“O
diálogo quase sempre foi um ponto forte nas relações entre a Previc e a Abrapp,
mas a partir de agora o será muito mais”, disse ante-ontem Fábio Henrique
de Sousa Coelho, diretor-superintendente substituto da autarquia, ao fazer uma
de suas intervenções, ainda no período da manhã - na parte da tarde ele foi
expositor em um dos painéis e prosseguiu prestando esclarecimentos - ao buscar
no Encontro Regional Sudoeste 2017, realizado nessa segunda-feira (10)
em São Paulo fazer contraponto às observações de dirigentes quanto aos
ônus trazidos às entidades pela burocracia. Foi nesse ponto que Fábio
adiantou que as mudanças em marcha na Previc iriam conduzir a um novo estágio
em desoneração e simplificação no tratamento dispensado às EFPC, em matéria de
certificação, habilitação e fiscalização. Na sequência, o Presidente da Abrapp,
Luís Ricardo Marcondes Martins, atalhou: “é desse protagonismo da Previc que
muito precisamos”, disse, lembrando que um dos primeiros atos de Fábio ao
assumir o cargo havia sido visitar a Abrapp e reafirmar o valor do diálogo.
“Um
dos ajustes possíveis e que estão acontecendo na Previc é fazer as entidades
sentirem que estão tendo as suas particularidades respeitadas, por exemplo, em
relação ao nível de risco que representam”, disse, valorizando uma das regras de
ouro do modelo de supervisão baseada em risco. Garantiu que entidades alinhadas
às melhores práticas e aderentes à autorregulação receberão um tratamento em
conformidade com a segurança que tal postura inspira.
Ouvir
as associadas - Ouvir as associadas, abrindo-lhes um
espaço maior na programação, foi reconhecidamente uma das marcas do evento, que
reuniu perto de 3 centenas de pessoas e teve como patrocinadores a BRAM –
Bradesco Asset Management e Mongeral Aegon (plus); BlackRock, Itaú e Santander
Asset Management (basic); Banco ABC Brasil, StepStone e i9 Advsory
(co-patrocínio)
Os
quatro presidentes - Luís Ricardo Marcondes Martins (Abrapp), Jarbas de Biagi
(Sindapp), Vitor Paulo Camargo Gonçalves (ICSS) e Luiz Paulo Brasizza (Uniapp)
- ficaram à disposição das associadas, no painel “Momento de Trocar para
Somar-Ouvindo o Sistema”, para esclarecer e dialogar, tendo a conversa girado
em boa parte do tempo em torno do equívoco de se cobrar habilitação de altos
executivos de patrocinadoras que buscam atuar nos conselhos. Algo que foi
lamentado por todos, uma vez que profissionais assim altamente
preparados, na medida em que atuassem como conselheiros, enriqueceriam a
gestão das EFPCs.
Uma
boa ideia - Uma das dúvidas que surgiram entre
os presentes dizia respeito a se a adoção da “adesão automática” seria
invariavelmente uma boa ideia para as entidades, daquelas sem contraindicações.
E a resposta veio clara: trata-se de uma ferramenta de poder comprovado e que
vem contribuindo fortemente para o fomento da previdência complementar nos
vários países em que foi adotada. Em nada afeta o reconhecimento da adesão ao
plano como um ato voluntário, considerando que o participante só nele permanece
se assim desejar. E, como o projeto levado ao Conselho Nacional de Previdência
Complementar no mês passado é claramente flexível, a começar pelo uso do
instrumento apenas pelas EFPCs que o desejarem, ninguém está obrigado a nada,
nem o trabalhador nem a entidade.
Conversou-se
longamente com os dirigentes de associadas também sobre a reforma da
Previdência como oportunidade para colocar o nosso sistema na agenda de
prioridades do País, a necessidade de a certificação e habilitação serem vistas
em seu aspecto inclusivo, a contribuição da UniAbrapp para através do acesso a
estudos internacionais nos fazer saber mais acerca dos melhores modelos globais
e, por fim, como vem atuando a Assessoria Parlamentar da Abrapp, que
proporciona um permanente mapeamento dos projetos que nos interessa acompanhar
de perto na Câmara e Senado, inclusive com avaliação de seu conteúdo.
Nem
perto nem longe - Uma outra questão levantada
referia-se a nossa maior ou menor disposição em desenvolvermos uma agenda com a
vertente aberta da previdência complementar. Foi então esclarecido não
tratar-se de querermos ficar perto ou longe, mas simplesmente de sermos
favoráveis a que sejam identificados pontos de interesse comum a partir dos
quais se possa desenvolver um trabalho conjunto, para mútuo benefício. Um claro
exemplo disso é dado pelo compartilhamento de riscos com seguradoras, mas há
com certeza mais situações em que isso é possível.
Logo
na abertura dos trabalhos, no início da manhã o Diretor Lucas Nóbrega já havia apontado o primeiro evento da série
Encontros Regionais 2017 - o segundo vai acontecer amanhã (12) em
Brasília - como um exemplo do desejo das associadas de participarem de perto da
vida associativa. Por sua vez, o Diretor Carlos Henrique Flory sublinhou que
“apesar dos momentos difíceis, sou otimista em relação ao sistema,
especialmente em razão do impulso do segmento dos servidores”.
De
sua parte, o Presidente Luis Ricardo lamentou “não vermos no Estado brasileiro
uma agenda para o fomento de nosso Sistema, apesar de o Brasil ser o segundo
País que menos poupa na América Latina e um dos que menos o faz no mundo e,
malgrado também, os fundos de pensão se credenciarem claramente como parte da
solução para os problemas do País e, nunca, como parte do problema. Lembrou que
as nossas entidades desembolsam anualmente mais de R$ 42 bilhões no pagamento
de benefícios a um contingente superior a 700 mil pessoas.
Salientou
que em nossa visão haveria espaço para um repensar do modelo previdenciário do
País, com o surgimento de um segundo pilar de capitalização obrigatório, além
da manutenção do voluntário como existe hoje, entre outros pontos de um
redesenho maior. Mas, diante das resistências encontradas no caminho dessa
discussão ampliada, a Abrapp escolheu aguardar um novo momento em que se torne
possível esse debate amplificado, e apóia o projeto de reforma da Previdência
conforme foi apresentado pelo Governo, com a única exceção da redação do § 15
artigo 40, cuja proposta tenta estabelecer uma concorrência desigual no âmbito
da previdência complementar.
Em
seu pronunciamento, Luís Ricardo sublinhou ainda a indispensabilidade de que
sejam concedidos incentivos fiscais, entre outros vários estímulos que precisam
estar presentes em uma política pública efetivamente fomentadora de nosso
Sistema e cujas linhas gerais ele desenhou ao falar para os dirigentes de
associadas de São Paulo.
Um
painel tratou especificamente do “Planejamento Estratégico da Previdência
Complementar 2017-2019”, tendo como expositor o Superintendente-geral, Devanir
Silva. Em sua apresentação mostrou que a previdência complementar fechada quer
dobrar em 3 anos o contingente de participantes de planos. Os
números ainda serão modestos tomando como medida a População Economicamente
Ativa (PEA) brasileira de cerca de 100 milhões de trabalhadores, mas se
alcançado o objetivo o resultado será exatamente o de elevar de 2,5 milhões
para 5 milhões a quantidade de brasileiros cobertos pelo sistema, ou seja, o
dobro em um relativamente curto espaço de tempo e, provavelmente mais, talvez
até muito mais, em um horizonte temporal um pouco maior.
Dentro
do planejamento estratégico, figuram na agenda como objetivos prioritários
desenvolvermos uma visão inovadora (aproveitar a reforma para reposicionar o
modelo, buscar sinergia com o mercado e fortalecer os laços com a comunidade
internacional|), fomentarmos a cultura previdenciária (criarmos um novo valor
para as entidades e planos e desenvolvermos uma comunicação nova em todos os
sentidos), conservarmos as conquistas e trabalharmos por novos avanços (usar as
reformas como oportunidade para fazer pensar sobre a previdência complementar,
buscando entre outras coisas os necessários incentivos fiscais) e, por fim,
ampliarmos a governança e a qualificação (qualificarmos cada vez mais pessoas e
processos, avançarmos com a autorregulação e valorizarmos o ato regular de
gestão, ao mesmo tempo em que desenvolvermos mais e mais o ambiente
associativo.
Duas
portas - Em um momento de discussão da
Reforma da Previdência, o sistema de previdência complementar espera aproveitar
as oportunidades para retomar o crescimento. O painel “A Reforma da Previdência
e as Oportunidades para a Previdência Complementar” apontou que as duas
principais portas para o fomento para as entidades fechadas serão os planos dos
servidores públicos e os novos planos setoriais.
O
subsecretário do regime de previdência complementar, Paulo César dos Santos,
ressaltou que a reforma deve abrir a possibilidade de adesão de cerca de dois
mil entes federativos ao regime de previdência complementar. “Apenas oito
estados já oferecem a previdência complementar para seus servidores. Em pouco
tempo serão dois mil entes públicos que deverão oferecer planos de previdência
complementar”, disse Santos.
Carlos
Flory, diretor da Abrapp, mostrou projeções que dão conta do forte potencial de
crescimento dos fundos de pensão dos servidores. O SP-Prevcom, do qual é
presidente, tem o potencial de alcançar 200 mil participantes à medida
que os servidores da ativa se aposentem e os novos servidores sejam contratados.
Isso sem contar a adesão de outros estados e municípios ao fundo que aprovou o
multipatrocínio no final do ano passado. Rondônia é o primeiro estado que
assinou protocolo de adesão ao SP-Prevcom. “Há outros três estados e
alguns municípios que demonstraram interesse em aderir ao nosso fundo”, disse
Flory.
Paulo
César dos Santos elogiou a iniciativa do fundo de pensão de São Paulo de buscar
novos patrocinadores e incentivou que outras entidades fechadas também sigam
esse exemplo para elevar a adesão de entes públicos, instituidores e
participantes.
“Não
devemos ficar esperando eles virem até nós. Temos que ir até eles”, defendeu o
subsecretário. Ele incentivou ainda a criação de novas modelagens de planos
mais adaptadas às necessidades do mercado de trabalho atual.
Uma
das inovações do sistema são os planos instituídos setoriais oferecidos para
associações e entidades de classe. “Os planos instituídos setoriais representam
um divisor de águas para retomar o crescimento do sistema”, disse José Roberto
Ferreira, sócio-diretor da Rodarte Nogueira e Ferreira.
Ex-superintendente
da Previc, Ferreira comentou a proposta de criação de um plano setorial
instituído pela própria Abrapp. A associação pretende implantar um plano
setorial no qual as entidades fechadas poderão participar como afiliados
setoriais. A Abrapp terá o papel de instituidor setorial e suas associadas
poderão aderir ao plano para oferecer aos dependentes dos participantes.
O
novo projeto da Abrapp tem prazo de implantação até agosto de 2017. O projeto
inclui a seleção de um fundo de pensão já existente para administrar o plano de
benefícios, que será do tipo de contribuição definida.
Busca
de maior retorno - O novo ciclo de corte de juros da
economia brasileira deve levar os fundos de pensão a buscar alternativas de
maior risco e maior retorno nas aplicações. Essa foi o ponto central discutido
pelos participantes do painel “Dinâmica dos Mercados: Foco em Oportunidades”.
Luís Guedes, superintendente de renda variável da Bram – Bradesco Asset
Management, indicou que o momento do mercado deve levar ao aumento da exposição
à bolsa. “É o momento de aumentar a renda variável? Acreditamos que sim. As
reformas avançaram bastante e há um processo de ancoragem de inflação, com a
perspectiva de taxa de juros de um dígito”, disse Guedes.
Murilo
Robotton, head de multimercados da Santander Asset Management, concordou com a
recomendação de aumento da renda variável. “Hoje já temos projeções do Ibovespa
em 85 mil pontos. Mas a tomada de decisão não pode demorar muito, sob risco de
perder a mão”, disse o gestor. Ele acredita que a bolsa deve gerar nos próximos
meses retorno maior que outras classes de ativos como multimercados e renda
fixa.
Rodrigo
Araújo, diretor comercial da BlackRock, ressaltou a importância não apenas da
alocação em diferentes classes, mas a utilização de estratégias dinâmicas de
investimentos para capturar melhores retornos com riscos mais controlados.
“Hoje o mercado tem estratégias dinâmicas como smart beta para capturar
crescimento na renda fixa ou variável”, disse Araújo. O executivo recomendou
ainda a busca de utilização de estratégias ativas e passivas (beta) para obter
maior eficiência de custo nas aplicações.
Mirela
Sampaio, economista da Itaú Asset Mangement, elencou argumentos que podem
ajudar a ampliar o corte dos juros da economia. Entre os argumentos a favor do
maior corte da Selic estão os compromissos do governo federal com as metas
fiscais, reformas estruturais e a independência do Banco Central. A economista
alertou, porém, que há elementos que podem atrapalhar o corte dos juros como
por exemplo o aumento da dívida pública.
Governança
e autorregulação - Fábio de Sousa Coelho, diretor
superintendente substituto da Previc, abordou os temas da governança e
autorregulação dos fundos de pensão em sua participação no painel “Governança
de EFPC: Revendo Conceitos, Revitalização e Aperfeiçoamentos”. Em relação à
autorregulação, ressaltou a importância do trabalho da Abrapp e a escolha da
governança dos investimentos como primeiro item do novo código da associação.
“A
principal fonte de risco tem origem no processo decisório de investimentos”,
disse o titular da Previc. Ele ainda explicou o novo desenho da Previc a nova
divisão de diretorias. A principal novidade é a criação de uma diretoria de
normas, que deve ampliar o poder de discussão sobre o arcabouço normativo do
sistema.
Adriana
de Carvalho Vieira, coordenadora da Comissão Técnica Nacional de Governança da
Abrapp, também tratou da governança das entidades fechadas e alertou para os
problemas do projeto de lei 268 que tramita no Congresso Nacional. “Um dos
pontos críticos é a oneração da estrutura dos fundos de pensão com a
contratação de diretors através de processo seletivo”, disse Adriana. A
profissional comentou ainda que a medida não garante a blindagem do comando dos
fundos de pensão a problemas com os profissionais.
O
funcionamento da Câmara de Recursos da Previdência Complementar (CRPC) e a
defesa do “Ato Regular de Gestão” foram os temas abordados por Fernanda
Mandarino Dornelas. Advogada e assessora jurídica da Previnorte, Fernanda é
representante de patrocinadores e instituidores na CRPC e ressaltou a crescente
importância que a argumentação com base técnica vem adquirindo nos julgamentos
da Câmara.
A transferência de risco de planos de benefícios de
entidades fechadas para as seguradoras foi o assunto tratado por Nelson
Emiliano Costa, superintendente técnico atuarial da Mongeral Aegon.
Aproveitando a experiência de mercados mais desenvolvidos, o especialista
explicou os principais mecanismos de terceirização do risco dos planos para o
mercado segurador. As regras para a transferência de risco estão em fase final
de elaboração pelos órgãos reguladores do mercado brasileiro
Diário dos Fundos de Pensão