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Temer e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, após jantar para tratar
da reforma da Previdência
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As negociações
sobre a reforma da Previdência trazem nova luz
sobre as dimensões do oportunismo do Congresso Nacional.
Comecemos pela
parte mais racional e inquestionável. Não há registro na história da humanidade
de um país que tenha atingido crescimento, elevação de níveis de educação,
renda, segurança e bem-estar, sem que atingisse equilíbrio fiscal. É simples.
Sem equilíbrio de contas, não há confiança, investimento, emprego, renda, nada.
Há um detalhe
importante na forma como a realidade fiscal é vista por investidores. A
situação atual importa menos que a situação projetada. Um país que tenha
situação fiscal sofrível, com um plano crível de recuperação, pode atrair mais
interesse e dinheiro do que um país que, mesmo com uma foto atual positiva,
mostre uma trajetória de deterioração.
Pois o Brasil tem
o pior dos dois mundos: um rombo histórico nas contas do presente, e
uma trajetória de rápida deterioração futura. Diante de tal quadro, o que você
esperaria que fizessem nossos parlamentares, já que eles têm o poder de tirar o
navio Brasil da rota de colisão com o iceberg? Que estivessem desesperados com
a situação, inexorável, e se pusessem a consertá-la? Pois pasmem, eles estão
fazendo o contrário. Estão tentando se aproveitar dessa situação para negociar
mais dinheiro para suas campanhas eleitorais, e cavando um buraco ainda maior
para o país e para os brasileiros.
As mudanças na
legislação eleitoral, aprovadas com pressa pelos parlamentares em outubro
último, criaram um dispositivo que engorda o Fundo Eleitoral à medida que se
aumentam as emendas de bancada –dinheiro transferido diretamente do Orçamento
nacional (nossos impostos) para alocações dirigidas por parlamentares. Sim, são
gastos adicionais –fala-se em R$ 30 bilhões– que geram outros gastos
adicionais, neste caso mais dinheiro para campanhas eleitorais. Se você está
achando que isso não faz sentido, que é indecente, que não é sustentável, que
piora as contas públicas e a representatividade ao mesmo tempo, você está
certo.
O Brasil havia
dado um importante passo na direção do equilíbrio das contas públicas ao aprovar a PEC do Teto, uma reforma que
limita os gastos do governo. O problema é que, com a trajetória de deficit
previdenciário crescente, esta reforma pode ser a primeira reforma a CAIR no
próximo governo, dado que os gastos previdenciários podem comer todo o
orçamento, inclusive o da saúde e o da educação. Se nada for feito agora, o
debate que vai permear o mandato do próximo presidente será o de anular as
reformas conquistadas neste. Não há nada tão ruim que não possa piorar,
principalmente com os parlamentares que temos.
Mesmo diante desse
quadro sombrio, parlamentares escolhem uma posição de barganha. Os partidos de
esquerda mantêm sua posição populista e irresponsável contra ajustes da
Previdência, com o discurso falacioso da perda de direitos. A novidade agora é
o PSDB, que bate seus próprios recordes de fisiologismo e covardia. Juntam-se
para levar o Brasil mais ao fundo do poço.
Em tempo –a
reforma da Previdência pretendida agora já está totalmente esvaziada. Ela não
resolve o problema todo, mas cria uma importante ponte para a próxima
legislatura, que vai ter que lidar com essa encrenca. Aqui entra você, como
eleitor: é de vital importância cobrar os candidatos à Presidência e o
Congresso sobre seu claro posicionamento em relação a este problema, que
compromete o futuro do país. Não aceite posições populistas.
O que fazer?
Acompanhar as barbáries e registrar seus autores, os oportunistas de plantão.
Registre cada nome, cada discurso populista, desses que travestem a rota de
colisão do país como uma "perda de direitos". Assegure-se que você,
com o voto e a influência nos seus meios, não permita que eles continuem no
poder, já que o principal poder que têm é o da destruição. E o seu, o de não os
reeleger