Bernanke admite erros do BC dos EUA no combate à crise de 2008


O ex-presidente do Federal Reserve Ben Bernanke reconheceu que o banco central americano cometeu dois erros críticos no combate à crise financeira uma década atrás: não previram sua chegada com tanta força e depois subestimaram o estrago econômico que causaria.

“Ninguém enxergou o quanto a crise em si seria espalhada e devastadora”, ele afirmou durante um breve vídeo sobre um estudo de 90 páginas a respeito do assunto, divulgado nesta quinta-feira.

Bernanke comandou o Fed de 2006 até 2014 e hoje trabalha na Instituição Brookings, em Washington. Ele identificou o pânico que tomou conta do sistema financeiro com o colapso do Lehman Brothers Holdings, em 2008, como principal razão para a profundidade da recessão que se seguiu.

A falha em antecipar a severidade daquela derrapada “exige uma inclusão mais minuciosa de fatores do mercado de crédito nos modelos e previsões da economia” no futuro, escreveu ele separadamente em um blog.

Bernanke foi o segundo integrante do Fed a fazer mea culpa nesta semana. O ex-vice-presidente Donald Kohn concordou que o banco central fez erros de previsão durante a crise e depois dela. O Fed também superestimou os custos potenciais de seu polêmico programa de estímulo quantitativo e foi mais tímido do que deveria na execução do mesmo, ele disse.

“Nós ficamos atrás da curva”, disse Kohn durante uma conferência sobre a crise na Brookings, na terça-feira (11).

Bernanke discorda de quem argumenta que o estouro da bolha de preços de imóveis residenciais – e seu impacto sobre o patrimônio das famílias e os gastos dos consumidores – foi o principal fator para a crise profunda de uma década atrás. Ainda que esse fator sem dúvida tenha exercido influência importante, especialmente ao desencadear a crise, Bernanke entende que a recessão não teria sido tão grave se os investidores não tivessem resgatado às pressas dinheiro de bancos e outras instituições financeiras.

“Houve uma corrida, um pânico análogo ao dos anos 1930, mas de forma eletrônica e não com gente fazendo fila na rua”, ele disse no vídeo. “A disponibilidade de crédito despencou.”



FOLHA DE SÃO PAULO
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