Rotina de atendimento em bet tem clientes
desesperados e ameaças de morte, relata funcionária
Agente de suporte
da Blaze diz que lida diariamente com histórias de quem perdeu tudo
A rotina de trabalho no setor de suporte em
uma plataforma de apostas online envolve
desde tirar dúvidas sobre saque de dinheiro até pedidos desesperados de ajuda.
Segundo uma profissional da plataforma Blaze ouvida
pela Folha, as jornadas são de oito horas e chegam a dez nos fins
de semana, com cerca de 160 atendimentos diários por meio de chat.
A empresa,
registrada em Curaçao, afirma ter mais de dois milhões de jogadores registrados
e exibe parcerias nas redes sociais com o jogador Neymar Jr. e a influenciadora
Virgínia, entre outras celebridades.
Zélia (nome fictício) afirmou que a maioria das
solicitações trata de dúvidas sobre os prazos para o dinheiro sacado da
plataforma cair na conta dos usuários.
Mas também há relatos de quem perdeu
tudo e de quem implora para que a própria conta seja excluída e, ainda, ameaças
de morte —embora ela atenda de forma anonimizada— e menção a suicídio.
Mesmo para pedidos de ajuda ou situações extremas,
os atendentes só podem responder com mensagens aprovadas dentro dos protocolos
de atendimento, o que causa desconforto em diferentes situações, segundo Zélia.
"É complicado, nós ficamos abalados e depois temos que continuar como um
robozinho."
Se uma pessoa, por exemplo, pede a exclusão da
conta, recebe apenas um banimento temporário de 30 dias, segundo o relato da
profissional. Depois desse prazo, a conta é reativada e o usuário pode voltar a
apostar.
"Tem casos em que sei que parentes tentam
encerrar pela outra pessoa, e a gente não pode, porque exigem o documento dela
e precisam que a pessoa diga que é ela mesma, a dona da conta, a não ser que
prove que é incapaz."
A companhia, uma das autorizadas pelo Ministério da Fazenda para
operar no Brasil, afirmou, em nota, que casos sensíveis —que
envolvem vício ou mencionam suicídio— recebem o devido tratamento.
"A
opção de exclusão definitiva está disponível e é tratada com rigor para
assegurar que os direitos do usuário sejam respeitados.
Os colaboradores, por
sua vez, são orientados a seguir protocolos para fornecer a assistência
necessária aos usuários."
FOLHA DE SÃO PAULO