Pandemia afasta ainda mais negros da aposentadoria
do INSS.
Em
SP, crise teve mais impacto na contribuição previdenciária do trabalhador
negro.
A garoa desta quinta-feira (18) veio a calhar para
o ambulante Carlos Souza, 58 anos, que estava mesmo precisando faturar com a
venda de guarda-chuvas nas ruas da região central da capital paulista.
Sem um registro na carteira profissional “há bem
mais de 30 anos”, ele conta com o clima para obter renda.
“Nem adianta pensar
em aposentadoria”, diz. “Quando não chove, vendo cintos, mas ganho menos.”
Negro e trabalhador informal, Souza faz parte de um
grupo da população que enfrenta mais dificuldades para ter acesso ao emprego e,
consequentemente, a benefícios previdenciários, como as aposentadorias pagas pelo INSS (Instituto Nacional do
Seguro Social).
A pandemia de Covid-19, porém, distanciou ainda
mais esses trabalhadores da proteção oferecida pela Previdência.
Entre o primeiro e o segundo trimestres de 2020,
houve redução de 12,4% entre os negros que contribuíam para a Previdência no
mercado de trabalho paulista, enquanto entre brancos a redução foi de 5,7%,
segundo estudo da Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados).
“A informalidade é um problema histórico, mas
como a população negra está envelhecendo, essa situação também revela outro problema:
eles não vão conseguir se aposentar”, afirma Paula Montagner, chefe da Divisão
de Indicadores Sociais da Seade.
“A dificuldade de acesso à Previdência também reflete o racismo
e a discriminação”, diz Montagner.
“Com a informalidade crescendo, impulsionada
pela pandemia, a tendência é reproduzir isso ainda mais.”
O
impacto da pandemia em São Paulo foi ainda mais desigual quando considerados
apenas os trabalhadores que não contribuem para a Previdência.
Enquanto a taxa
de ocupação recuou 11,2% entre brancos, o índice sobe para 23,5% entre negros.
FOLHA DE SÃO PAULO