. Não esperava que fosse ocorrer uma ação simultânea e com casos tão
diferentes entre eles”. Pena Neto destaca que quando se faz uma operação desse
porte, colocando situações tão diferentes no mesmo patamar, se acende um sinal
negativo genérico em relação aos fundos de pensão.
Ainda na opinião do
presidente da Abrapp, o trabalho feito pela Polícia Federal foi baseado no
relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito que apurou irregularidades
nos fundos de pensão, mas que os casos apontados no relatório devem ser mais
investigados. “A ação é um reflexo do relatório, mas não sei se estão
aproveitando o relatório ou se tem mais informação além daquela que a CPI
recolheu. A preocupação que reitero é que o que foi apurado seja mais
detalhado”, complementa Pena Neto.
Solidez do sistema – Pena
Neto salienta que a Abrapp, como representante dos fundos de pensão, tem
buscado mostrar a solidez do sistema. “Hoje é difundido um conceito de que
déficit é rombo. Se um fundo de pensão tem déficit, conclui-se que houve gestão
fraudulenta. Os déficits não podem ser confundidos com gestão fraudulenta”,
explica Pena Neto. “O simples fato das pessoas estarem vivendo mais do que o
previsto quando os planos foram estruturados já é gerador de déficit. Já o
investimento que não dá certo pode ser decorrente de uma gestão inadequada, mas
todos os investimentos têm risco, principalmente quando a economia está
desestabilizada”, salienta.
Pena Neto diz ainda que os
casos de fundos de pensão que deixaram de pagar benefício são exceções. “Até esses
que estão sendo investigados, não têm nenhum que não esteja cumprindo com seu
compromisso. A mensagem que procuramos dar nesse momento é não generalizar e
não confundir resultado negativo de investimento com desvio de conduta e gestão
fraudulenta. Déficit precisa ser tratado, mas não é sinônimo de rombo”,
complementa.
O sistema de fundos de
pensão é composto por mais de 300 entidades e cerca de R$ 750 bilhões em
patrimônio.
Investidor Institucional