JUROS


Juros sobem em reação a comando da economia de Lula 3 e BC faz alerta.

Governo eleito mostrou, até agora, que não está preocupado com o efeito negativo do aumento de gasto público.

No dia em que o governo Lula 3 anunciou mais dois nomes importantes da economia, o Banco Central soltou um documento de rotina, mas que conversa de modo implícito com as alternativas de política econômica ora postas sobre a mesa pelo presidente eleito. 

Em vez de promover mais crescimento, tais planos podem elevar inflação, dólar e juros.

O documento é a exposição de motivos da decisão do BC a respeito da Selic, chamado de "Ata do Copom". 

Os novos nomes na economia são Gabriel Galípolo, que será o secretário-executivo de Fernando Haddad, e Aloizio Mercadante, presidente do BNDES.

Embora tenha escrito que o cenário continue nebuloso, a direção do BC dedicou-se, de modo mais extenso do que de costume, a comentar o risco de aumentar gastos do governo, diretos ou por meio de estatais ("parafiscais"), e de tentar reduzir taxas de juros por meio de bancos públicos.

A direção do BC escreveu que o gasto do governo pode afetar a inflação por meio de estímulo a consumo e investimento, de seu efeito na taxa de câmbio ("dólar"), na incerteza, nas expectativas de inflação e no nível da taxa de juros sustentável, "neutra" (aquela que, em tese, evita que a economia esfrie ou esquente além da conta).

Se o gasto aumenta quando desemprego e ociosidade nas empresas são baixos, há inflação na veia. 

Se o gasto tende a provocar um aumento acelerado da dívida pública, dólar e juros tendem a subir: pode haver uma combinação de inflação com retranca de investimentos produtivos. 

Juros subsidiados por bancos estatais (como o BNDES) podem obrigar o BC a elevar a taxa básica de juros (Selic), a fim de compensar o "desconto" dados nas taxas administradas pelo governo.

Em suma, sem folga econômica e confiança de que a dívida não vai crescer sem limite, o tiro do gasto adicional sai pela culatra. 

Em traços amplos, é uma descrição da interpretação de economistas padrão sobre erros centrais de política econômica de Dilma Rousseff.

Até agora, credores do governo e donos do dinheiro acham que Lula vai por aí. 

Está evidente na alta dos juros desde que Lula, eleito, passou a falar de economia —não é preciso fazer pesquisa de opinião. 

A continuar assim, a "incerteza" vai se tornar risco sério de naufrágio.



FOLHA DE SÃO PAULO
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