Jonas Lopes diz que levou
bronca do então presidente do TCE, José Gomes Graciosa, ao distribuir propinas
sem avisá-lo.
Os longos capítulos da
corrupção no Rio de Janeiro, desvendados pelas investigações recentes, reservam
espaço para histórias curiosas e, ao mesmo tempo, didáticas, sobre o
estabelecimento das relações de poder. Um destes relatos é o da autoridade que,
incomodada em ser substituída brevemente no comando da distribuição de
propinas, deu uma bronca no substituto, ao estilo do clássico “quem manda aqui
sou eu”.
Em depoimentos que fazem
parte de seu acordo de delação premiada, o ex-conselheiro do Tribunal de Contas
do Estado (TCE) Jonas Lopes de Carvalho revelou que, ainda novato no TCE, ouviu
uma reprimenda do então presidente, José Gomes Graciosa, preso semana passada
na Operação O Quinto do Ouro.
Corria o ano de 2001 e,
segundo os depoimentos, obtidos pelo GLOBO, Graciosa era o responsável por
arrecadar e distribuir as propinas para os conselheiros. Os valores giravam na
casa dos R$ 400 mil mensais — R$ 300 mil originários do governo do estado e R$
100 mil provenientes do Detran. Em uma ocasião, o dinheiro foi entregue no
gabinete de Jonas Lopes. O delator, então, procurou Graciosa por telefone, mas
não o encontrou. Resolveu chamar os conselheiros e comandar, ele mesmo, a
distribuição do suborno. Foi o bastante para irritar o então presidente do TCE.
Jonas Lopes recebeu uma ligação de Graciosa e foi convocado para uma reunião no
gabinete dele.
“Lá chegando, Graciosa, na
presença dos demais conselheiros que participavam do ‘acerto’, passou uma
descompostura no colaborador (Jonas Lopes), de forma violenta”, contou o
delator ao Ministério Público Federal (MPF).
Nas palavras de Jonas
Lopes, Graciosa tratava o assunto com bastante rigor: “Dizendo que o tribunal
(TCE) tinha um presidente (Graciosa) e que o tema de acertos financeiros era
assunto da presidência e que, portanto, o colaborador (Jonas Lopes) não deveria
se meter”, diz o depoimento.
Na época, além de Graciosa
e Jonas Lopes, o órgão era formado pelos conselheiros Aluisio Gama de Souza,
Marco Antônio Barbosa de Alencar e José Maurício de Lima Nolasco, que estão
presos, além de José Leite Nader, já morto. Sérgio Franklin Quintella também
integrava o colegiado, mas não recebia propinas.
Dois anos depois, ao
cumprir uma missão a pedido de Graciosa, Jonas Lopes passou do papel de alvo a
portador de uma reclamação. O delator contou ter ido a Brasília para uma
reunião com o então deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O objetivo era
cobrar um pagamento mensal de R$ 100 mil da Cedae, empresa cuja diretoria havia
sido indicada por Cunha. A reação do parlamentar foi, nas palavras de Jonas
Lopes, a “pior possível”.
“Cunha xingou muito Graciosa,
dizendo que ele seria muito ganancioso”, contou o delator.
Em represália à negativa, o TCE começou uma auditoria na Prece, fundo de
pensão da Cedae. Procurada pelo GLOBO, a defesa de Graciosa não foi encontrada.
G1