Miami atrai bancos e vira 'Wall Street South'.
Boom
populacional e atrativos tributários mudam foco financeiro nos EUA.
Wall Street está diferente. Saem as quadras apertadas com pouca luz em meio aos arranha-céus
da parte baixa de Manhattan, em Nova York, e entram as ensolaradas avenidas do bairro de Brickell, na sempre
quente Miami, no sul dos Estados Unidos.
A diáspora de bancos e instituições financeiras
para Miami nos últimos dois anos e meio tem sido tão grande que a região já
ganhou o apelido de Wall Street South (sul), em referência ao coração
financeiro dos EUA, ao norte.
O movimento mais recente, e talvez um dos mais
significativos, aconteceu em junho, quando o bilionário Ken Griffin anunciou
que tiraria de Chicago a Citadel, multinacional de fundos hedge e serviços
financeiros que gere mais de US$ 51 bilhões em ativos, e levaria a empresa para
a cidade da Flórida.
A lista de
empresas que têm feito investimentos massivos na cidade inclui ainda Goldman Sachs e Blackstone, além de instituições brasileiras, como os bancos
Bradesco e Itaú.
Uma série de
fatores ajuda a explicar essa debandada.
O mais citado é o tributário: a Flórida, ao
contrário de quase todos os estados americanos, incluindo Nova York e
Califórnia, não tem um imposto de renda estadual além do cobrado pelo governo
federal.
Em segundo lugar, está o conjunto de regras muito mais brandas para conter a pandemia em
relação a outras regiões do país.
O governador republicano Ron DeSantis, por
exemplo, chegou a chamar a obrigatoriedade de uso de máscaras de
"insanidade" e "teatro".
E em terceiro
lugar, em parte por consequência das regras sanitárias mais brandas, o boom
populacional pelo qual o estado passa desde o começo da pandemia, com a
possibilidade de morar em regiões mais tranquilas e de clima mais ameno com o
trabalho remoto.
O crescimento acelerado também tem impactos negativos. Dados da
CoreLogic, empresa que analisa informações do setor, compilados pela imprensa
americana, apontam Miami como a cidade com a maior inflação no aluguel dos EUA
—alta de 40,8% entre abril de 2021 e abril de 2022.
Na sequência, está a
vizinha Orlando, com 25,8% de inflação no aluguel. Nova York, para se ter uma
ideia, teve 8,4% de aumento no mesmo período.
É claro que a mudança não é unanimidade.
À Bloomberg, Jason
Mudrick, da Mudrick Capital Management afirmou: "O principal problema de
se mudar para a Flórida é que você tem que viver na Flórida".
FOLHA DE SÃO PAULO