O tratamento orçamentário,
baseado na análise de curto prazo do fluxo de receitas e despesas
administrativas, é um caminho que começa a ser revisto pelos fundos de pensão,
cada vez mais atentos à necessidade de adotar uma visão atuarial para o tema.
“A gestão administrativa, para ter um equilíbrio sustentável, precisa ser feita
a partir de uma análise das receitas e despesas sob o ponto de vista de longo
prazo, ou seja, é preciso que haja um tratamento atuarial, explica o
diretor de Operações e Previdência da Mercer Gama, João Marcelo Carvalho.
Ele destaca que as despesas dos fundos de pensão são pagas por três fontes de
recursos: o valor que já está acumulado no fundo administrativo, a arrecadação
via taxa de administração e a arrecadação pela taxa de carregamento sobre as
contribuições.
Embora a maioria das
entidades continue fazendo uma gestão de caráter puramente orçamentário, ou
seja, baseada nas necessidades do ano seguinte, o consultor aponta uma
crescente percepção dos problemas que isso pode provocar, uma vez que essas
receitas não são fixas. Elas estão relacionadas com o patrimônio dos planos e
com o nível de contribuições e de benefícios pagos, o que significa que o fluxo
de receitas é claramente atuarial.
“As fundações determinam
suas necessidades de gastos para o ano seguinte, mas as receitas que irão fazer
frente a esses gastos não são constantes ao longo do tempo, mesmo porque as
taxas cobradas dependem de uma série de fatores, incluindo o fluxo atuarial do
plano. Então, é preciso projetar as receitas e também as despesas a partir
desse fluxo”, diz Carvalho.
Equilíbrio - Durante o segundo
semestre do ano, quando começam a ser discutidos os orçamentos dos fundos de
pensão para o ano seguinte, essa preocupação ganha importância. Atenta ao tema,
a Pouprev – Fundação de Seguridade Social, entidade criada em 2000, ilustra bem
essa mudança de conceito em sua gestão administrativa. Responsável pela
poupança previdenciária dos funcionários da Associação de Poupança e Empréstimo
Poupex, a entidade contava no final de junho com 1.329 participantes (42
assistidos) e patrimônio de R$ 264,2 milhões. “Como a grande maioria das EFPCs,
a fundação tem um orçamento apertado e com o qual é preciso muito esforço para
conseguir pagar as despesas operacionais”, explica o diretor de Administração e
Finanças da Pouprev, Joni Robert S. Barth.
Sua fonte de recursos é
uma arrecadação de apenas 1% sobre o salário de participação dos participantes
ativos e assistidos, além de 0,25% sobre a mesma base, da patrocinadora. Esse
valor, observa Barth, não é suficiente para custear a totalidade das despesas,
então a patrocinadora oferece sua estrutura física e de TI, assim como a equipe
de trabalho. Os recursos arrecadados são direcionados basicamente para o
pagamento dos prestadores de serviços terceirizados (entre outros, consultoria
atuarial, contador, gestão do passivo, consultoria e investimento, risco e
enquadramento e advogados).
“Mesmo com um rigoroso
acompanhamento orçamentário e o estabelecimento de indicadores para nortear
todas as despesas, temos a preocupação com o futuro e de não onerar os
participantes”, ressalta o diretor. Levando em conta que a arrecadação é
diretamente relacionada com o salário de participação, essas receitas terão um
comportamento que varia de acordo com o fluxo previdencial da fundação.
“Consideramos também a possibilidade de alteração não prevista no comportamento
das despesas, como por exemplo a eventualidade de a patrocinadora não mais
ceder a sede da fundação ou o corpo de colaboradores, questões que
aumentaram a preocupação com a gestão do PGA”, afirma Barth.
Para aperfeiçoar a análise
da relação entre arrecadação e despesas, a entidade optou por um estudo de
sustentabilidade do fundo administrativo de seu plano de benefícios. Outro
fator para a contratação desse estudo foi a busca pela otimização na
relação entre receitas e despesas e a eventual possibilidade de desonerar os
participantes com a redução da taxa de carregamento, evitando surpresas desagradáveis
no futuro. “Essa análise levou em consideração um horizonte futuro de 30 anos,
período escolhido por ser o prazo no qual o plano tende a estabilizar seu fluxo
de caixa”, sublinha o diretor. As hipóteses atuariais e orçamentárias foram
exaustivamente debatidas para que se pudesse chegar ao fluxo mais fidedigno
possível. Como resultado, afirma Barth, “tivemos a análise das receitas e
despesas de forma melhor estruturada e pudemos verificar a sustentabilidade do
Fundo Administrativo no longo prazo, considerando as taxas vigentes”. O estudo
também demonstrou que as despesas devem estar sempre controladas, pois caso
elas se elevem acima de um determinado patamar que foi calculado, isso poderá
comprometer a sustentabilidade do fundo.
Riscos do curto prazo - As despesas, explica
João Marcelo Carvalho, também precisam ser projetadas de forma prospectiva.
“Para fazer esse estudo, é necessário refletir sobre o percentual de
crescimento da folha nos anos seguintes, dos valores pagos aos prestadores de serviços
e verificar se o fluxo de despesas é fixo ou variável e, se for variável, a que
fatores ele está atrelado”. O pagamento da Tafic, por exemplo, está atrelado ao
patrimônio do plano, então é um fator variável. Ele lembra que o olhar de
longo prazo pode ser usado para modificar as taxas de administração e de
carregamento.
O ideal é que o PGA receba a mesma atenção dispensada a um plano de
benefícios, que o seu passivo seja analisado de forma prospectiva assim como as
receitas. Da mesma forma, pontua Carvalho, os recursos acumulados devem ser
objeto de uma política de investimentos casada com o passivo, sempre com
um olhar de longo prazo. Um dos riscos de se fazer uma análise
orçamentária pura e simples das receitas e despesas é de que os recursos acumulados
no PGA sejam compreendidos de maneira equivocada pelos órgãos de governança da
entidade. Há casos em que o patrocinador e os conselhos olham para esses
recursos e acham que o dinheiro está sobrando, que não há necessidade de fazer
mais pagamentos relativos às despesas administrativas, sem compreender que à
medida que o plano amadurecer as receitas da taxa de carregamento cairão e
poderá surgir desequilíbrio. “O olhar de curto prazo para esse assunto pode
levar a patrocinadora a tomar uma decisão errada para o futuro do plano”,
conclui o consultor.
Diário dos Fundos de Pensão