O governo
está para enviar ao Congresso Nacional projeto de reforma da Previdência, algo
que poderá acontecer ainda hoje (6) e que especialistas apontam como
início de uma discussão necessária e urgente. É verdade que para muitos esse
seria o momento a ser aproveitado para se fazer o redesenho do modelo
previdenciário brasileiro, abrindo com isso espaço não apenas para o advento de
soluções mais sustentáveis para o regime geral mas também para o fomento da
Previdência Complementar, mas quanto à urgência de se reformar a Previdência
Social não parecem existir maiores divergências. “Quem diz não ser isso
necessário simplesmente está somando todas as receitas da Seguridade Social,
onde se verifica de fato um pequeno superávit, mas sem perceber que, quando se
gasta mais em benefícios previdenciários, está se retirando dinheiro da saúde e
da assistência social”, resume Jaime Mariz, ex-Secretário de Políticas de
Previdência Complementar e um dos maiores conhecedores das questões
previdenciárias do País e expositor na última sexta-feira (2), no Rio, do Iº
Seminário de Previdência Complementar, promovido pelo Instituto
Latino-Americano de Direito Social (IDS). No mesmo painel, o juiz federal Fábio
Souza, Coordenador e professor do IDS, concordou que é preciso mudar, mas “sem
desproteger a sociedade”.
“Temos
hoje no Brasil um modelo de aposentadoria perdulário, desigual e precoce”,
notou Jaime, dizendo que por conta disso o Brasil gasta proporcionalmente 4
vezes mais em previdência do que os EUA. E ao ter tal gasto, completou, o “Pais
fica impedido de ter uma política social mais robusta, faltando dinheiro para
os dois outros pilares da seguridade, o da saúde e o da assistência social”.
Tendência
explosiva - Jaime apresentou uma série de dados a confirmar a urgência
da reforma, que já tarda. Por exemplo, nos últimos 5 anos o déficit do regime
geral cresceu nada menos de R$ 100 bilhões, devendo superar este ano os R$ 140
bilhões e “apontando para uma tendência explosiva”.
Os
regimes próprios, explicou, crescem de forma menos explosiva, se expandem
a um ritmo de cerca de 10% ao ano, mas têm contra si dois fatos: estão
atingindo ainda assim os R$ 90 bilhões e cobrem uma massa (ao redor de 1 milhão
de pessoas) imensamente menor do que o regime geral (mais de 32 milhões).
Deve-se
fazer a reforma da Previdência, continua Jaime, até mesmo por um dever
constitucional, considerando que o caput do artigo 21 determina o equilíbrio
financeiro e atuarial.
Medidas
tributárias - No final, Jaime notou que melhor seria que o momento fosse
aproveitado para uma reforma menos paramétrica, compreendendo um redesenho do
modelo e nisso incluindo o fomento da Previdência Complementar. Na sua opinião,
medidas de incentivo de natureza tributária devem fazer parte de qualquer
política pública séria que busque tal objetivo.
Por sua
vez, para o advogado Flávio Martins Rodrigues, do Escritório Bocater, Camargo,
Costa e Silva Advogados, aliás, políticas públicas de incentivo serão
naturalmente muito bem vindas, mas as entidades também podem contribuir para o
fortalecimento da previdência complementar fechada lançando mão, como entes
privados que são, de uma prática de auto organização ainda mais intensa.
Como sua
natureza privada permite, as entidades podem se valer mais intensamente da auto
organização e nessa forma caminhar para a gestão baseada em risco.
Já Fábio
de Souza disse inicialmente não contestar a necessidade de se fazer a reforma
em si, mas recomendou cautela para não se produzir distorções e “desproteger a
sociedade”.
“O grande
desafio é reformarmos a Previdência sem produzir desproteção”, lembrando que a
reforma já começou no ano passado com mudanças de regras ainda ao tempo do
governo Dilma.
Diário dos Fundos de Pensão