Por que é comum sentir angústia aos domingos?
- É simplista atribuir toda a culpa desse mal-estar à iminência da
segunda-feira
- Principal causa é a ansiedade que surge ao pensar nas
responsabilidades, diz pesquisa
Justamente no aguardado dia de folga, um incômodo
difícil de definir revira no peito. Pode parecer contraditório, mas é na
suposta tranquilidade de um domingo que muitas pessoas sentem angústia.
Em uma pesquisa realizada pela Talker Research nos
Estados Unidos, os participantes relataram enfrentar a "angústia
dominical", em média, 36 vezes por ano. Considerando os 52 domingos de
2025, por exemplo, isso significa que apenas 16 seriam realmente tranquilos.
O
estudo ainda revelou que esse incômodo costuma aparecer por volta das 15h54.
A principal causa, apontada por 36% dos
entrevistados, seria a ansiedade que surge ao pensar nas responsabilidades, nas
tarefas acumuladas, nos boletos e em todos os outros desafios da vida adulta
que chegam junto com o início da semana. Mas há muitos outros fatores
envolvidos.
Amanhã é segunda
É simplista atribuir toda a culpa desse mal-estar
à iminência da segunda-feira. Se você ama a sua
rotina e, ainda assim, o domingo pesa, a resposta pode estar no que aflora
quando a mente tem mais espaço para refletir.
Autor de "Em Busca de
Sentido", o psiquiatra e psicólogo austríaco Viktor Frankl (1905-1997) define
essa sensação como a "neurose do domingo". Sem as distrações da
rotina, surge a pergunta incômoda: qual é o propósito da minha vida?
Se você anda tocando tudo no piloto automático, sem
conseguir ter uma rotina gratificante além da interminável lista de tarefas, é
provável que o conflito interno apareça —e, com ele, o vazio.
Nesses momentos,
em vez de tentar mandar a angústia embora, pode ser interessante mapear qual
parte da sua vida está causando esse incômodo e o que é possível fazer a
respeito.
A
lógica da otimização do tempo tomou conta até mesmo dos nossos momentos de
lazer e relaxamento, o que nos fez perder a capacidade de lidar com o ócio e
com o tédio.
"O domingo tem um aspecto que retira completamente a
possibilidade de que seja vivido de fato: a famosa programação por
antecedência", disse o psicanalísta Guilherme Facci no episódio "A
neurose de domingo", no podcast "A loucura Nossa de Cada Dia".
"O desejo se sustenta justamente numa certa falta e, portanto, numa
imprevisibilidade.
Ter que programar todas as atividades de um domingo é a
morte de qualquer desejo."
FOLHA DE SÃO PAULO