Realidade
ou por enquanto apenas um desejo alimentado por alguns poucos sinais de um
início de recuperação da economia brasileira e de seu setor produtivo, o
movimento de gestores de carteiras de fundos de pensão no sentido da
diversificação e do risco é algo que começa a ser captado por pesquisa.
Levantamento da Mercer vai nessa direção e a expectativa é que essa
tradução dos números se veja refletida pelo menos em parte nas políticas de
investimentos das entidades para 2017.
Da fuga
da renda variável ninguém tem muitas dúvidas de que aconteceu de fato, fruto
dos desacertos e incertezas da economia brasileira. O “Consolidado Estatístico
da Abrapp”, em sua edição de junho, deixava ver que, na média, os fundos de
pensão direcionavam para a renda fixa naquele mês nada menos de 72% de suas
carteiras. Isso porque, até 2013, parte das entidades ainda se dava ao trabalho
de destinar às ações algo que lhes permitisse aproveitar alguma pequena reação
do pregão. Depois, nem isso, mesmo porque daí em diante o chamado mercado
bursátil praticamente deixou de emitir boas notícias. Agora, isso mudou, embora
ainda seja cedo para que se tenha certeza de que a mudança tenha vindo de forma
definitiva.
Muito
pelo contrário - A pesquisa da Mercer foi fechada em setembro e
divulgada agora. “Muito ao contrário do que mostrava a pesquisa que fizemos no
final do ano passado, agora os gestores de carteiras de fundos de pensão falam
muito mais em diversificação para agregar valor, através da Bolsa, de
investimentos estruturados e alocações no exterior”, sintetiza Lucas Schmidt,
consultor sênior de investimentos da consultora.
Na
pesquisa de 2015, relata Schmidt, 25% dos gestores exprimiram o seu propósito
de reduzir a fatia da renda variável em suas carteiras, 52% pensavam em
mantê-la e apenas 5% alimentavam a disposição de aumentá-la. Este ano,
esses percentuais são de, respectivamente, 4%, os mesmos 52% e 27%. Como se
percebe, o humor em relação às ações está mudando e, naturalmente, tal
mudança tenderá a ser crescentemente sentida à medida em que os juros e a
remuneração da renda fixa forem efetivamente decaindo.
Os
participantes naturalmente se movem mais lentamente. No caso das entidades que
oferecem a quem participa de seus planos a possibilidade de escolher o perfil
de investimento que deseja, a pesquisa apurou que em 49% das situações a opção
é pelo comportamento “conservador” e em 36% pelo “moderado”, restando um
pequeno espaço de 15% para o “agressivo”. Schimidt observa ser natural que “as
pessoas olhem o mercado pelo retrovisor, mas se espera que este último
percentual suba tão logo as fundações abram a janela para novas opções”. A
troca de estilo é geralmente permitida pelas entidades 1 vez por ano.
A
pesquisa também deixa evidente que, por quaisquer que sejam as tendências daqui
para a frente, as entidade se preocupam em segurar os efeitos benéficos do período
de juros altos. Isso porque os gestores de carteiras de planos BD também falam
em Bolsa e investir no exterior, mas com menos ímpeto, até porque 82% de seus
papéis estão marcados na curva, com o pensamento muito claro de serem levados
até o vencimento. “Quando perguntamos a eles o motivo de terem feito um ALM”
(asset liability management), “52% responderam que a razão foi o desejo de
marcar os títulos na curva”.
A pesquisa, feita com 111 entidades, basicamente
privadas, mostra ainda uma outra tendência: as EFPCs estão distribuindo a
gestão de suas carteiras entre um número cada vez maior de gestores. “Até 2 ou
3 anos atrás, o mais comum era se encontrar entidades com 2 ou 3 instituições
trabalhando para elas, quando hoje tornou-se muito mais comum aquelas com 7 e
até 8”, conclui Schmidt, segundo quem “isso parece atender ao desejo de se
beneficiarem de uma diversidade maior de competências e estratégias”.
Diário dos Fundos de Pensão