“A
Previdência Complementar precisa ser fomentada no País, é algo imprescindível”,
disse o Presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro, Paulo Protasio.
Ele foi além, abrindo a rede de mais de 2.300 associações comerciais através do
País para que o assunto seja melhor debatido, para que desse debate resultem
avanços concretos na direção desejada. E ao falar, no início dos trabalhos do
fórum promovido pelo Instituto IBMEC sobre Previdência para Formadores de
Opinião, Protasio não encontrou quem dele discordasse. “Os fundos de pensão
são parte da solução, seja garantindo uma renda melhor para os aposentados ou
na condição de investidores em um Brasil com tão baixa taxa de poupança
interna”, reforçou sentado ao seu lado o Presidente da Abrapp, José Ribeiro
Pena Neto. De fato, sublinharam dois economistas, Paulo Tafner, pesquisador do
IPEA, e Paulo Rabelo de Castro, Presidente do IBGE, o brasileiro precisa ser
estimulado a poupar, o que envolve não apenas um trabalho educacional, mas
também a limitação da previdência estatal básica do INSS a um patamar mais
baixo de renda, assim abrindo espaço para o regime complementar.
José
Ribeiro defendeu que a sociedade deve unir-se em torno desse projeto de fomento
da poupança previdenciária, uma vez que a previdência complementar assegura uma
efetiva proteção ao trabalhador e todas as condições de capitalizar a economia
de forma estável e com visão de longo prazo, melhor que qualquer outra
alternativa existente. Anualmente, lembrou José Ribeiro, são pagos mais de R$
36 bilhões em benefícios a mais de 700 mil participantes já assistidos, uma
razão a mais para a boa avaliação que estudos internacionais fazem dos fundos
de pensão brasileiros, ao lado de sua governança, gestão e controles.
Protasio,
um respeitado líder empresarial, completou: “a reforma da Previdência não deve
ser tratada em blocos separados, tudo deve ser discutido junto”. É a mesma
posição que a Abrapp já vem defendendo e voltou a repetir no evento, realizado
no Rio de Janeiro, há 2 dias : as mudanças não podem ser paramétricas, devem
ser estruturais, para ter chance de um real sucesso.
Teto mais
baixo -Nessa visão de conjunto, Tafner sugeriu a revisão para
baixo do teto do INSS, uma vez que uma previdência estatal “generosa”
quanto ao valor coberto não deixa espaço para o incremento da previdência
complementar. “E com isso, por acharem que o Estado por si só resolverá o
problema as pessoas não são de fato encorajadas a poupar, a guardar para a
aposentadoria”, observou.
Castro
tocou no mesmo ponto, notando que, na falta desse estímulo, a maioria dos
brasileiros entrega o seu futuro aos cuidados do governo, sem perceber os
riscos e os custos nisso envolvidos. Com exceção da parcela mais educada da
população, as pessoas em sua maior parte acreditam que “ganham” os benefícios,
quando na verdade pagam por eles, por força do ônus e da
ineficiência gerados pelo gigantismo do Estado, algo que impacta o conjunto da
economia brasileira.
Jovens - E os
jovens, sobre os quais recairão principalmente os ônus de uma previdência
desequilibrada no futuro, salientou José Ribeiro, são aparentemente os que
menos estão a par das discussões, desconhecendo os possíveis desdobramentos
desse desajuste daqui a duas ou três décadas à frente. Mas há ainda uma segunda
razão para que a juventude seja despertada: é essencial motivar os que estão
entrando agora no mercado de trabalho a ingressar em um fundo de pensão, uma
vez que dessa forma terão tempo suficiente para acumular em seus nomes reservas
suficientes para assegurar benefícios de maior valor, sem precisar fazer
contribuições elevadas para conseguir isso.
Os jovens
de fato precisam ser despertados, mas não apenas eles, reforçaram Tafner e
Castro, persuadidos de que se mostra fundamental atrair a população em geral
para esse tipo de debate. “A comunicação com a sociedade precisa melhorar”,
resumiu Tafner, por achar que é indispensável acabar com alguns mitos, como o
de que a manutenção das regras atuais é algo do interesse dos brasileiros mais
humildes. Isso não é verdade, diz. Continuar permitindo que as pessoas se
aposentem cedo só interessa a um público com perfil de maior renda, geralmente
aquelas pessoas com acesso mais fácil ao mercado formal e que ao final da vida
laborativa têm guardados os documentos que lhes permitirão solicitar com mais
facilidade a aposentadoria.
Pensar
com ousadia - Castro defendeu que se deve pensar na reforma da
Previdência com ousadia, focando no que pode ser a proposta ideal. “É preciso
ousar”, disse ele, “porque nas negociações que se seguirão os sonhos já serão
reduzidos à realidade”. Se o ponto de partida for modesto, ao final não
restará nada.
Uma das
expositoras do evento, Solange Vieira, ex-Secretária de Previdência
Complementar no governo FHC, afirmou que o estabelecimento de uma idade mínima
de aposentadoria aos 65 anos deve ser visto como o piso para se produzir um
certo equilíbrio nas contas da Previdência. Menos do que isso será
desequilíbrio na certa. “Se isso ocorrer agora, no ano que vem voltaremos a ter
de discutir a reforma da Previdência de novo”, comentou Solange, segundo quem a
“fórmula 85/95”, adotada em 2015 como alternativa ao fator previdenciário, só
fez piorar as coisas, chegando a elevar em 30% o valor inicial de alguns
benefícios solicitados.
Diante de tais resultados, disse Solange, melhor
teria sido proceder a ajustes no “fator previdenciário”. Sairia mais
barato e envolveria procedimentos menos complexos.
Diário dos Fundos de Pensão