Crimes cibernéticos mobilizam mercado
segurador
A preocupação do mercado segurador, do órgão
regulador e demais agentes do setor financeiro com os crimes cibernéticos foi a
pauta do segundo dia do evento “Oficina Brasil Fides de Inovação em Seguros:
intercâmbio de oportunidades e experiências em ESG e riscos cibernéticos”,
realizado em Brasília, na sexta-feira (14).
O diretor técnico da CNseg,
Alexandre Leal, informou que o Brasil ocupa hoje o segundo lugar no ranking da
América Latina com maior número de tentativas de ataques cibernéticos, tendo
sido registradas 100 bilhões de investidas nesse sentido em 2022.
O primeiro
lugar é do México, com registro de 187 bilhões de tentativas no ano passado.
“Isso explica a razão de o tema sobre cyber
segurança estar na pauta de todos os agentes do setor e precisa ser enfrentado
com urgência.
O cenário dos riscos cibernéticos evoluiu rapidamente por conta
da digitalização dos processos e foram agravados pela pandemia”, comentou Leal,
acrescentando o dado de que no ano passado houve cerca de 360 bilhões de
tentativas de ataques deste tipo aos sistemas de empresas e organizações na
América Latina e Caribe.
Em termos de coberturas desse tipo de risco, o diretor
informou que, em 2022, o valor arrecadado foi de R$ 170 milhões e o total de
indenizações pagas chegou a R$ 64 milhões, o que demonstra ser um ramo ainda
incipiente, mas com potencial de crescimento.
Durante os dois dias da Oficina Brasil FIDES, foram
debatidos aspectos da evolução do setor segurador em segurança cibernética e de
adoção de boas práticas nos temas ASG, com destaque para o meio ambiente,
mudanças climáticas e políticas de diversidade e inclusão nas empresas no
Brasil e nos outros países do Cone Sul da Fides (Argentina, Paraguai e
Uruguai).
Laboratório de segurança cibernética
O coordenador de TI da Febraban, Bento Filho, em
sua palestra apresentou a iniciativa de criação do laboratório de segurança
cibernética para atender as necessidades de prevenção e combate ao cybercrime,
tornando-se o primeiro centro feito pelo sistema financeiro voltado para o
treinamento e capacitação em cyber segurança, realização de simulações de
ataques cibernéticos para se desenvolver respostas aos incidentes, aplicação de
inteligência, padronização de ações e busca de inovação permanente.
“Os bancos
investem por ano cerca de R$ 30 bilhões em tecnologia e 10% disso são
direcionados para a segurança, física e digital”, afirmou o representante da
Febraban.
As seguradoras brasileiras estão mobilizadas nesse
tema. De acordo com João Passos, executivo da Brasilseg, a pandemia promoveu
uma aceleração da transformação digital em todos os segmentos, o que também
ampliou os riscos.
“Por isso, estamos nos dedicando a maturar as ações de
segurança”, afirmou ele. Robson do Amaral, da Liberty Seguros, acrescentou que
as empresas devem fazer autoavaliações sobre a que riscos estão mais expostas e
esse “olhar para dentro de casa” precisa ser exercitado.
“Não se trata só de
ter um departamento de TI, ele nos dá o suporte. Mas é preciso que haja pessoas
dedicadas a avaliar os riscos dentro das estratégias e também fomentar uma
cultura de cyber segurança entre os colaboradores. Todos somos responsáveis”,
defendeu Amaral.
Normas são fundamentais para dar o norte
Os executivos das seguradoras e os representantes
da CNseg foram unânimes em afirmar que o envolvimento do órgão regulador de
seguros é muito importante, pois são as normas que padronizam ações e elevam os
debates e as trocas de informações sobre o tema.
Representantes da Superintendência
de Seguros Privados (Susep), responsáveis pela supervisão da aplicação das
normas, destacaram o acompanhamento da adesão à circular 638/2021 que trata da
política de segurança cibernética das seguradoras.
“Dentro desse contexto de transformação digital é
possível ver oportunidades, mas não se pode esquecer dos riscos envolvidos”,
afirmou Saulo Valle.
“E vemos muito valor em trabalhar em parceria com o
mercado, não de cima para baixo, mas com troca de informações e experiências
para evoluirmos juntos”, completou Fernando Abreu.
Ambos integram a Coordenação
de Supervisão de Estrutura de Gestão de Riscos e Governança da Susep.
Compartilhamento de incidentes cibernéticos
O fundamental para se ampliar a proteção a ataques
cibernéticos é a troca e o compartilhamento de dados, defendeu o diretor de
Serviços da CNseg, André Vasco, ao apresentar no evento as principais
características do banco de dados sobre incidentes cibernéticos coordenado pela
entidade.
O banco está disponível para as associadas da Confederação e ele
centraliza informações sobre a ocorrência de incidentes em todo o mundo.
Ao
captar algo, o sistema dispara alerta às associadas e oferece uma proposta de
correção para aumentar a proteção à falha. “Com um compartilhamento rápido de
informação, ajudamos a reduzir riscos e aumentamos a proteção”, comentou Vasco.
Os representantes das associações da indústria
seguradora de Argentina, Paraguai e Uruguai parabenizaram o Brasil pelas
iniciativas de investimento em cyber segurança, admitindo que seus países ainda
precisam avançar muito nesse tema.
“Temos ainda um mercado muito pequeno nesse
ramo, com poucas apólices voltadas a cobrir o risco cibernético.
Estamos alguns
passos atrás”, afirmou Gustavo Trias, diretor-executivo da Associação Argentina
de Companhias de Seguros. Ele comentou sobre algumas ocorrências e tentativas
de ataques registrados na Argentina, mas acrescentou que ainda não há uma
consciência das empresas em comunicar os incidentes, o que ajudaria numa
evolução mais rápida.
O presidente da Associação Paraguaia de Companhias
de Seguros, Antonio Vaccaro, afirmou que também falta uma cultura de cyber
segurança em seu país, o que faz com que não haja produtos de seguro nesse
tema.
No campo da gestão, ele informou que existem iniciativas, mas
incipientes, de regulação da tecnologia da informação das empresas seguradoras
por parte do órgão regulador local.
O diretor-executivo da Associação
Uruguaia de Empresas de Seguros, Alejandro Veiroj, relatou uma situação
parecida com a dos dois vizinhos, afirmando que o Uruguai ainda está muito
atrás na questão de cyber segurança.
SONHO SEGURO