Atender
os participantes e assistidos dos planos de benefícios em tempos de crise é um
desafio que começa a trazer mudanças importantes para a área de Relacionamento
com o Participante das Entidades Fechadas de Previdência Complementar. O papel
desses profissionais, particularmente daqueles que atuam diretamente no
atendimento, ganha novos contornos e exige uma reinvenção total, inclusive da
percepção que a alta direção das entidades tem dessa área.
O tema
foi discutido no 2º Workshop promovido pela Comissão Técnica Regional Sudeste
de Relacionamento com o Participante da Abrapp, que procurou identificar os
principais obstáculos à eficiência dessa área diante das novas necessidades de
seu público. O encontro colocou em debate as questões que afetam especificamente
o atendimento.
“Crise
financeira, dúvidas sobre o futuro, o que acontecerá com a previdência social,
o problema do desemprego e todas as consequências desse ambiente exigem uma
nova visão das entidades, é hora de descartar uma postura meramente
quantitativa para humanizar o atendimento”, diz a coordenadora da CTR, Karla
Maia. A humanização nas relações com as pessoas, portanto, tenderá a ser o
grande diferencial do sistema fechado de previdência complementar diante das
opções de mercado daqui para a frente.
Nas
atuais circunstâncias do país, isso fica ainda mais evidente e é muito comum
que as pessoas procurem o atendimento de seu plano porque, além de demandarem
informações técnicas, precisam ser ouvidas, querem falar de sua experiência e
de seus problemas. E isso é válido para todos, incluindo os altos executivos.
“Nessa hora, as dúvidas, angústias e preocupações atingem a todos”, diz Karla.
O que levará, necessariamente, a um reposicionamento da alta direção das
entidades. “Hoje as EFPCs dizem ao seu participante: “você é importante,
queremos ouvi-lo”, mas nem sempre quando ele fala encontra eco”.
Investir
mais na importância da área de Relacionamento com o Participante e
transformá-la em uma diretoria autônoma poderá ser o caminho, acredita a
coordenadora da CTR. “Quem faz a entidade são os seus participantes”, nota.
A força
dos argumentos - Em tempos de crise múltipla, com uma série de colapsos
econômicos, políticos e sociais acontecendo em âmbito nacional e internacional,
é essencial destacar a importância de ter bons argumentos quando se fala de
previdência complementar. Isso é fundamental seja para incentivar adesões, seja
para estimular contribuições mais elevadas. “Precisamos deixar claro para a
nossa equipe no front, ou seja, os profissionais que fazem o atendimento, que é
essencial ter bons argumentos”, explica a integrante da CTR e uma das
responsáveis pela apresentação sobre os efeitos da crise, Denise de Oliveira
Cunha Marins.
Essa
argumentação precisa lembrar aos participantes, e também aos empregados dos
patrocinadores que ainda não aderiram aos planos, que a poupança
previdenciária foge de qualquer contexto imediatista. “Apesar dos problemas e
apertos financeiros provocados pela crise no curtíssimo prazo, a equipe de
atendimento tem que explicar às pessoas a importância da previdência como
planejamento de vida, planejamento para o futuro e lembrá-las do aumento da
longevidade”, observa Denise.
Nesse
sentido, se por um lado a situação econômica do país dificulta as decisões de
aderir ou de elevar o percentual de contribuições, a perspectiva de mudanças na
previdência social abre espaço para que as pessoas enxerguem melhor a
importância de planejar seu futuro com uma aposentadoria complementar.
Abrangência – A
amplitude cada vez maior das demandas dos participantes e assistidos leva
também a um papel mais abrangente do atendimento, como enfatizaram os
palestrantes do workshop. “Estamos diante de uma crise múltipla no País e é
preciso despertar o profissional de atendimento para o seu papel nesse momento,
não apenas para atender e informar mas para ser um intérprete das necessidades
das pessoas atendidas”, pondera Karla. Nesse sentido, o workshop procurou
utilizar todas as ferramentas que possam ser eficientes.
Até mesmo
uma encenação teatral, com duas cenas sobre o tema, trouxe a questão da
abrangência para o centro dos debates. Além de um atendimento mais humano e
próximo das pessoas, é preciso conhecimento técnico sobre diversos assuntos e
uma interação mais ágil com as demais áreas da entidade. “As áreas técnicas,
por sua vez, também precisam compreender melhor a urgência das demandas
colocadas pelo atendimento”, lembra Karla.
Repensar
indicadores - Entre os aspectos que precisam ser repensados está a
necessidade de atender a um público que vai desde o jovem “high tech”, aquele
que cobra mais informações de todos os tipos nos websites, até os assistidos
mais idosos que preferem um atendimento por meios físicos. “O público está em
constante mudança e o atendimento precisa mudar com ele”.
A
humanização do atendimento começa pela consciência de que a própria vida das
pessoas está em jogo quando se discute aposentadoria, e isso exige múltiplos
papéis dos profissionais que lidam com elas. “Empréstimos, pensões, adesões,
questões relativas à previdência social, dúvidas sobre casos que envolvam
familiares, enfim há todo um universo de assuntos abordados e a principal
qualidade de um atendente precisa ser sua capacidade de lidar com o ser
humano”, destaca a coordenadora.
Isso leva
à necessidade de repensar os indicadores de desempenho utilizados pela área.
Referências como o Tempo Médio de Atendimento (TMA) e o Tempo Médio de Espera
(TME) são realmente válidos? Até que ponto esses indicadores são úteis de fato?
Essas questões foram discutidas durante o workshop e são cada vez mais
relevantes para humanizar o trabalho da área. “Precisamos inclusive repensar
relatórios, olhar menos para números e mais para as pessoas”, diz Karla.
Seguindo essa lógica, “a melhor forma de passar a informação às pessoas é a que
elas quiserem”.
Poupar
para a velhice - A conscientização sobre a necessidade de investir mais no papel
do relacionamento, especialmente em momentos conturbados, não pode ser apenas
dos profissionais que atuam nessa área, lembra Denise Marins: “É mais importante
do que nunca que essa preocupação seja da entidade como um todo e de seus
dirigentes”.
No painel
que discutiu os impactos da crise, por sinal, um dos destaques foi a situação
previdenciária brasileira frente a outros países. Os palestrantes lembraram que
poupar para a velhice, para além do INSS, deveria poder ser algo oferecido a um
número muito maior de brasileiros. Nesse esforço, a área de Comunicação
das EFPCs precisa atuar em conjunto com a de Relacionamento para melhorar os
percentuais de contribuições e elevar o nível das novas adesões.
Essa
característica nacional de baixo índice de poupança previdenciária complementar
só vem aumentar o desafio dos profissionais de relacionamento em períodos
difíceis. “São esses profissionais que fazem a diferença na vida do
participante porque ouvem diretamente suas necessidades, seus anseios, falam
diretamente com ele e explicam como a entidade vai atuar”. São esses
profissionais que transmitem com seu olhar, sua voz e no trato pessoal os
valores de credibilidade, transparência e segurança financeira primordiais para
a pessoa tomar uma decisão sobre o plano previdenciário.
Durante o
evento, a coordenadora da Comissão Técnica Nacional de Relacionamento com o
Participante da Abrapp, Marisa Bravi, relatou histórias que ilustram a
importância da área e as ferramentas disponíveis para aprimorar esse trabalho.
O profissional da área de Relacionamento, enfatizou a especialista, é um
importante meio de interação entre os diversos setores da entidade para que os
esforços de todos possam fluir melhor.
A pesquisa feita com os presentes aos dois dias do workshop
apontou sugestões para que ele seja estendido também aos profissionais de
outras áreas das EFPCs, refletindo uma demanda no sentido de aperfeiçoar a
interação dentro das entidades. “A pesquisa de satisfação com o evento teve
97,5% de nota máxima e zero em nota baixa, um índice muito revelante”,
informa Karla Maia.
Diário da Previdência Complementar Fechada